quarta-feira, novembro 25, 2009

Tempus longum vitiat lapidem

Fugir de alguém, ou de alguma coisa, deve ser uma luta muito grande. Uma tarefa que se assume, sabendo, se não de início, em algum momento, a muita força que requer. Não fortaleza, força. A que é necessária ao acelerar de passo, ou ao encolher-se, ao assobiar para cima, ou - alternativa - virar a cara para o lado mais próximo mais distante, ao pretender passar despercebido, ao intentar não ver, ao ver e puxar da algibeira da camisa por dentro da camisola o trabalho antes de mais, a metereologia de fundo de bolso, roto, se houver um depois.

Passarei a admirar um bocadinho a partir de hoje todas as pessoas que andarem a fugir de alguma coisa. Fortes, na hora da sopa.

Tudo encontrado no desencontro: premissa maior, premissa menor, conclusão - continuei a comer. Há dias muito felizes na vida de uma pessoa. Dia de sopa de feijão é dos poucos que nisso é certo. Até me esqueci do que tinha trazido da rua - a chuva portátil, ping, ping, ping, do guarda-chuva sempre no meu encalço, as botas encharcadas, as calças quase, o frio, o quanto me arrasto, pedindo licença às mãos e aos pés, e gemo, para chegar ao que quer que seja, estes dias.

Mas ontem devia parecer pior. Ontem era hora de ponta e deram-me o lugar no metro. Deu-me um miúdo, para gáudio sorrido da avó, eu a dizer que não obrigada, senta-te tu, e ele a dizer mas a senhora, eu a pensar que aquele 'a senhora' tinha um sotaque bonito, antes de pensar naquele 'a senhora' em abstracto e sentar-me obediente, uma amostra de sorriso, baratinha baratinha, à sombra dos dentes. Não sei sorrir gáudios que não sinto.

Um dia vou ser avó e os meus netos cederão, civis, os seus lugares a meninas que pareçam doentes, ou cansadas apenas..., dizendo mas a menina, com um sotaque bonito. Mais tarde, esses mesmos netos meus encontrarão, em hora de almoço e por acaso, velhas professoras no shopping e cumprimentá-las-ão com naturalidade.

O tempo longo gasta a pedra. Mas o silêncio apressado, em pé, ainda mais.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que bom voltar e ter o prazer de te ler!

Joana disse...

Comboio,

Que bom saber-te certo nos regressos! :)))))





Jinhos.

Maria Rita disse...

Um dia os teus netos vão ter os genes de fugir aos encontros desnecessários e de circunstância. Que não melhoram a vida de ninguém. :)

Adorei, adorei. ;)

Bacini*

Joana disse...

Frida,

Ehehehehehe!!! Mimas-me. ;)





Jinhos.