De um More Than Words antigo
No décimo primeiro ano fiz parte do jornal da escola. Éramos uma equipa de seis: a Lena, a Cátia, a Cláudia, a Nisa, o Márcio e eu, todos muito certinhos, cada um encarregue da sua secção do jornal, eu estava encarregue das etimologias, lembro-me bem disso, a Lena escrevia o Editorial, a Nisa qualquer coisa sobre Ciências, o Márcio tinha a seu cargo o grafismo, a Cátia e a Cláudia não recordo, mas quase aposto que seleccionavam os textos para publicação, porque tinham ambas grande gosto pela leitura e alguns dotes literários.
O jornal foi uma grande coisa para mim, que nunca fui de amizades fáceis, porque permitiu o travar conhecimento com a Nisa e o Márcio, das áreas das Ciências e Informática, eles que eram amigos das minhas amigas Cátia e Cláudia. A Nisa e o Márcio eram namorados. O Márcio era o presidente da Associação de Estudantes lá da escola. Era do décimo segundo ano e impressionava toda a gente com o seu brio e profissionalismo na Associação. Só muito mais tarde é que soubemos que ele era portossantense – uma espécie de alentejano cá do sítio – mas nem isso conseguiu fazer mossa à reputação do rapaz que se dava bem com toda a gente – quando não estava com a Nisa, fazia uma perninha na rádio da escola – quando não estava com a Nisa, tocava guitarra, naturalmente… para a Nisa.
Certo dia, devia ser o aniversário deles, mas não já sei ao certo, no intervalo grande, o Márcio calou a rádio da escola, para tocar, ele próprio, e cantar, para a Nisa, o More Than Words dos Extreme. E acho que não há dezasseis anos que sejam imunes a uma manifestação tão bonita. Os meus, pelo menos, não foram. E passei o que restava da adolescência a sonhar com um More Than Words só para mim. Depois os Extreme passaram de moda, transformei o More Than Words em canção, No teu Poema, E Depois Do Adeus… Depois o More Than Words tornou-se piroso, a canção, qualquer canção que grita que é nossa em cada palavra e em cada silêncio… piroso. Depois ocorreu-me poema. Um poema. Mas um poema custa. As palavras inteiras são difíceis, algumas, as meias palavras, mais fáceis, mas pouco claras e, que digo?!,... já ninguém escreve poemas! Chega a ser mais piroso que… o More Than Words dos Extreme! A adolescência acabou. E com ela, as canções e os poemas e as flores que se põem no cabelo e duram uma tarde de sol. Acabou a adolescência - já disse.
No décimo primeiro ano fiz parte do jornal da escola. Éramos uma equipa de seis: a Lena, a Cátia, a Cláudia, a Nisa, o Márcio e eu, todos muito certinhos, cada um encarregue da sua secção do jornal, eu estava encarregue das etimologias, lembro-me bem disso, a Lena escrevia o Editorial, a Nisa qualquer coisa sobre Ciências, o Márcio tinha a seu cargo o grafismo, a Cátia e a Cláudia não recordo, mas quase aposto que seleccionavam os textos para publicação, porque tinham ambas grande gosto pela leitura e alguns dotes literários.
O jornal foi uma grande coisa para mim, que nunca fui de amizades fáceis, porque permitiu o travar conhecimento com a Nisa e o Márcio, das áreas das Ciências e Informática, eles que eram amigos das minhas amigas Cátia e Cláudia. A Nisa e o Márcio eram namorados. O Márcio era o presidente da Associação de Estudantes lá da escola. Era do décimo segundo ano e impressionava toda a gente com o seu brio e profissionalismo na Associação. Só muito mais tarde é que soubemos que ele era portossantense – uma espécie de alentejano cá do sítio – mas nem isso conseguiu fazer mossa à reputação do rapaz que se dava bem com toda a gente – quando não estava com a Nisa, fazia uma perninha na rádio da escola – quando não estava com a Nisa, tocava guitarra, naturalmente… para a Nisa.
Certo dia, devia ser o aniversário deles, mas não já sei ao certo, no intervalo grande, o Márcio calou a rádio da escola, para tocar, ele próprio, e cantar, para a Nisa, o More Than Words dos Extreme. E acho que não há dezasseis anos que sejam imunes a uma manifestação tão bonita. Os meus, pelo menos, não foram. E passei o que restava da adolescência a sonhar com um More Than Words só para mim. Depois os Extreme passaram de moda, transformei o More Than Words em canção, No teu Poema, E Depois Do Adeus… Depois o More Than Words tornou-se piroso, a canção, qualquer canção que grita que é nossa em cada palavra e em cada silêncio… piroso. Depois ocorreu-me poema. Um poema. Mas um poema custa. As palavras inteiras são difíceis, algumas, as meias palavras, mais fáceis, mas pouco claras e, que digo?!,... já ninguém escreve poemas! Chega a ser mais piroso que… o More Than Words dos Extreme! A adolescência acabou. E com ela, as canções e os poemas e as flores que se põem no cabelo e duram uma tarde de sol. Acabou a adolescência - já disse.
Parece que logo há concerto dos Extreme e eu, se pudesse, se tivesse dezasseis anos, ou melhor, se ainda tivesse a sorte de sentir, pensar, viver, adolescente, ia até lá. Não vou. O Márcio não vai. Continuou com a Informática – foi para o Técnico, e com a guitarra – encontrei-o algumas vezes em Braga quando ia aos Festivais de Tunas. Sem a Nisa. A Nisa não vai. Continuou nas Ciências, é Enfermeira, ainda há tempos nos cruzámos no Funchal. Sem o Márcio. Eu não ia, não vou. Mas a música fica por cá.