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Ontem estive quase uma hora a olhar uma fotografia desta menina. A fotografia era de um grafitti onde se podia ler: FOREVER BEGINS WHEN YOU SAY YES.
Escrever é pensar. Ler é pensar. Olhar e ver também é pensar. Pensar faz-nos. Quando se diz verba volant, scripta manent, diz-se da palavra escrita, daquela que permanece, que é valor seguro, que passa de geração em geração, que atravessa culturas, que dita mundividências. Toda a palavra escrita é conhecimento, toda a palavra escrita é ciência, toda a palavra escrita é História. Toda a palavra escrita é pensar.
Olhamos com a nossa vida nas íris, lemos com o nosso passado ao lado, escrevemos com a nossa história a espreitar pelo ombro. Se a cognição e a emoção fossem fenotípicas seríamos animais diferenciados por várias camadas e filtros. Temos as nossas verdades, os nossos medos, as nossas éticas, os nossos dogmas - as nossas vidas, pessoais e intransmissíveis. Assimilamos a realidade segundo os nossos quadros conceptuais, as nossas vivências emocionais, o legado da hereditariedade, as aportações do meio e o momento.
Escrevemo-nos quando escrevemos. Mesmo ficcionando, escrevemo-nos. Escrever-se, porém, é outra coisa. Escrever-se é aceitar o desafio para um duelo - aquele que nos impuser a nossa história pessoal. Escrever-se é, pela mão frágil da memória, ousar olhar-se, encontrar-se, conhecer-se, aceitar-se. Assim sendo, a autobiografia, mais do que um género para finais de vidas cheias, é um exercício de liberdade, imperativo nos dias que correm, a que qualquer um de nós se pode propor em determinado momento da vida.
Este livro encheu-me o final do dia. Antes de ser um manual de escrita, é a sombrinha do equilibrista no arame. Recomendo.
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