Fugir de alguém, ou de alguma coisa, deve ser uma luta muito grande. Uma tarefa que se assume, sabendo, se não de início, em algum momento, a muita força que requer. Não fortaleza, força. A que é necessária ao acelerar de passo, ou ao encolher-se, ao assobiar para cima, ou - alternativa - virar a cara para o lado mais próximo mais distante, ao pretender passar despercebido, ao intentar não ver, ao ver e puxar da algibeira da camisa por dentro da camisola o trabalho antes de mais, a metereologia de fundo de bolso, roto, se houver um depois.
Passarei a admirar um bocadinho a partir de hoje todas as pessoas que andarem a fugir de alguma coisa. Fortes, na hora da sopa.
Tudo encontrado no desencontro: premissa maior, premissa menor, conclusão - continuei a comer. Há dias muito felizes na vida de uma pessoa. Dia de sopa de feijão é dos poucos que nisso é certo. Até me esqueci do que tinha trazido da rua - a chuva portátil, ping, ping, ping, do guarda-chuva sempre no meu encalço, as botas encharcadas, as calças quase, o frio, o quanto me arrasto, pedindo licença às mãos e aos pés, e gemo, para chegar ao que quer que seja, estes dias.
Mas ontem devia parecer pior. Ontem era hora de ponta e deram-me o lugar no metro. Deu-me um miúdo, para gáudio sorrido da avó, eu a dizer que não obrigada, senta-te tu, e ele a dizer mas a senhora, eu a pensar que aquele 'a senhora' tinha um sotaque bonito, antes de pensar naquele 'a senhora' em abstracto e sentar-me obediente, uma amostra de sorriso, baratinha baratinha, à sombra dos dentes. Não sei sorrir gáudios que não sinto.
Um dia vou ser avó e os meus netos cederão, civis, os seus lugares a meninas que pareçam doentes, ou cansadas apenas..., dizendo mas a menina, com um sotaque bonito. Mais tarde, esses mesmos netos meus encontrarão, em hora de almoço e por acaso, velhas professoras no shopping e cumprimentá-las-ão com naturalidade.
O tempo longo gasta a pedra. Mas o silêncio apressado, em pé, ainda mais.
4 comentários:
Que bom voltar e ter o prazer de te ler!
Comboio,
Que bom saber-te certo nos regressos! :)))))
Jinhos.
Um dia os teus netos vão ter os genes de fugir aos encontros desnecessários e de circunstância. Que não melhoram a vida de ninguém. :)
Adorei, adorei. ;)
Bacini*
Frida,
Ehehehehehe!!! Mimas-me. ;)
Jinhos.
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