sexta-feira, abril 27, 2007

She's me!

Melhor panaceia para quem tem dores nas costas, não há! Embora o rir-se muito não ajude...

quinta-feira, abril 26, 2007

E para este meu vigésimo sexto ano... é: PESCAR!


Balanço Maior, o deste ano:

"Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa. Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar a luz caída, com paciência."

Pablo Neruda


Voltei. Há dois dias. Já.!?. Estive em Santiago de Compostela a trabalho. Regressei no dia dos meus anos, tinha que ser - embora não tivesse necessariamente... que ser, mas tinha... para mim. Não tinha era voltado cá. Fechado que esteve este espaço para o balanço da praxe (por alturas de aniversário, quero eu dizer). Um balanço bonito, mas meu, só meu: desconfio muitíssimo de astrologias e sabedorias afins.

Balanço Menor, o da ausência: viagens a Santiago: 1, dores: n, trabalho: n elevado a infinito, festas familiares de aniversário fora de prazo: 1, telefonemas: 3, mensagens: 12, amigos com falta de memória: 1, amigos-revelação: 1, desilusões: 1 que pesa n, prendas: isto tudo.

Eis por que decidi dedicar-me à pesca.

sábado, abril 21, 2007

Lunes...

... seré ahi. Creo que solo quando sea 26 años volveré... Hasta!!!

quinta-feira, abril 19, 2007

Da utilidade de um deus ex machina


Tenho amigos, muitos, que nem calculava (e que em rigor não mereço, creio!) - revelam-se e eu fico um bocadinho constrangida, acanhada, sem jeito... ou seja, fico muito 'eu' ao vivo e a cores... Coisas minhas, enfim!

Também tenho (porque sou possessiva, muito - dizem-me, por isso devo ser, nem sei, sou, acho que sou.) um anjo da guarda que imagino alto, loiríssimo e doce, candidamente másculo - coisas minhas! - que nunca vi (nem quero, senão ficaria um bocadinho constrangida, acanhada, sem jeito...), mas que prezo imenso, já que é de uma competência a toda a prova, digno de maiúscula em todas as letrinhas que compõem o seu nome, que deve ter, mas que desconheço. Também.

No décimo primeiro ano, na disciplina de Grego, elaborei um trabalho acerca do Teatro Clássico. Maravilhei-me com tudo o que aprendi: principais tragediógrafos (e comediógrafos), os recintos, as máscaras, a anagnórise, a catárse, os estásimos, o coro, o deus ex machina. Este último mecanismo sempre me fascinou. Ainda hoje, quando o vejo em situações do quotidiano lembro-me do trabalho que mo deu a conhecer, aos dezasseis anos.

No teatro grego a expressão deus ex machina era utilizada para designar uma personagem, uma situação ou um evento, artificial ou improvável, que é introduzida na cena para resolver um problema. O significado etimológico vem do facto de muitas peças na Antiga Grécia terminarem com a descida de um deus, através de um guindaste, até ao local da encenação. O mesmo deus amarraria nessa altura todas apontas soltas da história. Actualmente, o significado da expressão evoluiu e indica todo o desenvolvimento de uma história que é considerado inverosímil, que não tem em consideração a lógica interna da história, que termina com uma situação improvável.

O meu anjo é deus (ex machina) segundo o significado actual da expressão. Retira-me através de um guindaste invisível, mas eficaz, dos cenários mais potencialmente perigosos, sempre num ápice. Seja porque não percebo na hora o que me dizem (ou querem dar a entender) certas pessoas, seja porque perco o metro do costume, ou porque acho de ir por aqui e não por ali, ou porque inexplicavelmente resisto a algo impossível e impensável, seja porque a única coisa que me apetece fazer é sair imediatamente, mas sem fazer estrilho, de determinado lugar...

Na realidade, são tantas e tão variadas as situações, que nem me consigo recordar com exactidão de todas agora. Muito embora duas ou três desfilem automaticamente na memória.

