Só o ter flores pela vista fora
Nas áleas largas dos jardins exatos
Basta para podermos
Achar a vida leve.
De todo o esforço seguremos quedas
As mãos, brincando, pra que nos não tome
Do pulso, e nos arraste.
E vivamos assim,
Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água
Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias
Dos instantes volúveis.
Pouco tão pouco pesará nos braços
Com que, exilados das supernas luzes,
‘Scolherrnos do que fomos
O melhor pra lembrar
Quando, acabados pelas Parcas,
formos, vultos solenes de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal
Do barco escuro no soturno rio,
E os nove abraços do horror estígio,
E o regaço insaciável
Da pátria de Plutão.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Ricardo Reis
3 comentários:
Viva Joana,
(...) Buscando o minímo de dor ou gozo(...)
Há pessoas que apenas observam demasiadamente todas as coisas que povoam o mundo...para não as viverem! Por vezes, basta...só observar!
É verdade, musqueteira. Considero que por vezes uma pala, i.é., ter vistas curtas até pode ser vantajoso. Quando a nossa visão é abrangente, pesa-se demasiado os prós e os contras e invariavelmente enredamo-nos nas teias da obervação... fugimos ao sentir, optamos por fugir... por questões de segurança e conforto entre outras.
Humm, andas muito poética. ;)
Enviar um comentário