quinta-feira, agosto 30, 2007

Bogus!

Da relacao entre os nomes e as pessoas.
Gosto de nomes, pessoalmente, gosto mesmo muito de nomes. Tenho diversas teorias acerca deles: dos proprios - que estabelecem, regra geral, uma especie de solidariedade tacita entre homonimos; dos comuns - que nao tem, em rigor, sinonimos; dos abstractos - que pouco tem de nao-sensivel, dos concretos - que variam demasiado na concretude, enfim... Por acaso, ou talvez nao, porque trabalho com linguagem, passam-me milhares de nomes todos os dias pela retina - passam-me milhares de coisas pela cabeca tambem, por causa deles precisamente. Retenho alguns: primeiro, os que preciso de saber, depois os que me interessam pessoalmente, mas alem destes, nao sei se antes, se depois, tenho uma especial aptencia, termos todos porventura, para memorizar os que deixam uma marca profunda (ou seja: normalmente, os que nao devia saber e a quase ninguem interessam).
Porque a conferencia termina esta tarde, porque ja faz parte das convencoes instituidas, lei nestas coisas, ontem a noite decidimos ir explorar o centro da cidade - 'explorar' aqui significa jantar e ir a um pub depois - ate aqui nada de extraordinario, nao fossem os comentarios do costume, como e possivel que tu que es a mais nova, sejas precisamente aquela que doesn't drink, nor gets crazy or wild. Bem, as respostas surgiram naturais - depois de mais de um quarto de seculo a ouvir os mesmos comentarios, outra coisa nao seria de esperar.
O lider do grupo, lider apenas porque se tinha dado ao trabalho de na vespera explorar o centro da cidade em busca dos sitios mais interessantes, tipicos e divertidos, para nos levar, foi um polaco, dos seus cinquenta e muitos anos, cujo nome se presta a um diminutivo muito engracado em ingles (e obvio, muito especialmente para todos os nao-Polacos): Bogus.
Bem, o Bogus levou-nos entao ate um restaurante tipico, com uma decoracao interior muito galesa, bom ambiente, boa comida e bom servico. Ate ai tudo muito bem, conversamos, rimo-nos, fartamo-nos de rir - o Bogus e muito espalhafatoso, ou melhor, gosta de ver toda a gente a rir, o tempo plantou sorrisos e passou rapido. Ok, so we have to go, because the karaoke at this pub, you have to see it, it's unbelievable, they're really very good! Fomos para o tal pub que nao era pub nenhum, mas um bar gay que tenho a certeza que nem o Bogus, nem nenhum dos outros da mesma faixa etaria (e nacionalidade - porque tambem havia pessoas da nossa idade), nao faziam ideia do que se tratava. De qualquer dos modos, os outros nao queriam ficar ali, sentiam-se desconfortaveis, o Bogus nao percebia porque. Eu olhava para a alema e ria-me, ela olhava para mim e ria-se. (A Polonia deve ser um pais muito sao.) Entao, retiramo-nos mais ou menos estrategicamente e arrastamos connosco um Bogus super-ofendido. I don't understand. I really don't understand. O ressentimento parecia ser tal que rapidamente abandonamos a ideia de sermos nos - eu e a alema - a escolher o sitio, e deixamo-lo levar-nos para outro pub desde que longe dali. Dito e feito. La entramos no segundo pub da noite, um sitio em tudo normal, excepto na clientela - absolutamente inexistente a excepcao de uma pessoa com muito mau aspecto. Ele era so um, nos oito. E a noite os aspectos diluem-se de uma maneira... Toda a gente pediu, toda a gente pagou, entram outros dois clientes, (quase) toda a gente estava a beber quando um rufia qualquer comeca a provocar o barman. Entorna-lhe a bebida em cima, empurra-o, quase o esmurra, ninguem se apercebe, estao todos de costas para o balcao excepto eu, toda a gente continua a beber e conversar, e eu, naturalmente sem beber, a ver. O barman, novinho, parecidissimo ao Chaplin dos Keane, nao sabia como fazer, mas tentava nao perder o controlo, quer por o rufia na rua, quase consegue, gracas a imponencia de dois outros clientes. Alguem me pergunta alguma coisa, respondo, quando volto a observacao da cena, ja esta o incidente sanado, tendo o barman incrivelmente servido uma outra bebida ao rufia. Dai a nada, o dito provoca o outro - o cliente que salvou o sosia do vocalista dos K. por detras do balcao, o grande que quase o tinha posto na rua. O grande nao tinha a paciencia do barman. Insulto para ca, tentativa de pontape para la, o rufia cada vez mais proximo da nossa mesa, eu a ver tudo, eu a pensar tudo - a pensar especialmente nos segurancas que nao existem e na policia que ninguem chama, e toda a gente, animada, na conversa. Eu a querer ir-me embora, porque ja vi este filme - por isso e que sair a noite is not my cup of tea - toda a gente a achar que eu sou uma freak, que estas coisas acontecem, faz parte. Eu a explicar que as coisas podem descontrolar-se, que somos todos estrangeiros, que nao ha o minimo de seguranca, que a diversao ja era, meia duzia de olhares de incompreensao e estupefaccao, eu pensar na minha cama e no meu quarto.
Quando estavamos prontos a sair, chegaram os segurancas. Quase me senti embaracada por ter feito o alarido que fiz, mas acho que nao exagerei. Nao percebo porque levaram os britanicos, tao eficientes em quase tudo, meia hora para remover um elemento perturbador de um sitio publico. Se calhar e por ter sido professora e estar habituada a sanar esses incidentes na hora. Ou se calhar a culpa e do Bogus. Da escolha bogus do Bogus.*
* Bogus - contra-feito, nao-autentico, foleiro.