Para a posteridade o dia (de ontem) em que tendo ido almoçar a Braga para ver, entre garfadas à pressa, três amigas, e tratar de uma série de questões burocráticas - tendo, consequentemente, passado a tarde a correr de um lado para o outro, não consegui arranjar um tempinho, nem me lembrei (!), de ir ao meu local de trabalho, perdão, à Faculdade - o meu local de trabalho é em casa, só vou a Faculdade uma vez por semana "prestar contas" - fintando assim, soube-o agora, a única pessoa que conheço que não entende a assertividade de um não. Ufa!

domingo, abril 15, 2007

O maluquinho do Círculo de Leitores

Ontem fui ao cinema. A minha irmã gosta do Zach Braff, que tem filme novo, fazia anos - não se podia contrariar, o centro comercial fica a dois (mais cinquenta) passos de casa, a minha outra irmã, do meio, queria desanuviar dos calhamaços de Medicina e eu já não conseguia olhar o meu pc de tanta nuvem que tinha nos olhos.
Fomos. As três, porque o meu irmão sacou do facto de ter aulas para se esquivar. Na realidade não tinha era vontadinha nenhuma de sair de casa antes do jantar. Chegámos. Trinta minutos antes da hora, que comigo ou é assim, ou não é. Não gosto de atrasos e as horas h desgastam-me imenso. Resultado: Tivemos que fazer tempo - expressão bonita! - o que até podia ter sido mais difícil, (eu detesto lojas de roupa, só entro numa quando tenho algo em mente, mas as minhas irmãs adoram, pelo que trinta minutos nunca seriam suficientes para o que quer que elas façam lá, nunca percebi bem...), se não houvesse uma Feira do Livro da Bertrand, com o apoio (?) do Círculo de Leitores, bem no andar anterior ao do cinema.
Assino a Revista do Círculo de Leitores. Porque gosto de ler e porque me dá jeito. Até gosto de algumas publicações deles. Há livros que só eles publicam e que são muito bons. Mesmo. A minha mãe é perita em descobrir, a tempo (não é como eu!), essas raridades. Mas pessoalmente, de algum tempo a esta parte, ando ficar-lhes com um pozinho! Primeiro, foi o esquema que montaram para que eu assinasse a Revista, uma coisa muito mal explicada numa edição da Feira do Livro cá do Porto. Caiu-me mal. Acabei por a assinar, apesar de a minha mãe já o fazer. Enfim...
Ontem, ontem foi o senhor, o rapaz, o homenzinho... encarregue de fazer assinar a mesma Revista, sempre a Revista!... Não sei que tipo de formação têm essas pessoas, mas a mim soa-me sempre ao conto do vigário misturado com algum tipo de taradice. Mais, devem ter aulas de sorriso no mesmo sítio que as pessoas que nos ligam para casa com o anúncio de um prémio cuja recepção depende de uma ida a um hotel qualquer, mas só acampanhada do cônjuge, sim?(Sorriso audível na prosódia.) "Não." É assim tão difícil de perceber?
Um Não é um Não. Naturalmente assertivo. Definitivo. Sério. Solene. Sincero. Verdadeiro. Ninguém diz "Não" em situação nenhuma, de ânimo leve. Creio. Há um problema com os meus nãos. Nunca ninguém os leva a sério. Normalmente, para passar a mensagem, preciso de ser indelicada - o que não me agrada nem um pouco...
"A menina está interessada na Revista do Círculo de Leitores, nós temos...?" Sorriso educado: "Não. É que..." Não me deixou continuar. "Mas já tem?" "Já." Faz-me cara de quem não acredita, tão portuguesa esta ignorância de "O-cliente-tem-sempre-razão", ou pior, cara de mas-tu-achas-que-me-enganas? "Ignorei a cara de tu... e disse: "Já, desde a Feira do Livro de..." E voltei-me para os livros. Não desiste, ele. Passa à minha irmã mais nova, que lhe responde: "Já temos, ela já lhe disse que já tínhamos..." Ele: "Mas, não percebo..." "Somos irmãs." - respondem dezanove anos e três quartos de ingenuidade. "E aquela menina, também?" "Sim." - tornam os mesmos quase vinte. "São todas muito bonitas...!"-seguido do olhar mais assustadoramente babão do século. Nesta altura a minha tolerância acabou: "Não percebo o nexo de causalidade entre a sua função, que é vender livros, certo e o que acaba de dizer, quer explicar-me? Nesta altura já me devia sair fumo pelos cabelos. Ainda bem que não retorquiu. Muito mal anda o Círculo de Leitores. Ou eu.

sábado, abril 14, 2007

A mais bela aglutinação da língua Portuguesa



Diago.



