quarta-feira, outubro 31, 2007

Happy Halloween!

O ano passado foi assim...
http://substante.blogspot.com/2006/11/halloween-at-rice-linguistics_03.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/white-sleeve-of-nutty-scientist-corpse.html
http://substante.blogspot.com/2006/11/goodies-brought-by-nutty-scientist.html

Estava nos EUA... Este ano, por cá, há demasiado para fazer... Fica a lembrança.

terça-feira, outubro 30, 2007

sexta-feira, outubro 26, 2007

Gosto

Ia a subir a Rua de Santa Catarina. Já estava bem lá no topo. Ia para casa. Do nada, do outro lado da rua, gritam: "Oh não-sei-dos-quantos estás a roubar o stôr?" À minha frente um acanhado adolescente, acanhado e encolhido dentro de um casaco caqui, encapuzado dentro do mesmo - andam todos assim agora - fala com um homem relativamente jovem. Insistem os brincalhões do outro lado: "Oh stôr, o não-sei-dos-quantos anda a roubá-lo?" Riem-se. "Nada disso, nada disso." Ri-se. Volta à conversa. (...) "Mas stôr ela não gosta de mim, não gosta, stôr." "Está bem, mas ouve..."

Gosto de stôres assim.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Todos Iguais, quando?


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio

António Gedeão

Lemos vezes sem conta o poema. Inicialmente os miúdos não percebem, os miúdos. A miúdas emocionam-se logo, à primeira leitura, emocionam-se, relêem, trelêem. Querem explicar aos colegas. Querem falar. Têm muito para dizer. Coisas de mulher, acho eu. Volta-se a ler, explica-se, as meninas ajudam, toda a gente se rende. No fim. A questão é importante, não passa despercebida, nem mesmo num meio tão pouco cosmopolita como é o do interior norte. Rendem-se sempre. Nunca o contrário me aconteceu numa turma. Rendem-se às palavras. Por atitudes. Não passam a ver diferente, mas vêem mais além. É o bom de se ler este poema na altura certa, no sétimo ano, ou no oitavo – já nem sei bem... Não sei como fazem em casa, com os pais, os primos, os amigos mais velhos, se calhar não fazem nada, manda a lei do mais forte, mas se se lembrarem do poema quando forem eles os mais fortes cumpri a minha função. Social.

Às vezes penso que já fui alvo de racismo: no meu semestre em Paris quando milhentos alguéns se surpreendiam porque o nível do meu francês era excelente e isso não era “português”, ou quando um outro alguém execrável, perdão uma renomadíssima, professora de Latim da Sorbonne se recusou a aceitar que eu tivesse telemóvel e vivesse em Montparnasse porque isso não era de todo “português” e o nome não engana. Ou quando estive em Londres e a companhia aérea achou de arrumar os únicos três portugueses do voo no fim do avião, uma filinha só para nós, bem juntinhos, longe dos brits. Se calhar foi só discriminação – não o será toda a forma de racismo? Se calhar estou a fazer um filme – faço muitos, é do que faço mais e melhor. Mas no meu íntimo jaz aquele incómodo perene do “E se...” que é bem capaz de ter sido.

Tenho uma simpatia especial pela diáspora. Portuguesa, claro, mas por toda e qualquer uma. Já vivi em muitos sítios. Já estive muito tempo fora de casa. Já passei por muitas situações e já vi muita coisa. Não acredito que alguém saia da sua casa, da sua cidade, do seu país porque quer. Não acredito mesmo. Não há lugar como a nossa casa. Esteja ela na nossa cidade natal ou noutro qualquer recanto do país ou do mundo. Não acredito que uma pessoa que saia da sua casa porque quer. Sai porque precisa. Porque a sua casa não lhe dá as condições que merece, as possibilidades a que aspira, o direito ao sonho. Condições, direitos e possibilidades que ninguém, em nenhum lugar do mundo, tem o poder, não falemos sequer em direito, de dissipar. E não se trata de demagogia, o El-Dorado existe mesmo – pode não ser (apenas) os EUA, curiosamente nos dois semestres que lá passei, no estado mais conservador da nação, fui optimamente acolhida –, mas lá que existe, existe – acredito mesmo nisto.

