Aeroporto de Frankfurt, 16 de Maio de 2006 10:05 hora local
Houston fica por enquanto na bruma opaca da memória. Até Agosto.
É verdade que passei o tempo todo com saudades do Porto, manifestei-o abertamente, preocupei muitos, surpreendi todos (até o meu ego!). Custou-me. Mas nos últimos dias no Lone Star State (vulgo, Texas), na minha “casa”, no departamento, nos trajectos matutino e vespertino diários, o meu olhar autonomizou-se para se demorar nos pormenores, numa derradeira e sempre renovada tentativa de fixar momentos e emoções, as saudades de Houston – isso mesmo, leram bem: dos chapéus, das botas, dos coletes, das estrelas, dos cowboys, da comida mexicana, indiana, tailandesa, das saladas, dos Frapuccinos Green Tea da Starbucks, das Bookstores, dos meus colegas e amigos, dos meus vizinhos – começavam a apertar-me o peito…
Adapto-me muito facilmente a qualquer situação, quem me conhece diz que não parece, mas, chegado o momento, surpreende-se. Sempre. É verdade. Não sou esquisita. Mas, francamente, abomino pessoas que tornam a vida difícil ao próximo. (O próximo sou sempre EU, nomeadamente em diáspora.) Não sei como e nem percebo bem porquê, o facto é que a minha cicerone, whoever-wherever-whenever, é sempre universalmente considerada óptima pessoa, a mais altruísta, a mais aberta, a mais divertida, a melhor profissionalmente, a mais indicada para a integração mais fácil e rápida, a melhor pessoa – “O que é que eu disse?” – todavia, por razões que ultrapassam a própria Razão, creio, surge sempre um antagonismo qualquer que a contagia e então incompatibiliza-se comigo, sem nunca mo dizer, mas pregando, aos quatro ventos, mundos e fundos acerca da minha pessoa, em vez de ir à sua vidinha, pequena e cinza, e me deixar sossegada. Complicam-me terrivelmente a vida, estas cicerones. Sempre! Começo a ficar saturada. Enfim… “As respostas que os outros nos dão dizem muito mais sobre eles próprios do que sobre nós”, repito constantemente para mim mesma. Pode ser que um dia acredite… Creio que as saudades de Portugal se ficaram a dever em grande parte a essas desventuras. Claro que também se deveram ao facto de ter travado conhecimento (e amizade) com outros portugueses e o poder mágico da língua, a partir de então usada todas as sextas ao almoço por entre gargalhadas e suspiros, me ter recordado o sentir português e lembrado que um oceano é uma manta de muitos quilómetros sem nenhuma esquina que se possa dobrar facilmente (ou não), como dobrámos o Bojador.
Há um aforismo latino que diz algo como: “Não merece o doce quem não provou o amargo.” Pois, por isso mesmo é que temo que agora os posts sejam menos regulares. Vou embrenhar-me no doce, edredão-sofá-manos-amigos-esplanadas-jardins-livros, e não saio de lá tão cedo. Vou voar, agarrar o azul, beber luz, tocar o céu, apanhar sol, tornar-me mar. Vou aproveitar estes dias mornos para dar um pontapé à chuva e ao frio, sair com os meus amigos, divertir-me, rir até me doerem os abdominais, trabalhar também, é certo, mas menos. Vou reconstruir-me por dentro que é para isso que servem os regressos aos sítios onde somos realmente felizes.
O lugar a que chamamos casa é na verdade onde está o nosso coração.
Houston fica por enquanto na bruma opaca da memória. Até Agosto.
É verdade que passei o tempo todo com saudades do Porto, manifestei-o abertamente, preocupei muitos, surpreendi todos (até o meu ego!). Custou-me. Mas nos últimos dias no Lone Star State (vulgo, Texas), na minha “casa”, no departamento, nos trajectos matutino e vespertino diários, o meu olhar autonomizou-se para se demorar nos pormenores, numa derradeira e sempre renovada tentativa de fixar momentos e emoções, as saudades de Houston – isso mesmo, leram bem: dos chapéus, das botas, dos coletes, das estrelas, dos cowboys, da comida mexicana, indiana, tailandesa, das saladas, dos Frapuccinos Green Tea da Starbucks, das Bookstores, dos meus colegas e amigos, dos meus vizinhos – começavam a apertar-me o peito…
Adapto-me muito facilmente a qualquer situação, quem me conhece diz que não parece, mas, chegado o momento, surpreende-se. Sempre. É verdade. Não sou esquisita. Mas, francamente, abomino pessoas que tornam a vida difícil ao próximo. (O próximo sou sempre EU, nomeadamente em diáspora.) Não sei como e nem percebo bem porquê, o facto é que a minha cicerone, whoever-wherever-whenever, é sempre universalmente considerada óptima pessoa, a mais altruísta, a mais aberta, a mais divertida, a melhor profissionalmente, a mais indicada para a integração mais fácil e rápida, a melhor pessoa – “O que é que eu disse?” – todavia, por razões que ultrapassam a própria Razão, creio, surge sempre um antagonismo qualquer que a contagia e então incompatibiliza-se comigo, sem nunca mo dizer, mas pregando, aos quatro ventos, mundos e fundos acerca da minha pessoa, em vez de ir à sua vidinha, pequena e cinza, e me deixar sossegada. Complicam-me terrivelmente a vida, estas cicerones. Sempre! Começo a ficar saturada. Enfim… “As respostas que os outros nos dão dizem muito mais sobre eles próprios do que sobre nós”, repito constantemente para mim mesma. Pode ser que um dia acredite… Creio que as saudades de Portugal se ficaram a dever em grande parte a essas desventuras. Claro que também se deveram ao facto de ter travado conhecimento (e amizade) com outros portugueses e o poder mágico da língua, a partir de então usada todas as sextas ao almoço por entre gargalhadas e suspiros, me ter recordado o sentir português e lembrado que um oceano é uma manta de muitos quilómetros sem nenhuma esquina que se possa dobrar facilmente (ou não), como dobrámos o Bojador.
Há um aforismo latino que diz algo como: “Não merece o doce quem não provou o amargo.” Pois, por isso mesmo é que temo que agora os posts sejam menos regulares. Vou embrenhar-me no doce, edredão-sofá-manos-amigos-esplanadas-jardins-livros, e não saio de lá tão cedo. Vou voar, agarrar o azul, beber luz, tocar o céu, apanhar sol, tornar-me mar. Vou aproveitar estes dias mornos para dar um pontapé à chuva e ao frio, sair com os meus amigos, divertir-me, rir até me doerem os abdominais, trabalhar também, é certo, mas menos. Vou reconstruir-me por dentro que é para isso que servem os regressos aos sítios onde somos realmente felizes.
O lugar a que chamamos casa é na verdade onde está o nosso coração.
Muito boas intenções, como sempre!
Depois, o trabalho fala mais alto e os amigos... passam para o plano em que têm razão para se queixar...