terça-feira, abril 27, 2010

Transparecências

Ontem fui aos correios cá da praça tentar enviar um pacote. Ontem estava calor e eu cheia de frio, ontem as pessoas vestiam de Verão e eu vestia o meu nariz, o meu nariz a meter um medo de psoríase às pessoas como eu - com medo de tudo o que seja doença nos outros, psoríase e tudo o mais que não se sabe, mesmo que tudo o mais não seja nada, e a psoríase não o seja de facto, mas tão somente o descascar, a abrasão típica de um fim-de-semana de lenços.

Nos correios estava-se bem. Está-se sempre bem nos correios. Acho que aqueles dois funcionários únicos que demoram no atendimento, fazem-no deliberadamente, a pensar muito no bem-estar das pessoas, de cada uma das pessoas em particular, para que uma pessoa se dê conta do quanto se está bem lá dentro. O fresquinho que corre no Verão, o calorzinho quando é Inverno, tudo pago por nós, tudo nosso para gozar, com tempo.

Em virtude dessa atenção também, premiu o número da minha senha uma das funcionárias mais rápidas e eficientes dos correios cá da praça - não sei se é exemplar aos olhos dos colegas, aos meus é inexcedível. E eu que estava a habituar-me ao desfile de carácteres ao balcão, eu a surpreender-me e a divertir-me com eles, muito para dentro, do banco onde me sentei sozinha, nas traseiras para não contagiar ninguém.

Querendo, ou não, as pessoas entregam-se ao balcão. Uma senhora em idade da reforma, se não tiver cabelos brancos, sapatos rasos, sacas de plástico ou mala de nylon - azul escura ou preta -, não diz mais que o essencial, em bom som mas com muito frete, ao balcão. Um senhor trabalhador - era pintor de obras - se atender uma chamada, possivelmente da obra, possivelmente do patrão a pressionar, distrai-se da sua vez e, obrigado a fazer pela vida e não roubar mais tempo ao patrão, tem de interromper o passo da senhora reformada a encaminhar-se para o frete e tem de pedir desculpa que estava ao telemóvel e não se deu conta, uma e outra vez, tem de o fazer muitas vezes, a senhora impávida.

Enviei o que tinha a enviar, as cascas do nariz e a minha voz de cana-muito-muito-rachada a anteciparem-se-me no pedido do formulário, a funcionária a sorrir, eu a perguntar-me por que sorriria ela antes de lhe perguntar se aquela modalidade também era acompanhável pela net. Um siiiiiiiimmmmm! muito longo, compreensivo, maternal, sorrido. Como se soubesse do conteúdo do pacote: eu, uma adolescente a cometer uma loucura doce. (A última parte da proposição é verdade.) As pessoas entregam-se ao balcão.

6 comentários:

Maria Rita disse...

Oh Joaninha, só tu para gostares de esperar nos CTT! ;)

Espero que estejas melhor!

Beijinhos*

Joana disse...

Frida,

Eheheheh!!!


Melhor a cada dia dia um bocadinho! :D



Jinhos.

Doppelganger. disse...

Espero que a constipação/gripezinha te passe, assim como têm passado os dias de calor, facilmente. :)

É muito raro me deparar com alguém, especialmente nos Correios que goste mesmo de servir as pessoas, e que tenha a pequena dose de paciência de nos ficar a ouvir. :)

Joana disse...

Pedro,

Sim. :)))))))))))))))


Hás-de experimentar vir aos correios do Marquês, tens 50% de hipóteses de que isso te aconteça... :D


Jinhos.

Ouriço-Cacheiro disse...

As melhoras Joana!
E sim, as pessoas entregam-se, muitas vezes, aos bocadinhos, muito mais daquilo que julgam! Adoro correios e aeroportos.
;-)

Joana disse...

Ouriço,


Eu também, eu também... ;)




Jinhos.