Somos todos feitos do mesmo. Um homem, a Humanidade. O bem de um é o bem de todos, o mal de um, o de todos.

Não será possível ler ao rufia que agrediu gratuitamente uma miúda, adolescente, no metro de Barcelona o poema de António Gedeão, já não tem treze anos, é porventura tarde; de resto devem libertá-lo hoje, daqui a umas horas, antes ou depois disso ponham-no, ao menos, a ver o América Proibida, por favor. A bem da Humanidade.

http://pt.wikipedia.org/wiki/American_History_X

terça-feira, outubro 23, 2007

Duas pessoas, um segredo de palavras

Aquelas palavras eram minhas e eram dela. Aqueles nomes eram meus e estavam dentro de mim, como estavam dentro dela. Éramos duas pessoas que tinham um segredo de palavras. Éramos duas pessoas que, ao longe, tinham partilhado um instante. Éramos duas pessoas. Tudo em nós era igual. Se a língua que aprendêramos em crianças era diferente, esse era um detalhe muito pequeno, porque partilhávamos o mundo e o significado das palavras. E, no entanto, as palavras que eu dissera, que eu escrevera, eram diferentes das palavras que ela entendera, longe, num país distante, porque éramos duas pessoas e as pessoas são diferentes, mas partilham o mundo, o significado das palavras, e essa partilha tem exactamente a mesma importância para todos os que são felizes e são tristes.


José Luis Peixoto, A Casa, A Escuridão

segunda-feira, outubro 22, 2007

Sem tempo

O tempo pergunta ao tempo
quanto tempo o tempo tem.
E o tempo responde ao tempo
que o tempo tem tanto tempo
quanto tempo o tempo tem.

sábado, outubro 20, 2007

Cantar?




Só se for isto.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Haja bom juízo!


Foto: Raul Marinho


Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.


São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.


Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.


São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.


Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.


Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

in, Garras dos sentidos, Agustina Bessa-Luís

quarta-feira, outubro 17, 2007

2 em cada 6 pessoas morrem à fome, hoje....


... LEVANTA-TE CONTRA A POBREZA!


O Município de Braga é uma das entidades parceiras da organização da "Semana Objectivo 2015", iniciativa que procura impulsionar os cidadãos a exigir aos seus líderes políticos o cumprimento, até aquela data, dos compromissos assumidos na designada "Declaração do Milénio", ou seja, incentivar políticas públicas, tanto em países ricos como em países pobres, que tenham impacto positivo no desenvolvimento sustentável dos países mais desfavorecidos.



A "Semana Objectivo 2015", a primeira do género em Portugal, decorre até 17 de Outubro, sendo promovida localmente, além da Câmara Municipal de Braga, pela Comissão Justiça e Paz, Associação Académica da Universidade do Minho, Caritas Diocesana, Confederação Nacional de Acção sobre o Trabalho Infantil, Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa e Federação das Associações Juvenis de Braga.

Neste contexto, várias escolas do concelho vão marcar esta acção com a exibição de faixas brancas – símbolo do combate à pobreza global – e com outras actividades.

No âmbito de uma mostra de cinema documental, que tem por palco a Videoteca Municipal, alguma escolas secundárias participam igualmente nas sessões da tarde, assistindo a documentários que vão servir de tema para posterior trabalho escolar.

De igual forma, estão previstos passeios, bailes e festas em que o combate à pobreza será devidamente assinalado.

A "Semana Objectivo 2015" culmina no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, com a iniciativa global "Levanta-te e Faz-te Ouvir Contra a Pobreza e Pelos Objectivos do Milénio" (17 de Outubro, 10h00, Avenida Central).