quarta-feira, agosto 29, 2007

These days...

Estes dias... de Trabalho. (Turismo que e isso?) Balanco?
Balanco: Tres novos cabelos brancos, dois dentes partidos (what's wrong with me?): Oscar, arranja uma brechazinha na tua agenda para a amiga, first thing as soon as I get home, uma alema que e um must, uma polaca quase igual com uma pancada por joias (de resto, comme moi), uma portuguesa de Manchester absolutamente fenomenal (coisa rara nesta coisa das conferencias: Cristiano Ronaldo ou proximidade etaria?), a chegada, o taxista-modelo, jogador de golf e profundo conhecedor do Algarve, o mapa e as sugestoes turisticas, o primeiro dia, a logistica, os reencontros, e a Belgica tao longe quase perto, a estadia, o ressonar do quarto ao lado, a saida diaria as 7.15 em ponto do quarto da frente, a minha saida uma hora depois ensonada, mas sem sono, os pequenos almocos out of (this) my world of suminho de laranja torrada e de quando em vez croissant) feijao, tomate, batata, salsicha, fiambre e ovo estrelado (not for me, definitely not for me! viva o suminho, as torradas e os croissants!), o meu dia, a minha apresentacao, perguntas interessantes, comentarios interessantes, comentarios despropositados, dia cheios, cada dia cada vez mais cheio, os acordares cada vez mais a custo de tardios, sessoes plenarias interessantissimas, sessoes tematicas riquissimas, a sabedoria de uns, o ego de outros, a sobranceria desses, as noticias dos EUA: os futuros ex-colegas, os futuros ex-professores, o P. que defende a tese esta semana, o M. que acaba de ser pai pela segunda vez, os dias que se estendem e prolongam, um passeio pela cidade, voltinha pelo centro incluida, a cada fim de tarde, um estadio, um castelo, uma baia, o jantar de ontem no Hilton (Paris, querida, leva o teu avo a Madeira para verem como um hotel com o numero de estrelas que os da cadeia Hilton aparentam ter e ou deve ser na realidade), a sumidade que nos entra pela casa de banho dentro e nao quer perceber que o facto de estarem duas mulheres a olhar para ele, condescendentes, e a dizerem wrong room, significa que se enganou - "Oh really?" tem desde ontem um novo significado para nos, o meu "hermano" que e a personificacao mais perfeita do Dorian Gray a decompor-se no quadro, a vaidade pavonica da nova revelacao da LC destes lados, que acaba de se levantar e que eu vou seguir porque a sessao ja comecou ha tres minutos.
Ferias? Quase, but not yet.

sexta-feira, agosto 24, 2007

De amanhã


... até ao mês que vem.