De fazer esquecer as 5000 páginas e nascer, da espessa névoa de dois olhos minúsculizados pelas horas frente ao écran do computador, o sorriso mais maiúsculo do mundo. Quem disse que analisar documentos de Português Antigo era mau?! Nada disso! Aos Tiagos e aos Diogos da minha vida.

sexta-feira, abril 13, 2007

A idade

Sentir-me cansada e velha, é usual. Sinto-o todos os dias, muitas vezes ao dia. São os meus alunos do estágio que frequentam este ano o primeiro ano da Universidade, são os meus alunos da Faculdade que foram posteriormente professores dos meus alunos do estágio, são os meus colegas e algumas das minhas amigas que efectivaram há algum tempo lá longe, são os meus colegas outros que iniciaram uma mais ou menos bem sucedida actividade por conta própria, são as minhas amigas outras ainda que casaram ou vão casando - conforme..., são algumas das mesmas colegas que estão de quatro meses e meio... é a minha irmã mais nova, Piquininha do meu coração, que completa hoje vinte anos - saiu finalmente dos teens!!! (Isto sem contar que daqui a um mês aproximadamente, os meus dois manos do meio serão para o mundo finalistas...)
É como se houvesse uma contagem decrescente constante... Não gosto.

quinta-feira, abril 12, 2007

Centro Cultural de Vila Flor - Guimarães



Viver numa ilha tem muitas vantagens e outraS tantas desvantagens. É costume enunciar-se na ordem inversa, mas esta pareceu-me a mais adequada. Gosto, apesar de tudo, da minha ilha. E o apesar é aqui, entre outras coisas, a incapacidade de se imaginar o Robin Hood em animado torneio contra o Sherriff de Nottingham pela Marion ou a Rapunzel a fazer a sua longa trança descer as ameias de um castelo que não sejam... o nosso quarto! É caso para escrever a enormidade do dia: Faz falta a Idade Média, à Madeira! Enormidade que me bailava na cabeça um dia destes no cimo do Castelo de Guimarães.
Há tempos fui a Guimarães e se pasmei ante o Castelo e surpreendi-me a cada ruela, típica, que dobrava, fiquei fascinada com o Centro Cultural de Vila Flor - uma aposta da Câmara local na cultura. Surpreendente, num país como o nosso em que projectos desta envergadura escasseiam.
É notável por um lado o trabalho arquitectónico de recuperação dos espaços e dos edifícios de elevado valor patrimonial, e por outro a disponibilização e o acesso dos cidadãos aos mesmos, veículo que são de arte e cultura.
A minha irmã foi lá tocar, mas as actividades do centro não se resumem à música, também há teatro, poesia, um restaurante e um café-jazz, uns jardins lindíssimos e uma vista absolutamente deslumbrante...
A revisitar, definitivamente!
Mais em:

quarta-feira, abril 11, 2007

Serviço (im)públ(d)ico de informação

Ela
Ele
Amanhã vai aparecer em tudo o que é serviço noticioso, jornal, pasquim e blog certamente; como já não os consigo ouvir, adianto-me eu. Agora.