Os eventos do "Levanta-te e Faz-te Ouvir" serão espontaneamente organizados por grupos de pessoas que vão levantar-se e fazer-se ouvir, entre as 21h00 de 16 de Outubro e as 21h00 do dia seguinte, demonstrando, assim, o seu apoio através da participação num movimento social que se propõe juntar milhões de vozes a nível global.

No ano passado, mais de 23 milhões de pessoas associaram-se a este momento, o que permitiu estabelecer um novo recorde mundial, que se pretende seja ultrapassado este

Para conhecer a programação das várias iniciativas a desenvolver neste contexto, aceda a:

http://www.objectivo2015.org/pdf/programa.pdf .

terça-feira, outubro 16, 2007

Proibido esquecer



Quando o poeta disse: "As palavras estão gastas" não se enganava. As palavras estão gastas. Na verdade, as palavras sempre estiveram gastas. São gastas, as palavras. São gastas, são ocas, são vazias, são etéreas, são barro, são pó, são nada. Nada. Nada são, nada valem. De nada servem. Para nada servem. Totalmente desprovidas de valor em si, geradas por justaposição, uma amálgama de signos miserável. Um nada.
E no entanto, um dia, decerto no início dos tempos, convencionou-se o oposto. São tudo: sol, céu, colo, revolta, sopro de vida, esperança, amparo, luta, sonho... Depois desse dia, muitas e muitas vezes, as palavras regressaram à sua original vaguidade. Sinais dos tempos.
Porque agora poucas vozes são capazes de encher as palavras de valor, é proibido esquecer Adriano Correia de Oliveira.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Blog Action Day



On October 15th, bloggers around the web will unite to put a single important issue on everyone’s mind - the environment. Every blogger will post about the environment in their own way and relating to their own topic. Our aim is to get everyone talking towards a better future.

Alguns dias deviam ser feriado.
O dia de aniversário da minha mãe devia ser feriado. (Já o disse.) O dia do meu aniversário devia ser feriado. (Digo-o agora.) E hoje. Hoje devia ser feriado. (Digo-o todos os anos durante mais de uma semana.) Hoje, 15 de Outubro, dia do nascimento do Baía, dia do nascimento do Nietzsche. (Bem, dia do nascimento de tantos outras figuras, anónimas ou não, mas que não me dizem tanto como estes dois.)
O Nietzsche caiu-me ao colo no décimo segundo ano. A Origem da Tragédia. Em Filosofia. Desde esse Março de 98 esse Nietzsche, de vinte e um anos, idealista, absolutamente apaixonado pela cultura clássica e apaixonante permanece, não à cabeceira, mas quase, na mesa de trabalho.
Do Baía, do Baía já escrevi muito por aqui. Para não me repetir...

http://substante.blogspot.com/2006/03/maxime-gnoto-deo.html

Quanto ao ambiente - o ambiente não faz anos hoje, fez há dias, graças ao Mr. Al Gore - aposto que vai ser mais falado que todos os nados neste dia, e muito melhor do que eu em relação aos senhores acima!

Duvidam? Então, passem por aqui:

