quarta-feira, novembro 30, 2011

Do dia - 8

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"I came in with Halley's Comet in 1835. It is coming again next year (1910), and I expect to go out with it. It will be the greatest disappointment of my life if I don't go out with Halley's Comet. The Almighty has said, no doubt: "Now here are these two unaccountable freaks; they came in together, they must go out together."



Mark Twain
A Biography

terça-feira, novembro 29, 2011

Coisas do outro mundo - 3


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As Borboletas

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

E as pretas então...
Que escuridão!

Vinicius de Moraes

sábado, novembro 26, 2011

O Mundo no Chão

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O Mundo no Chão, de Nuno Casimiro e João Vaz de Carvalho (Bags of Books), é lançado daqui a poucas horas na livraria Pó dos Livros, em Lisboa. Andreia Brites fará a apresentação, com a presença dos autores do livro. O encontro é às 11h00 da manhã. Vemo-nos lá.

sexta-feira, novembro 25, 2011

quinta-feira, novembro 24, 2011

Em dia de protesto, um adeus singular

Da navegação - 5


“___________a primeira imagem do Diário não é, para mim, o repouso na vida quotidiana, mas uma constelação de imagens, caminhando todas as constelações umas sobre as outras. Qualquer aprendiz imagético, quando sobe ao meu quarto e atravessa o meu escritório, tem o sentimento de que «um belo lixo de imagens se criou aqui». Se for menos inocente dirá: «que belo luxo de imagens». Eu diria: aqui está a raiz de qualquer livro.”


Maria Gabriela Llansol
"A Raiz de Qualquer Livro"
in Uma data em cada mão - Livro de Horas I
Assírio e Alvim
2009

quarta-feira, novembro 23, 2011

O Amor em Visita

(...)

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.

Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

(...)


Herberto Helder

De outras Joanas - 11

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"Keepers of private notebooks are a different breed altogether, lonely and resistant rearrangers of things, anxious malcontents, children afflicted apparently at birth with some presentiment of loss."



Joan Didion
"On Keeping a Notebook" (1966)
in Slouching Towards Bethlehem
1969
Andre Deutch

segunda-feira, novembro 21, 2011

De um dever

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É o actual dono da minha livraria predilecta, onde me perco de cada vez que vou a casa dos meus pais, faz hoje 80 anos mas conta com 165 anos de prática de livraria - 50 do avô, 50 do pai e 65 seus.

Pelo seu justo reconhecimento, está a aberta uma subscrição aqui até às 24.00 de hoje.

Participem!

domingo, novembro 20, 2011

Do infinito

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"There are two ways through life: the way of nature and the way of grace. You have to choose which one you'll follow. Grace doesn't try to please itself. Accepts being slighted, forgotten, disliked. Accepts insults and injuries. Nature only wants to please itself. Get others to please it too. Likes to lord it over them. To have its own way. It finds reasons to be unhappy when all the world is shining around it. And love is smiling through all things. The nuns taught us that no one who loves the way of grace ever comes to a bad end."

The Tree of Life (2011)

sábado, novembro 19, 2011

Desta manhã bonita em que repouso - 4

Flower Light (s/d), Yuichi Hasegawa (1945 - )


quinta-feira, novembro 17, 2011

quarta-feira, novembro 16, 2011

Saudades do futuro




"Há dentro de nós uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."


José Saramago
Todos Os Nomes
Caminho
2007

terça-feira, novembro 15, 2011

segunda-feira, novembro 14, 2011

domingo, novembro 13, 2011

Dedication

Czeslaw Milosz (1911 - 2004)
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You whom I could not save
Listen to me.
Try to understand this simple speech as I would be ashamed of another.
I swear, there is in me no wizardry of words.
I speak to you with silence like a cloud or a tree.

What strengthened me, for you was lethal.
You mixed up farewell to an epoch with the beginning of a new one,
Inspiration of hatred with lyrical beauty;
Blind force with accomplished shape.

Here is a valley of shallow Polish rivers. And an immense bridge
Going into white fog. Here is a broken city;
And the wind throws the screams of gulls on your grave
When I am talking with you.

What is poetry which does not save
Nations or people?
A connivance with official lies,
A song of drunkards whose throats will be cut in a moment,
Readings for sophomore girls.
That I wanted good poetry without knowing it,
That I discovered, late, its salutary aim,
In this and only this I find salvation.

They used to pour millet on graves or poppy seeds
To feed the dead who would come disguised as birds.
I put this book here for you, who once lived
So that you should visit us no more.


Warsaw, 1945

Czeslaw Milosz
The Collected Poems: 1931-1987