quarta-feira, outubro 29, 2008

Uma canção, um poema, uma flor

De um More Than Words antigo

No décimo primeiro ano fiz parte do jornal da escola. Éramos uma equipa de seis: a Lena, a Cátia, a Cláudia, a Nisa, o Márcio e eu, todos muito certinhos, cada um encarregue da sua secção do jornal, eu estava encarregue das etimologias, lembro-me bem disso, a Lena escrevia o Editorial, a Nisa qualquer coisa sobre Ciências, o Márcio tinha a seu cargo o grafismo, a Cátia e a Cláudia não recordo, mas quase aposto que seleccionavam os textos para publicação, porque tinham ambas grande gosto pela leitura e alguns dotes literários.
O jornal foi uma grande coisa para mim, que nunca fui de amizades fáceis, porque permitiu o travar conhecimento com a Nisa e o Márcio, das áreas das Ciências e Informática, eles que eram amigos das minhas amigas Cátia e Cláudia. A Nisa e o Márcio eram namorados. O Márcio era o presidente da Associação de Estudantes lá da escola. Era do décimo segundo ano e impressionava toda a gente com o seu brio e profissionalismo na Associação. Só muito mais tarde é que soubemos que ele era portossantense – uma espécie de alentejano cá do sítio – mas nem isso conseguiu fazer mossa à reputação do rapaz que se dava bem com toda a gente – quando não estava com a Nisa, fazia uma perninha na rádio da escola – quando não estava com a Nisa, tocava guitarra, naturalmente… para a Nisa.
Certo dia, devia ser o aniversário deles, mas não já sei ao certo, no intervalo grande, o Márcio calou a rádio da escola, para tocar, ele próprio, e cantar, para a Nisa, o More Than Words dos Extreme. E acho que não há dezasseis anos que sejam imunes a uma manifestação tão bonita. Os meus, pelo menos, não foram. E passei o que restava da adolescência a sonhar com um More Than Words só para mim. Depois os Extreme passaram de moda, transformei o More Than Words em canção, No teu Poema, E Depois Do Adeus… Depois o More Than Words tornou-se piroso, a canção, qualquer canção que grita que é nossa em cada palavra e em cada silêncio… piroso. Depois ocorreu-me poema. Um poema. Mas um poema custa. As palavras inteiras são difíceis, algumas, as meias palavras, mais fáceis, mas pouco claras e, que digo?!,... já ninguém escreve poemas! Chega a ser mais piroso que… o More Than Words dos Extreme! A adolescência acabou. E com ela, as canções e os poemas e as flores que se põem no cabelo e duram uma tarde de sol. Acabou a adolescência - já disse.

Parece que logo há concerto dos Extreme e eu, se pudesse, se tivesse dezasseis anos, ou melhor, se ainda tivesse a sorte de sentir, pensar, viver, adolescente, ia até lá. Não vou. O Márcio não vai. Continuou com a Informática – foi para o Técnico, e com a guitarra – encontrei-o algumas vezes em Braga quando ia aos Festivais de Tunas. Sem a Nisa. A Nisa não vai. Continuou nas Ciências, é Enfermeira, ainda há tempos nos cruzámos no Funchal. Sem o Márcio. Eu não ia, não vou. Mas a música fica por cá.


quinta-feira, outubro 16, 2008

O tempo de casa

A Natalie, minha senhoria em Houston, disse-me uma vez: “Os filhos são como os pais, não os temos para sempre, por isso mais vale passarmos algum tempo, quality time, com eles, enquanto isso ainda é possível.”

A Natalie é da Bolívia, na realidade chama-se Natália, e dizia-me isso para justificar uma ausência de dez dias em que ia visitar a filha a NY. A Natalie é da Bolívia, mas apenas de nascimento, que aos dezoito veio para os EUA e aos vinte casou com um americano e aos vinte e três veio morar para o Texas onde teve a filha e nunca mais, desde então, regressou à Bolívia, nem quer, nem quer, mais de cinquenta anos volvidos. O nome diz tudo. Os nomes dizem sempre tudo.

E a Natalie também, entre uma aula de ioga e o lanche, banana e iogurte, que comia nas escadas antes da seguinte, a Natalie dizia-me, muitas vezes, muitas coisas.

A ideia do quality time with family and beloved ones é como a Natalie, muito americana; já o facto de os pais serem como os filhos na temporaridade em que estão connosco soa-me muito a América Latina no seu melhor: herdeira de Espanhas, de sextas depois do almoço, Portugais de almoços de Domingo em família e Itálias de padrinhos (e, bem lá atrás, do paterfamilias...)