http://testaravida.com/2007/10/15/blog-action-day/#comment-10363

quinta-feira, outubro 11, 2007

Do Outono


Os Outonos da minha vida misturam-se com os Outubros-começo-de-aulas da minha infância. Na Madeira, as aulas começavam sempre em Outubro, agora já não, mas há vinte e um anos atrás foi em Outubro que fui para a escola pela primeira vez.
Foi em Outubro que calcei as minhas primeiras galochas, cor de rosa clarinho, bem bonitas por sinal, foi em Outubro que estreei o meu guarda-chuva cor de laranja, único companheiro de brincadeiras infantis - que eu nunca fui menina de bonecas, nem peluches, nem carinhos, nem chávenas, bules e fogões; só livros e tintas e o dito guarda-chuva. E era em Outubro, a cada Outubro, que surgia um impermeável novo. Logo, Outubro é sinónimo de chuva, lama, muita lama, que há vinte anos atrás as estradas já eram boas, mas não são o que são hoje, vento muito vento, vento que uiva e fustiga as árvores que balançam exageradamente para me saudar, guarda-chuvas que se viram ao contrário em protesto, bátegas de água que me molham o cabelo e descompõem as tranças, cabelos que se soltam e, inquietos, se encaracolam com medo do cinzento do dia, ou da chuva, ou do vento, ou de tudo, mesmo no interior quentinho da sala de aula.
Não é a minha estação do ano predilecta, o Outono. Mas tem castanhas. E por elas tenho especial adoração. Porque o Outono não é apenas uma sucessão de Outubros pelos tempos dos tempos. Não. O Outono dá-me Novembros de castanhas a estalar de mãos escurecidas, mas sempre quentinhas para as minhas, quase sempre frias, impacientes, à espera daquele aconchego aninhado, escondido, no interior das páginas amarelas de uma antiga lista telefónica, tal como me aninho e me encolho dentro do casaco ou da sobreposição deles, depende do dia. E assim o triste Outono, pequeno, frio, despido de folhas, enche-se de cor, bem, pelo menos de sabor. E calor. E o calor sabe sempre ao sítio em que deixámos o coração, a nossa casa, feita de pais e irmãos ou namorados ou amigos, ou, se tivermos sorte, todos eles, e isso torna-o quase a melhor estação do ano. (E tudo graças às castanhas!)
Mas um dia, é sempre assim, um belo dia, num dia específico lá para os finais de um Setembro que já foi mas não esqueço, o meu Outono transfigurou-se. Arrumou a tristeza, pôs as castanhas assadas no fundo da prateleira das coisas que dão graça às estações do ano, e, à sua frente, bem à vista de todos, colocou os beijos. Ele dizia que os dele eram melhores no Outono, viciavam, e que achava que os meus olhos lhe lembravam o Outono e não via tristeza nas folhas que voavam ao vento no Outono, nem no frio do Outono, nem nas tardes cinzentas de Outono passadas na companhia de uma certa rapariga de olhos castanhos, cor de Outono!... Depois ria-se, baixinho às vezes, e acrescentava que quando mudasse a estação, haveria de proclamar o mesmo. "Mas no fundo tenho razão." - concluia. "Razão? Acerca de quê?" "Acerca dos beijos!"

E os meus Outonos continuam pequenos, frios, cinzentos, despidos de folhas, repletos de castanhas quentinhas. E, todavia, desde então, nunca mais, iguais.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Mundos e cheiros


Regressei hoje. De casa, da ilha, para o trabalho, para Braga, para a Universidade, para as correrias, o metro, o comboio, para cá. Para o corre-corre de sempre com retorno certo no fim do dia à cidade onde teimo em deixar o coração.

De casa trago uma data de recordações - acontece invariavelmente assim quando venho da ilha: lá, a cada esquina dobrada surge um amigo, um conhecido, uma colega de escola, os amigos das irmãs, os amigos recentes mas grandes, a educadora favorita do infantário, o filho da professora-inspiração do sétimo ano, enfim um sem número de pessoas que formam a manta de retalhos a que chamamos vida, por vezes demasiado curta para nos cobrirmos, por vezes demasiado pesada para levarmos connosco para todo o lado, todavia sempre única, sempre nossa, para o bem e para o mal.