Ela diz qualquer coisa como: "Costuma também telefonar a empresários para os convidar a investir em Portugal...? O Primeiro responde que sim e diz mais qualquer coisa para enfatizar a sua proactividade, ou melhor, a proactividade do homem político eleito pelos cidadãos, blá, blá... quando é logo interrompido, abruptamente, rudemente, por Ela: "... pois, só não consegue impedir greves...!"
Eu: ..........................???????????????????????????????????????????????
Ele: "Não acha estranho confiarem na sua palavra apenas e não num documento?" O Primeiro responde que isso é procedimento que julga ser comum nas Universidades (verdade!) e que assim que dão entrada os documentos é que o Plano de Estudos é formalizado e entregue ao aluno. Ele: Vamos esclarecer uma outra questão... Ela, logo: Questão, não insinuação, senhor Primeiro. (O Primeiro tinha referido que gostaria de explicar as insinuações veiculadas pela comunicação social nos últimos dias, Ela - a Rainha/virgem ofendida da Comunicação Social não conseguiu esconder o despeito). O Primeiro dá um sorriso rápido e sem mais, explica. Mas Ele volta à carga: "Não acha estranho que quatro professores lancem as suas notas no mesmo dia e ... não acha estranho que os serviços académicos...?"
Eu: ....................??????????????????????????????????????????????????
(Sim, porque o Primeiro é enquanto aluno do pós Laboral, de dia Deputado da AR na oposição, o responsável pelos serviços académicos do ISEL, da UnI e de todas as Universidades do país. Sim, porque o primeiro é o responsável pela disponibilidade dos professores das Universidades do país. (Era bom!)
Não tenho nada a favor, nem contra o Primeiro. Voto sempre mas em liberdade - literalmente em liberdade, não tenho cores (só azul e branco!) e as ideologias são mais filosóficas que políticas. Não me interessam minimamente as habilitações do Primeiro. Interessar-me-ia aferir da sua honestidade enquanto homem político - de resto como seria ideal em relação a todos os que nos representam -, mas isso só se fosse a Fada Sininho, porque com esta entrevista... nada!
Passei a ter muito contra Ela e Ele porque esperava mais, esperava uma postura e uma preparação diferentes; ensinei uma vez que a principal característica de um texto jornalístico é a Objectividade e defini-a pelo rigor, pela racionalidade, pela coerência e pela isenção. E defendi a profissão de jornalista que considero nobre - e não é apenas por ter pessoas da família na área - mas porque muitas vezes é chamada de atenção e/ou garante de respeito pelos direitos pessoa humana (honra, reputação, dignidade com interdição de injuriar ou difamar), garante pelo respeito da privacidade no respeito às regras deontológicas e éticas.
Espero que depois de ter vindo para cá o nível da entrevista se tenha elevado, mas não creio. Não percebi nada, ou melhor, percebi que, como sempre, somos um país de fuinhas reles; e que o Primeiro fez o trabalho de casa. Como sempre, também. E foi só. Infelizmente.
Onde será que Ela e Ele tiraram o curso? Fazia-lhes bem tirar qualquer coisinha na minha (daqui a muito tempo, se chegar a Primeira, o Ele e a Ela jrs bombardear-me-ão com este possessivo certamente) Católica - formação integral da pessoa humana, got it?

Vergonhoso.

terça-feira, abril 10, 2007

Quatro Hélders, um pascal...

