terça-feira, julho 03, 2007

Da pluviosidade e outras coisas cinzentas

Blue, em inglês. Where do you go when you're lonely, when the stars are blue...
Chove em Santiago and I'm feeling blue. Como as coisas tristes lembram sempre coisas boas, tempos melhores - bem entendido, andei a remexer nas pastas da Bégica, onde choveu que se fartou também, mas como o B. tinha o dom da ubiquidade e de tornar o difícil fácil, nem tive tempo para entranhar a chuva lá. Porque custa deixar ir a Bélgica e me dava jeito um B. em cada canto do mundo, aqui e agora muito especialmente, aqui fica um pouco de sol, o último dia de Bélgica.


Na despedida

Há na despedida uma morte interior. Pequenina. Como se o mundo que se vem construindo, aquele em que vivemos e aprendemos tanto, aquele feito de rotinas aparentemente insignificantes e quase sem fundamento, fosse um castelo de cartas prestes a desmoronar. Há na despedida uma morte interior. Pequenina. Daquele pequenino que mói e assim magoa mais que tudo e dá ao coração um aperto que chega à garganta. Há na despedida uma morte interior. Pequenina. De sítios, dias de sol, tardes de chuva, pessoas, sons, vivências, gestos, emoções. De tudo e de nada. De um tudo que é quase nada. De um nada que é quase tudo. Há na despedida uma morte interior. Pequenina.
Nunca me despeço. Não gosto. Será porventura o medo da morte. Interior. Pequenina. Que a outra não temo. Nunca me despeço. Não gosto. Do Adeus. Da palavra “Adeus”. Uma espécie de invocação. Em caso de morte (?). Nunca me despeço. Não gosto da palavra “Adeus”. Digo: “Até sempre!” Porque não há morte que destrua o “sempre”. Gosto da palavra “sempre”. Digo: “Até sempre!” Porque me parece ridículo dizer “Até já!”, sou idealista, mas nem tanto. Quando partia dos EUA disse: “I will be seeing you.” Não me despedi com o típico “Até sempre”. “I will be seeing you”.“I will be seeing you” é uma canção da Billie Halliday, muito ao estilo sulista. E o Texas é no sul. E na realidade sentimos sempre o que vai acontecer: efectivamente, vou ver muitos dos amigos que fiz lá, este Verão, cá. And I will be seeing them, e continuarei a vê-los, a eles e, de certa maneira, a Houston – tenho a certeza.
As despedidas são hoje e fujo, fogem de mim também, mas eu fujo mais, quero fugir, para não dizer “Até sempre!”, e ao mesmo tempo quero ficar, para não ter que dizer, nem ouvir (?) “Até sempre!”.
Partindo, ficarei. Para lá do tempo. Tenho a certeza. Sinto. Sei. Deixo, sem querer, um bocadinho de mim aqui. Para sempre.
Há na despedida uma morte interior. Pequenina. Daquele pequenino que mói e assim magoa mais que tudo e dá ao coração um aperto que chega à garganta. Há na despedida uma morte interior. Pequenina. De sítios, dias de sol, tardes de chuva, pessoas, sons, vivências, gestos, emoções. De tudo e de nada. De um tudo que é quase nada. De um nada que é quase tudo. Há na despedida uma morte interior. Pequenina.
Nunca me despeço. Não gosto. Não gosto da palavra “Adeus”. Digo: “Até sempre!” Porque não há morte que destrua o “sempre”. Gosto da palavra “sempre”.

La Foresta 22/06/2006

2 comentários:

Maria de Lourdes Beja disse...

"EU NÃO QUERO NEM BRINCANDO
DIZER ADEUS A NINGUÉM.
QUEM PARTE LEVA SAUDADES
QUEM FICA SAUDADES TEM."

O POVO EM SEU CORAÇÃO
GUARDA A SAUDADE TÃO BEM
QUE DELA FAZ ORAÇÃO
E REZA A VIDA QUE TEM...

BJS!

Joana disse...

;)

Jinhos.