Nestas minhas escapadelas até à ilha, quando a saúde da minha mãe não nos prega uma partida, costumamos, eu e ela, fazer uns trabalhinhos de mãos na varanda ao fim da tarde, porque o tempo convida, a vista da nossa varanda, o pôr-do-sol e o mar também. Trabalhos que eu acho lindíssimos e que ela repudia consideravelmente porque teve que fazer muitos, a contra-gosto, na juventude. Mas, porque eu gosto, me relaxa e me distrai, ela lá vai me acompanhando. Desta vez não foi excepção e acabadas as linhas, e porque ela estava a trabalhar, indicou-me a loja mais indicada para comprar as ditas, fez-me decorar o número e a marca, porque um bordado-madeira só é digno desse nome se uma data de coisas estiver nos conformes, entre as quais obviamente as linhas. facilmente encontrei a tal loja. Uma lojinha situada numa célebre rua do centro do Funchal, comércio tradicional no seu melhor, entro, acabo rapidamente a conversa que estava a ter ao telemóvel, dirijo-me ao balcão e dou de caras com a Isabel.

Muita, boa e má, Isabel há na minha vida, mas de todas esta foi a primeira que conheci, minha coleguinha do quinto ano, nunca mais me esqueci dela, até porque por uma palermice, nem sei qual agora, incompatibilizou-se comigo a meados daquele ano escolar. Resultado: sempre que nos cruzávamos ela emitia um som muito característico, igualzinho ao de um spray em utilização. A claríssima e pérfida alusão não colhia - se há coisa que me caracteriza é a ausência de maus odores corporais, sempre foi assim, toda a gente se admira, ninguém sabe explicar, mas enfim... coisas estranhas - Por isso, pela injustiça, pela ignomínia, magoou-me profundamente. E nunca chegámos a resolver o nosso diferendo - esse ano na escola pública justifcava-se pela exiguidade de vagas no Colégio onde haveria de ingressar no sexto ano e permaneceria.

Agora, ali, frente a ela, morena, pequenina, igualzinha, tudo isto me veio ao pensamento, num ápice, milhões de imagens a desfilar; o mesmo se passaria com ela, tive quase a certeza ao sorrir-lhe, não me retribui, encaracola-se, olha para baixo, ocupa-se com uma minudência qualquer; respeito o constrangimento, entendo-o, espero por uma outra funcionária, faço o pedido, obtenho o que quero, pago, saio. Não olho para trás, não gosto disso. Tudo tem um timing, o que é importante tem um timing e é dito, preferencialmente, olhos nos olhos, em alguns casos, mão na mão. Este não era um desses casos, em definitivo.

No entanto, fiquei triste. Foi muito triste toda a situação actual, muito mais, mil vezes mais que o nosso passado. Ainda agora revejo aquele encaracolar-se, aquele meter-se no seu mundo pequenino por causa de um meu, maior apenas na cabeça dela, vejo aquela fronteira a traçar-se, quase palpável entre nós, vejo, vezes sem conta. Como se habitássemos mundos diferentes, para a eternidade irreconciliáveis. Não gosto disso. É como a história da esperteza saloia que erradica as diferenças entre brancos e pretos numa sala de aula para a substituir pelos meninos mais azuis e os menos azuis. O azul é uma cor linda, mas somos todos feitos do mesmo, devíamos ser todos um - digo eu.

Esta noite, sensivelmente a meio do trajecto entre Braga e Porto, entra no comboio um grupo de romenos. Os homens juntam-se a outros dois que já estavam sentados há duas ou três paragens nas quatro cadeiras opostas às em que me encontrava eu e a minha mala, que também necessita de assento, mercê do peso das fotocópias. As mulheres, querendo também participar da conversa e da risota, normal entre conterrâneos em terra alheia, que haveria de tomar lugar ali, sentam-se comigo. Não tenho nada contra os romenos, tenho muito carinho por todos os emigrantes e qualquer pessoa que não esteja no seu país pelas mais variadas razões porque não há lugar como a nossa casa, ou pelo menos aquele cantinho onde nos ficou o coração, mas uma coisa é certa: aquelas pessoas tresandavam a lixo. Lixo, não suor, não falta de banho, lixo. Não sei se era lixo o que transportavam nos sacos imensos que traziam, a custo, às costas, mas era esse o odor que exalavam e que se pespegou à nossa carruagem até ao fim da viagem. Sei que podia ter mudado de sítio, devia - dizem-me. De facto teria evitado um mal-estar, um constrangimento, um hercúleo trabalho de auto-controlo para não vomitar, nem fazer cara feia, três coisas e meia que não me foram muito leves.