Sempre quis escrever um post assim. Sempre, sempre não. Sempre quis contar a história de dois meus alunos, por acaso com o mesmo nome - Hélder. Depois, por aqui, conheci um outro - Hélder, com uma teoria fantástica que tem a admirável capacidade de abrir um sorriso, largo, rasgado, a todas as Joanas do mundo, teoria devidamente fundamentada na vida e explicada num post com um título adorável que eu não vou usurpar.
O primeiro Hélder entrou na minha vida no Secundário. Era o seminarista mais bonito da turma, o aluno mais cobiçado das Humanidades, aquele por quem todas as meninas suspiravam... Era um dos mais problemáticos seres humanos que já alguma vez conheci em toda a minha vida. Também. De rastos emocionalmente, inseguro, carente, nervoso, saudosista, temeroso... Irracionalmente ancorado num passado distante, para ele continuamente presente, agrilhoado a uma pessoa que não podia ter. Na minha casa é recordado pelo aperto de mão caloroso, e quente - literalmente quente, que deu ao meus irmãos mais novos, num certo dia de chuva em que os levei à minha Escola. Para mim há-de ser sempre uns enormes olhos azuis a pedirem, à sacieade, por luz ao mesmo tempo que se mergulham na escuridão.
O segundo Hélder foi o da Faculdade, um daqueles senhores doutores de nada que formam troupes - espero que se escreva assim - e confundem autoridade com falta de respeito em nome de uma mais fácil integração no meio académico francamente duvidosa. Felizmente, este era dos passivos, ou seja, fazia parte da coisa, mas não praxava ninguém. Ia às actividades, observava, ria-se e a coisa fica por aí. Menos mal. Custou menos tratá-lo como colega quando as aulas a sério começaram. Colega sim, que o número de matrículas do dito era inversamente proporcional às cadeiras feitas. Como colega sempre cordial, amigo das minhas amigas e, consequentemente, inevitavelmente, lá para o fim do ano que eu sou difícil, meu amigo também. Daquelas amizades de Faculdade que de amizade pouco têm, mas que dá jeito que sejam, especialmente para ele, no fim de semestre.
O terceiro Hélder foi o do estágio. O miúdo mais displicente que alguma vez tive numa turma. Nunca mais me esqueço do desconcertante (sim desconcertante ao extremo, para quem não mede 86-60-86, veste discretíssimamente e tem uma postura como a minha) "Oh professora, salte para cima da mesa mas é e faça um strip!" de permeio com os "Ai!... Já perdi cinco euros" em resposta aos meus bons dias, da aula assitida que me estragou com impertinências, do "Não lhe admito, a stôra Joana é que é minha prof, não tenho que lhe obedecer a si, só a ela! Só a ela, está a ouvir?!" e subsequentes ameaças à integridade física do carro do meu Orientador... Nunca mais me esqueço do meu estoicismo, às vezes verdadeiramente hercúleo, para respirar fundo e ignorar e prosseguir com as aulas, ano fora, quando o que queria mesmo era marcar-lhe falta e expulsá-lo e fazer participações e procedimentos afins. Queria eu, paradoxalmente, porque muito mais que ele, provar a mim própria que o miúdo valia a pena. Coisas que só vinte e um anos de vida e nenhum de experiência docente explicam. Mas o facto é que valia mesmo! De resto, como toda a gente. (No Conselho de Turma em que o próprio estava presente como um dos representantes da turma - estratégia falhada para o tornar responsável - e em que os demais professores competiam a ver quem arranjava o pior e/ou o maior número de adjectivos negativos para o rapaz, limitei-me a dizer generalidades acerca da turma e ele percebeu. Então, quando coube ao próprio fazer a apreciação dos professores, não houve adjectivo positivo do - inaceitavelmente reduzido - vocabulário dele que não me encaixasse.) Era no fundo um miúdo amoroso, mas extremamente carente, desgostoso consigo próprio e com o mundo, com imensos problemas de afirmação e uma paixoneta pela única professora que se recusou a responder à irreverência com força ou amargura, ou ambas, enfim... um miúdo a crescer!
No fim do estágio voltei à Faculdade, desta vez para dar aulas e nessa altura reencontrei o Hélder número dois, transfigurado em tudo menos na reluctância em acabar o curso. Um noivado de nove anos que tinha chegado ao fim, um rol extensíssimo de apressadas relações naturalmente falhadas e o um olhar perdido, opaco, igualzinho ao do Hélder número um. (Muito azar têm os Hélders com as mulheres!) Meu colega no primeiro e no segundo ano do meu curso, meu aluno quatro anos depois, quando decidia aparecer, nos intervalos de intensa actividade praxística (agora praxava, era até o mais importante dos doutores de nada) e social, na generalidade.
Muitas situações na vida são complicadas: olharmos nos olhos de certas pessoas e termos que dizer não porque é melhor assim, especialmente para elas; desviarmos o olhar de certas pessoas porque é melhor assim, especialmente para elas; quebrarmos o contacto com certas pessoas porque é melhor assim, especialmente para elas; deixarmos livres certas pessoas porque é melhor assim, especialmente para elas; falarmos e rirmos e concordarmos quando se sabe perfeitamente que o nosso interlocutor não sente nada do que diz, pensa o oposto e di-lo a todos excepto a nós; fingirmos que não percebemos provocações, jogos mentais e piadas e indirectas (graças a Deus raramente as entendo no momento, por isso sou perita na contraposição) e a isso responder-se com um sorriso (sempre, instantanea, imediatamente!), um assentimento mais ou menos efusivo - dependendo da pessoa e/ou da gravidade da afirmação -, ou uma pergunta sobre o tempo ou sobre a bola. São situações complicadas porque constrangem, obrigam uma pessoa a ser quem não é, o que não é, em nome de uma convenção, de uma norma social silente que em rigor pouca razão tem de ser.
Passar de colega de Faculdade para aluno de Faculdade, a porta da sala de aula para dentro não me parece uma delas. Não encaixa em nenhuma das situações que enunciei. Pelo menos para mim, que para o meu amigo Hélder essa transição foi mais que dramática, foi de facto impossível! Encarou o meu trabalho como uma afronta pessoal. Consigo percebê-lo mas só até certo ponto. É até natural, ter podido praxar-me, ter sido meu colega, termos ido aos mesmos jantares, às mesmas festas de aniversário, partilharmos amigos e agora ter que passar sob a minha lupa, o meu escrutínio infalível.
Tentei falar com ele. Clarificar (e enfatizar) a largueza do perímetro do tu por oposição ao "você" restrito às instalações da Faculdade. Não me deixou explicar. "Já sei, claro, tem que ser mesmo assim. Não precisas de me explicar nada, então Joana, sem problema..." Mas o problema continuou. Viu-se. Continuava a faltar, fugia assim que me via entrar no bar, deixou de ir aos aniversários...
A meio do ano tive de deixar de assinalar as presenças de todos, de outro modo não o poderia levar a exame, mas a beneficiência ficou por aí, tinha que ser profissional, tinha sessenta olhos postos em todos os meus procedimentos no que ao Hélder dizia respeito. Perdi-lhe o rasto, mas sei que me acusa de ter sido mais exigente com ele do que com o resto da turma, ainda hoje. Uma complicação.
O último Hélder, o quatro, é amigo dos meus irmãos mais novos. Também é da Madeira, já se conhecem desde o Conservatório. Um miúdo adorável que é só olhos quando fala do cravo que foi comprar há tempos à Alemanha e do futuro da Música Antiga em Portugal. De conversa fácil, com uma noção de moralidade e uma ética invulgares para a idade e uma sede invejável de saber, de lugares, de pessoas, de Mundo... Arrasta-nos muitas vezes para os seus passeios de im de semana, Braga, Espinho, Guimarães, "... porque vocês já conhecem e assim mostram-me, é sempre importante conhecer!"
Estive muito doente esta Páscoa. Vieram muitos amigos dos meus irmãos, colegas do Conservatório da Madeira cá para o Porto e teve lugar o almoço de reunião mais complicado de marcar da História da Humanidade. "No Sábado o Hélder não pode, no Domingo o pessoal de Aveiro não pode, na Sexta a A. não pode..." Enfim... Apesar de convidada, não fui, não estava em condições. Fui às celebrações do triduo Pascal e só eu e Deus (e os meus irmãos talvez) sabem o que me custou.
No Sábado, descobrimos o impedimento do Hélder, a razão porque não ia a casa nestas férias, o compromisso, o segredo. Ia, no dia em que o mais usual é acolhermos os novos cristãos, fazer a Primeira Comunhão. Não tinha dito nada a ninguém. Por desejo de privacidade, por vergonha, por constrangimento, por falta de coragem... não sei. Mas no fim não nos escapou, levou os quatro abraços mais apertados da História (também!) e um convite para passar o Domingo de Páscoa connosco. Na casa dos milhentos cds e dvds e dos ziliões de livros (e de quatro pessoas muito sui generis também!)
Foi a melhor Páscoa de toda a gente, até hoje!
Ah, Páscoa para mim, este ano mais que nunca, foi isto:

domingo, abril 08, 2007

quarta-feira, abril 04, 2007

Marcar, marcar, marcar... e não são golos!

-"E é para ti, o texto? Não admira, tu marcas as pessoas..."
-...

Não sei. Se marco. Se é para mim. Na realidade, sei muito pouco.

Sei que as pessoas me marcam, definitivamente, todas, mais ou menos indelevelmente. Sei que de quando em vez tenho uma desilusão e sei que me esforço por sair dela com a mesma inocência que a plantou no meu caminho. Porque assim é que as coisas devem ser. Porque a vida nao é fácil e a amargura não ajuda. Sei que por vezes sou muito, demasiado, maternal, e que isso leva frequentemente a malentendidos acerca do meu carácter e da minha personalidade.

Sei que me esforço por tratar as pessoas como gostaria que me tratassem, embora sem esperar disso um retorno de qualquer espécie - na generalidade. Porque sei que exijo naturalmente, quase inconscientemente, mais do que a maioria das pessoas pode dar. E sei as consequências que daqui advêm.

Sei o que são silêncios bons e conheço o silêncio. De cor. Eu sei.

Eu sei.


terça-feira, abril 03, 2007

Alguém se lembra...

... daquele rapaz garboso, comissário de bordo da TAP, que fazia furor há uns dois anitos em tudo o que era festa e consecutivamente imprensa cor de rosa, o ex da Isabel Figueiras, depois ex da Rita Andrade, um ente que dá pelo nome de Pedro Alberto?

Ainda vive. Serviu-me esta manhã o pequeno-almoço.

segunda-feira, abril 02, 2007

Dia Internacional do Livro Infantil


Começou o melhor mês do ano: Abril! Mês dos livros. Mês da Primavera. O meu mês.
Tenho por meus cerca de 250 filhos de outros, miúdos e graúdos que cativei, ou tentei, cativar para o conhecimento. Pela leitura. Necessariamente, pela leitura. Não tenho, ainda, nenhum a quem possa ler uma história hoje; para quem tem, aqui vai a reflexão para este dia:

Nunca me hei-de esquecer de como aprendi a ler. Quando era menina, as palavras escapuliam-se diante dos meus olhos como pequenos escaravelhos negros cheios de pressa. Mas eu era mais inteligente do que elas. Aprendi a reconhecê-las apesar de tentarem escapar-me velozmente. Até que, por fim, consegui abrir os livros e entender o que lá estava escrito. Sozinha, tornei-me capaz de ler contos, histórias engraçadas e poemas.
No entanto tive surpresas. A leitura deu-me poder sobre os contos e de alguma forma também deu aos contos um certo poder sobre mim. Nunca lhes pude escapar. Isso faz parte do mistério da leitura.
Uma pessoa abre um livro, acolhe e compreende as palavras e, se a história for boa, ela explode dentro de nós.
Aqueles escaravelhos que correm em linha recta de um lado para o outro da página em branco convertem-se primeiro em palavras e, logo a seguir, em imagens e acontecimentos mágicos. Ainda que certas histórias pareçam nada ter que ver com a vida real, ainda que nos conduzam a surpresas de toda a espécie e se distendam em múltiplas possibilidades,
para um lado e para o outro, como pastilhas elásticas, no final as histórias que são boas devolvem-nos a nós mesmos.
São feitas de palavras, e todos os seres humanos sonham ter aventuras com as palavras.
Quase todos começamos como ouvintes. Ainda bebés, as nossas mães e os nossos pais brincam connosco, dizem-nos rimas, tocam-nos as mãos («Pico pico maçarico quem te deu tamanho bico…») ou põem-nos a bater palmas («Palminhas, palminhas…»). Os jogos com palavras são ditos em voz alta e, quando somos crianças, escutamo-los e
rimos com eles. Logo a seguir aprendemos a ler os caracteres impressos na página branca e, mesmo quando lemos em silêncio, há uma certa voz que está presente. A quem pertence esta voz? Pode ser a tua própria voz, a voz do leitor. Mas é mais do que isso. É a voz da história que vem do interior do próprio leitor.
É claro que há hoje muitas maneiras de contar uma história. Os filmes e a televisão têm histórias para contar, embora não usem a linguagem da maneira como o fazem os livros. Os escritores que trabalham em guiões de televisão ou de cinema são obrigados a utilizar poucas palavras. «Deixem as imagens contar a história», dizem os especialistas.
Muitas vezes vemos televisão na companhia de outras pessoas, mas quando lemos quase sempre estamos sós.
Vivemos numa época em que o mundo está cheio de livros. Mergulhar nos livros à procura de alguma coisa, lendo-os e relendo-os, faz parte da viagem de cada leitor. A aventura do leitor consiste em descobrir, nessa selva de caracteres impressos, uma história tão vibrante que o transforme como que por magia. Uma história tão apaixonante e misteriosa que mude a sua vida. Creio que cada leitor vive para esse momento em que de súbito o mundo de todos os dias se altera um pouco, abre espaço a uma nova piada, a uma ideia nova, àquela nova possibilidade que é dada a uma determinada verdade de se exprimir pelo poder das palavras. «Sim, isto é mesmo verdade!», exclama aquela voz dentro de nós.
«Estou a reconhecer-te!» A leitura é verdadeiramente apaixonante, não acham?


Margaret Mahy


MARGARET MAHY nasceu em Whakatane, Nova Zelândia, em 1936. Bibliotecária, decidiu dedicar-se a tempo inteiro à escrita, em 1980. Escreveu obras dirigidas a diferentes idades, cultivando géneros que vão do álbum para crianças pequenas ao romance juvenil, passando pela poesia e pelo texto dramático. É uma das mais premiadas escritoras da Nova Zelândia, tendo sido distinguida, em 2006, com o Prémio Hans Christian Andersen do International Board on Books for Young People (IBBY), o mais importante galardão mundial atribuído a um autor de literatura para crianças e jovens. Marcada pela riqueza poética da linguagem, a escrita de Mahy tem logrado exprimir, por vezes de modo metafórico mas sempre com extraordinária autenticidade, a experiência da infância e da adolescência. Encontra-se traduzida em numerosos idiomas, incluindo o português (O Rapaz dos Hipopótamos, Livros Horizonte).
Outros títulos que publicou: Catálogo do Universo, Lembrança, Um Leão no Prado, O Homem cuja Mãe Era Pirata.


A Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil é uma iniciativa do IBBY (International Board on Books for Young People), difundida em Portugal pela APPLIJ (Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil) – Secção Portuguesa do
IBBY.