terça-feira, agosto 21, 2007

O famoso do shopping

Lá em casa toda a gente me goza porque é frequente chegar e dizer "Sabes quem vi hoje? O... A... ". Costumam dizer que só posso estar a brincar, porque não é possível, e nunca encontram ninguém, e não conhecem quem encontre tantos famosos quanto eu... Desconfio que a maior parte das vezes pensem que invento ou que apenas vi alguém parecido e precipitei-me logo a pensar que era "O" ou "A". Eu acho que não. Não me precipito, nem invento, nem vejo mais pessoas famosas do que o cidadão comum que anda pela sua cidade com olhos de ver. O que acontece é que eu perco tempo, literalmente perco, a ler revistas cor de rosa, coisa que na minha casa não se faz, ever, ever, ever.
Temos um shopping relativamente perto de casa, frente ao estádio, e, paradoxalmente, nem vamos lá muitas vezes, não é o maior, nem sequer o mais bonito, é apenas aquele que fica ali, pertinho. Passamos por lá de quando em vez, quando o estudo já pesa demasiado nas costas ou arde nos olhos, quando rir e ver gente e ouvir gente faz falta. Indo-se ao cinema ou não, acaba-se invariavelmente por jantar lá - até porque shopping com hamburguer vegetariano é raro por estes lados!
Ontem voltei a vê-lo. Pela terceira vez. E como não penso antes de sorrir, sorri-lhe, como sorriria para toda e qualquer pessoa cujo olhar encontrasse pela terceira vez no mesmo recinto, independentemente de nos conhecermos, independentemente do sexo, da idade, da ocupação e da condição social. Sorri-lhe, mas não devia. Devia ter-me lembrado do olhar baixo, embaraçado, que se seguiu ao meu sorriso, o mesmo olhar pela terceira vez. Não me lembrei, peço desculpa. Pedi, interiormente.
Este "O" é um atleta sul-americano, novinho, que o FCP comprou o ano passado, que joga na equipa principal e é famoso (bem, falou aos media uma ou duas vezes), mas não parece ligar muito a isso. Veste-se e comporta-se normalmente (não fosse a bebida energética que acompanhou o jantar), a mulher também - coisa rara no futebol em Portugal - vêm sempre, no dia de folga julgo, com um outro casal, que eu desconheço, da mesma nacionalidade e da mesma faixa etária e da mesma discrição, e juntos jantam e falam, falam baixo e não riem alto, e vão à sessão cinema que acaba à meia noite. E saem do cinema e desaparecem. Tem sido sempre assim.
É o famoso mais normal que conheço. Da primeira vez, lembro-me que não fui a única a reconhecê-lo, dois adolescentes também se fartaram de olhar e comentaram algo sobre o seu desempenho no dia anterior, ouvi claramente o nome dele, e sorri em conformidade para os meus irmãos, descrentes. Nas vezes seguintes foi diferente, apenas eu o reconheci, mas o embaraço dele foi o mesmo.
Gosto deste famoso. Gosto de muitos famosos por muitas razões, desgosto outros tantos por outros tantos motivos, mas gosto particularmente deste famoso. Porque foge ao sorriso, mas sobretudo à regra. Porque tem pudor, e essa postura, humilde, espelha uma perfeita noção da realidade, fora de moda, fora do comum. Porque secretamente admiro quem tem medo, quem tem medo, tem esperança.

Saudades dos EUA...







... da Linda, da Vica e do Pascal, do Dan, do Budhipta-Dan, do Schmitty, da Jill, da Emilia, da Monica, da Gu-Jing, do Manu, da Jill, do Usher, da Suzanna, do Raj, da So-Yoon, da Ja-Yeon, de coletes e chapéus e botas e das natas em quase tudo o que é comida, das saladas na Jason's Deli, quando havia departmental movie night, quando não havia departmental movie night, quando havia fome, quando não havia fome, das festas do Raj, do lap concept do Raj, da infamous lap dance do Raj (que ficou por fazer, Thank God!), dos nossos jantares veggie-indian no Madraas Pavillion, do Manu a chorar do picante, das teorias de "where to draw the line, I´ve been like you, Jo, I know" do Pascal, da ironia fina e das provocações da Vica, das confissões amorosas do Manu, do Natal da Suzanna, do "U2-karaoke" no carro da Linda, das knitting sessions na casa da Linda, das hungarian soups and other acepipes da Vica, dos coros do Budhipta-Dan nas festas da Universidade, da(s) História(s) de quase tudo do Schmitty, de longos serões na net para desespero e maquinações out of this world da Monica, da minha cama horrorosa, de pulos, de almofadas a voar, ... vá dos EUA...

sábado, agosto 18, 2007

Corcovado



Andei o dia todo com esta música na cabeça. Se calhar porque passei esta manhã toda na praia, se calhar porque ontem à noite pus-me a pensar nos amigos que deixei em cantos tão distantes, um dos outros e do meu mundo de ontem, se calhar porque..., se calhar por isto, se calhar por nada disto.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Voltar atrás