Estou em casa. Estou na casa dos meus pais – assim é que é. (Com o tempo fui cultivando muitas casas e nenhuma é mais casa que outra, que eu sou eu, eu apenas, eu feliz, em todas.) A única diferença entre esta casa onde escrevo agora e todas as outras é o tempo. O tempo de casa.

Medem-se os anos, os meses, os dias, as horas, os minutos. Mas não é desse tempo-medida que falo. O tempo de casa, desta minha casa, é o tempo dentro do tempo que se mede em horas e dias. Aquele tempo mais dentro, aquele tempo que demora um beijo ou uma conversa ou um sorriso.

O tempo de Domingo, por exemplo. Domingo de manhã, bem cedo, às nove, vamos à missa. No fim, passamos pelo mercadinho da paróquia, depois, o meu pai lembra-nos do café, tem que se ir ao café, tem que se ler o jornal, (e... tem que ser no sítio do costume porque temos um sistema muito próprio de ler o jornal os três – na realidade, esquartejamo-lo: cada um lê primeiro a secção que lhe interessa, depois vamos rodando, mas no fim, manda o civismo, damos-lhe a ordem costumeira –) escusado será dizer que nisto se chega à uma da tarde. Às vezes, vamos buscar o almoço a outro sítio mais ou menos do costume, outras vezes faço-o eu, ou a minha mãe, ou o meu pai, conforme.

Também há o tempo dos fins de tarde. É o tempo que começa quando a minha mãe chega do trabalho, muda de roupa, põe um agasalho e diz-me que está na hora. As horas fazem o tempo. Está na hora daquele tempo só nosso para conversar. Do tempo em que a vida, nos seus nadas e nos seus tudos, nos entretém e aflige e diverte. As melhores tardes da minha vida são estas, em que a minha mãe deixa por instantes os seus lavores para me espreitar por cima dos óculos e começar a sua gargalhada típica ou dizer aquela palavrinha ou lançar aquele desafio. E depois cai a noite e vamos jantar e...

O tempo desta minha casa é o tempo dentro do tempo que se mede em horas e dias. Aquele tempo mais dentro, aquele tempo que demora um beijo ou uma conversa ou um sorriso.

Entre o tempo para trabalhar e o tempo para estar com os meus pais, o tempo em faço uma compota – é Outono – e o tempo em que saio com algum amigo – matar saudades é preciso – não há quase tempo para escrever. E quase não havendo tempo para escrever, não há novidades por cá, apesar de as haver sempre. Quase não havendo tempo ... voilá!

quarta-feira, outubro 01, 2008

1 de Outubro - Dia Mundial da Música


A Orquestra de Câmara Portuguesa, agora em residência no CCB, esta temporada estreia-se com um programa dedicado a Holliger, Schumann e Brahms.
5 Out 2008 - 19:00
CCB - GRANDE AUDITÓRIO

A abrir o concerto vai estar o sublime Ostinato Funebre do compositor e oboísta suíço Heinz Holliger.
Em seguida, será interpretada a versão original, de 1841, da 4.ª Sinfonia de Robert Schumann.
Esta versão da obra, raramente interpretada, é de uma espontaneidade cristalina,
Adequada ao espírito interpretativo da OCP.

Na 2.ª parte do concerto ouviremos a 1.ª Sinfonia de J. Brahms, cuja composição demorou cerca
de 20 anos, estreando finalmente em 1876.

Num programa que celebra o Outono e a música de cariz germânico,
a OCP inicia assim da melhor forma a sua segunda temporada, sob a batuta do seu director artístico
e maestro titular, Pedro Carneiro.

ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA
PEDRO CARNEIRO direcção

PROGRAMA
-Heinz HOLLIGER (n. 1939)
Ostinato Funebre
-Robert SCHUMANN (1810-1856)
4.ª Sinfonia
-Johannes BRAHMS (1833-1897)
1.ª Sinfonia



Gravação
DEVIDO À GRAVAÇÃO DESTE CONCERTO, PEDE-SE AO PÚBLICO
QUE COMPAREÇA NA SALA 15 MINUTOS ANTES DO INÍCIO DO ESPECTÁCULO.
NÃO É PERMITIDA A ENTRADA APÓS O INÍCIO DO CONCERTO.