No entanto, gosto de entender, quis tentar perceber o porquê daquilo. Razões culturais, problemas sociais, motivações pessoais... (No fim, não consegui perceber.) Quatro homens que falam muito e se riem ainda mais, um que vai repetindo o nome de cada apeadeiro no seu melhor português, uma mulher sem rosto, só com costas, ao meu lado; um olhar quase infantil, frontal mas triste, pintado por um indisfarçável lampejo de cobiça em relação ao meu Swatch Scuba, efectivamente já velhote, que eu podia de boa vontade dar, tenho outro, mais bonito até, cor de rosa, mas até dava os dois, conheço-me: daqui a nada compro outro, posso dar, ao contrário da menina, que tem no pulso um branquinho, bonito até, cor e bracelete da moda, mas parado.

Não percebi muito, mas tenho para mim que o mundo que eu utopicamente pretendo único para todos não existe - a não ser para mim -, porque as pessoas preferem criar mundos próprios, do tipo bola de sabão gigante acabadinha de soprar em redor, que nada têm a ver com os mundos interiores que habitam toda a alma humana, mas que dão jeito quando o medo seca a saliva e as palavras e que, ocasionalmente, impõem, tipo bolha que se rebenta para os devidos efeitos, aos outros quando se crêem destituídos de tudo.

terça-feira, outubro 09, 2007

"Telefonaste, bebé?"

Há dias assim. Bons.

quinta-feira, outubro 04, 2007

HOJE

Hoje a minha mãe faz anos.
Devia ser feriado, regional pelo menos. Mas não. Foi trabalhar de manhã, teve chatices - como sempre quando se trabalha com gente, seis dezenas de adolescentes para ser mais precisa - voltou a casa à hora do almoço, comemos a sopinha que eu preparei - estamos de dieta as duas - (especialmente porque logo há lauto banquete e bolinho de aniversário com creme, muito creme, até mais não.)
Hoje a minha mãe faz anos.
E depois do jantar vou ver o David. A minha mãe não entende, mas o meu pai agradece o serão a dois. Agradece muito. Ao David, especialmente.
Hoje a minha mãe faz anos.
E vou chegar tarde a casa. E amanhã vamos de fim de semana prolongado não sei para onde. O meu pai é que sabe. Porque não aceitou nenhuma das minhas sugestões. Deve ter alguma coisa em mente. Ou se calhar coisa nenhuma e ficamos em casa os três os três dias.
Hoje a minha mãe faz anos.
E toda esta semana me tenho sentido criança. Feliiiiiiiiiiiiiiiiiiiizzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!!!!!!!!!!!! Como só em criança se pode ser. Com direito a bolinho predilecto trazido, quentinho, todos os dias pela mamã. Com direito a pratos predilectos confeccionados pelo papá. Com direito a preguiça e chocolates, e mimo, mimo e ainda mais... mimo.
Hoje a minha mãe faz anos.
E tenho de me ir embora porque tenho uma série de coisas, bonitas, para fazer antes de ela chegar, daqui a menos de três horas.
E, depois de ler este post na horizontal, é óbvio, sou muito totó, mas... fazer o quê? Além do que, nisto de totice, saio toda à minha mãe. Que faz anos HOJE.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Amanhã.


Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.
Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã. Amanhã.

terça-feira, outubro 02, 2007

Por causa de ontem

AJ, Funchal, 2003
NJ, AJ e PC, Castelo Branco, 2003

NJ, Castelo Branco 2003

AJ, Castelo Branco, 2003


Do fundo do baú. E da memória.


segunda-feira, outubro 01, 2007

Delicioso

Saudações musicais??? Que foleiro! Eu queria era um beijo!