Lembro-me como se tivesse sido hoje, embora não saiba ao certo quando foi, este ano, o ano passado, se calhar há mais tempo.
Regressava de Braga a São Bento, já tarde; por acaso ou concertação prévia, a minha irmã mais nova apanhou-me bem à saída da estação e decidimos ir para casa a pé, contrariando o hábito imposto pela facilidade dos transportes públicos. (Ainda não havia metro, portanto foi há mais tempo do que pensava inicialmente.) Subíamos a rua, cujo nome não me recordo agora, uma que sobe de São Bento até à de Santa Catarina, e assistimos a uma cena comum: um arrufo de namorados - adolescentes apenas na gestão das emoções. Mais adolescente ela que ele, como quase sempre.
"Se quiseres vai, então vai. Mas não voltes, não olhes para trás sequer!" - ouvimo-la claramente assim que passávamos por ambos. E o rapaz foi. Silente. E não voltou. E não olhou para trás. Nunca.
E nós ficámos estupefactas. Inexplicavelmente, ou talvez não, admirámos o rapaz. Mas isto apenas até ao momento em que ela foi ter com ele e estavam a tentar resolver a situação. Aí feneceu o espanto, interiormente sei que a odiei um pouco - o tão feminino retorno, tão típico! -, não sei que terá sentido a minha irmã. Mas tenho por certo que o episódio a marcou. Ainda hoje se fala do dito de quando em vez.
Se há coisa que não consigo fazer é voltar atrás. E sou mulher. Ainda hoje comentava isso com uma amiga. Chamem-me o que quiserem, sou básica, obstusa, rotunda, nas relações. Acho que é o que se deve ser. Nas relações. Básico. Se magoa, não é o que queremos para nós. Se sabe bem, é. Básica. Pois sou.
Nestes dias em que estive na Madeira não saí, tinha mais que fazer, e a verdade é que os amigos que guardo no coração que se encontram na ilha contam-se pelos dedos de uma mão e têm uma série de responsabilidades profissionais que fazem com que o verão não seja a melhor altura para estar com eles.
Nestes dias em que estive na Madeira recebi uma sms de uma antiga amiga dos tempos de Faculdade, a Isabel, a contextualizar-se perfeitamente porque "há muito tempo que não falamos", palavras dela, e a informar-me que se encontrava na "minha ilha", palavras dela, "a passar a lua-de-mel", palavras dela também.
A Isabel foi a única pessoa até hoje que considerei a minha melhor amiga, embora a um nível diferente da minha mãe, claro! Já devo ter falado dela por aqui. Davamo-nos muito bem, ela tinha muita paciência para mim e para o meu mau feitio; fazíamos imensos planos de futuro, íamos morar perto uma da outra, ia ser madrinha dos filhos dela e ela dos meus; a vida ia passar num sopro, mas a nossa amizade não, permaneceria. Afinal foi num sopro que a amizade passou, por uma razão que eu considero basilar numa amizade, e o que ficou, uma sms em meia dúzia de anos, não chega sequer para fazer permanecer o que quer que seja. Obtusa. Sim.
Não consigo voltar atrás. Não consigo. Ou melhor, consigo, estou a conseguir, aqui e agora. Pela memória. Só volto atrás pela memória. Mas Hoje. Só. Ocasionalmente. Apenas. É disso que vive a memória, suponho. Do voltar atrás. Do retorno. Como a menina de Santa Catarina, que eu não sou em definitivo.
A minha irmã do meio está neste momento num casamento. No casamento da sua madrinha de curso, por acaso nossa conterrânea, por acaso agora mulher do único primo da Isabel. A vida é engraçada. Mas, como eu, sorriso rasgado ou lágrima no olho, garganta seca ou coração a palpitar em todo o lado, não volta atrás.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Back to life.

JJ, Julho de 2007, Porto

Hoje regresso ao Porto. Hoje: Daqui a meia dúzia de horas.

Nem tudo está bem, nem tudo está melhor, mas algumas coisas estão, e é por isso, e pelas obrigações profissionais e pelo tempo que corre mais veloz do que eu precisava neste momento, que volto ao Porto.


Têm razão todos aqueles que dizem que desapareci destes lados. De facto desapareci, e de quase todos os lados, estes tempos. Mas não totalmente: recebi, guardei e guardo o vosso apoio não apenas nos comments do post abaixo, guardo-o no coração. (Por isso, dei voltas e voltas na cama, esta madrugada, a pensar o que é que poderia oferecer-vos em jeito de reconhecimento.)

E pronto, quero oferecer-vos o meu sorriso.
Não é o de agora. Mas é o que quero recuperar. Porque tudo vai ficar bem. Por todas as razões. Por vossa causa, também.

(Amanhã começarei a postar como de costume.)