domingo, novembro 11, 2007

Coisas que me põem fora de mim


O meu professor de EC dizia-me hoje que só comprou televisão há pouco tempo e contrafeito. O meu professor de EC é uma pessoa muito especial, daquelas que devia haver em todas as casas, todas as escolas, todas as igrejas, todas as repartições públicas, todos os sítios onde houvesse gente. Porque nunca ofende, nunca interrompe, nunca magoa, ninguém; pelo contrário trata cada pessoa com um cuidado e uma doçura... como se cada um de nós fosse de tal maneira frágil e especial que qualquer palavra ao acaso poder-nos-ia retirar o chão para sempre. (E tiram-nos tantos, para sempre, tantas vezes!) Mas não era nisso que estava a pensar há pouco, estava justamente a pensar se seria muito difícil arrancar a televisão e deitá-la pela janela fora. Passa da meia noite, não ia aleijar ninguém, aliás era um favor que fazia a todos, à humanidade.
Ninguém nas televisões pensa nas pessoas que não têm casas de fim de semana, nem jactos particulares, nem viagens pagas, nem programas a dois, nem nada. Enchem-nos disso, nadas, impingem-nos grandes e pequenos nadas. Deformam, facilmente, confortavelmente, impunemente, um país que se enterra cada vez mais na ignorância e no sofá.
Sensivelmente a meio da OT2 optei por não desperdiçar mais tempo útil de leitura ou audição musical, em virtude de uma injustiça feita despudoradamente de tão às claras em relação a uma concorrente de Braga - que não conheço, nunca vi sequer. Voltei atrás nessa tão acertada decisão, o Francisco - valente! - fez saber, a quem de direito, da sua desolação, ainda por cima em directo para todo o país - isto nos tempos em que depois das galas, havia um directo para os estúdios, directo durante o qual os concorrentes respondiam a algumas sms mandadas pelo público.
Desde o início disse que não veria a OT3, mas tenho sido mais assídua do que intentara. Há uma conterrânea nossa que é amiga, mesmo mesmo amiga, dos meus irmãos. Não vou discorrer acerca do ênfase dado à imagem, vulgo peso, da menina em detrimento do mérito que inegavelmente possui a melhor aluna do Curso Superior de Canto da melhor Escola de Ensino Superior Artístico do país, nem sequer vou debruçar-me sobre o desempenho, a cada semana desolador, da apresentadora. Não tecerei conclusões acerca de uma cantora-professora que diz que "o mais importante para um cantor não é a voz que tem, mas o que faz com ela" - muito me conta, quer dizer que eu sendo especialista tão só em Semântica histórica, posso ser professora de Linguística (i.e. conjunto da Sintaxe, Semântica, Morfologia, Prosódia e Pragmática) Portuguesa?, só porque é a minha especialidade(?) - não terão feito todos aqueles que já saíram o melhor que puderam com o seu instrumento vocal?
Bem, a razão que me leva a querer atirar todas as televisões do mundo às cabecinhas pensadoras que mandam nas televisões, programações de fim de semana especialmente, os écrans mais pesados direitinhos à tola dos que conceberam a OT é pura e simplesmente a do Regulamento.
Aparentemente, um Regulamento que nunca me foi dado a conhecer, nem podia, não está disponível online na página do programa diz(?) que "em caso de empate é o voto do favorito do público que decide quem fica na Escola". Hoje o favorito do público votou numa pessoa que não era nenhuma das duas empatadas. (A situação é de facto estranha confesso, mas não incómoda como fez transparecer a máquina do programa. Quem escreveu esse Regulamento que não contemplou esta eventualidade?) Hoje o favorito do público foi obrigado a mudar o seu voto PARA DESFAZER O EMPATE. A mim caiu-me mal. Muito mal.
Dura lex sed lex.
Era o lema da Comissão de Praxe na minha Faculdade. E nunca senti perante isso o desconforto que senti depois, face a situações que considero injustas. Como a de hoje. Não sei o que é que os legisladores teriam a dizer sobre isto, mas tenho para mim que se agarrariam o mais que pudessem ao aforismo latino para dizer a mesma coisa que nos dão as tvs sábados atrás de sábados, domingo após domingo: nada.

Um dos muitos tristes que teve o azar de ser meu professor de Educação Física passou o décimo segundo ano a (tentar) convencer-me a ingressar na magistratura. Não o fiz. Não lhe dava qualquer tipo de crédito, além do que Educação Física foi a disciplina que mais detestei - desde sempre - na vida. (Ainda hoje sou apologista dum currículo, constante de oficina de escrita, atelier de arte, música e teatro, alternativo a essa disciplina. Por outro lado, sempre me fez confusão o defender-se alguém que grosso modo já se sabe culpado. Acho que sou demasiado básica para os melindres e os bastidores do Direito.
Devia decidir quem fica na Escola, o voto do favorito do público, sem mais. Assim, evitava-se o silêncio interminável que tentou cortar o ar pesado de um estúdio que pura e simplesmente não sabia que dizer ou fazer. Assim evitava-se os terivelmente infelizes "A tua votação não interessa, tens é de escolher um de entre os dois empatados", "E está decididio, o favorito do público decidiu, quem fica na Escola é ..." da apresentadora. E não, o injustiçado desta noite não foi a nossa conterrânea.


Ai, nunca mais acaba o fim-de-semana para ver os Gato Fedorento! Antes ver quatro gatinhos, dois que se prendem ocasionalmente no trânsito, mas que são gatos e sabem ser palhaços, do que uma palhaçada a fingir, disfarçada de gala de cantigas - a fingir!

1 comentário:

Oásis disse...

Nos últimos dois meses só ligo a minha para ver uma série da 2 e o programa do gato. Não compensa ter um estropício tão grande a ocupar uma boa parte da sala!