Para a Mónica.
Grilhões e Asas. Para todos GRILHÕES. Para mim ASAS. Sempre. Apenas e tão só.
As palavras são como grilhões.
Ostracizam-nos, prendem-nos, magoam-nos, subjugam-nos e reduzem-nos a uma insignificância, para muitos, inaceitável.
As palavras são como asas.
Libertam-nos, permitem-nos pairar sobre o mundo e sonhar. E sonhando, viver em paz, viver feliz.
A maior parte das pessoas esquece esta dupla função das palavras e, centrando-se no facto de elas poderem causar dor, fogem-lhes como fugiria o diabo de uma cruz. (Fugiria?) Então, fogem à demoníaca palavra-mágoa-dor, esquecendo-se que é delas próprias que fogem, das suas falhas, das suas inseguranças, dos seus castelos de areia com telhados de vidro que mascaram com aço e o gelo do silêncio, dos sorrisos e das respostas politicamente correctas.
E quando, alguém inocente ou estúpido como eu, provoca quase inconscientemente uma situação em que têm que falar, desatam a correr, metem pela Rua do Medo, dobram a Esquina do Escuro e permanencem no breu de um tunel que elas próprias criaram, curvadas sobre si próprias, de costas voltadas e olhos fechados à luz que se agita lá ao fundo. É mais confortável, é mais seguro, pensam.
Falar é difícil. Falar não é conversar, tagarelar, coscuvilhar, responder, inquirir, indagar, replicar, nem sequer discutir. Falar é olhar nos olhos, trocar silêncios, dar as mãos... É darmo-nos a conhecer, abrirmos o nosso coração, oferecermo-nos em dádiva. Independentemente de palavras ou gestos.
Falar requer muito de nós. Há que ser audaz, sincero, seguro, autêntico... Falar não é para todos.
Não gosto muito de falar. Só o essencial e para uns quantos eleitos. Bom? Mau? Não sei. Mas nunca me furtei, em circunstância alguma, à fala. Mesmo quando sabia que ia doer-me, ou magoar o outro, mesmo quando era óbvio que não poderia depois voltar atrás, mesmo quando... Por isso, abomino quem tem esse tipo de comportamento. Especialmente quando se serve disso para, nas minhas costas (sem possibilidade de contraditório portanto), contradizer-me, desdizer do prometido, e, munindo-se de uma autoridade moral que definitivamente não tem, por em causa o meu bom nome e até (imagine-se!) me repreender. Reprovável, desonesto, vergonhoso! No mínimo.
Não entendo todo este pejo em falar. Magoa-me mais a hipocrisia inerente ao silêncio, aos sorriso e às conversas de circunstância do que a verdade, a haver uma, por muito dura que fosse, na hora.
De hoje em diante, manda a intuição e não a razão e a caridade: não mais darei oportunidades a pessoas que não valem o ar que respiram.
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