Não estava lá quando me cheguei à frente. Veio escassos segundos depois. Não consegui disfarçar. Ganhou-me naquele preciso momento, os meus olhos já não eram meus, a atenção toda nele, toda deles. Atrasei o passo, deixei-o avançar, sempre com eles, tão singelos, deixei, deliberadamente, para os poder observar melhor. Esqueci o frio, tanto calor e tanta gente na estação da Casa da Música, iam murchar. Não obstante, quis ver. Não vê-los estragarem-se, não, quis ver a cara, os olhos, a alma de uma pessoa assim. Bonita.
Porque é bonita, de um bonito que as palavras não conseguem dizer, de um bonito que prende o olhar, de um bonito que é sentir só e sentir diferente, qualquer pessoa que desafie as leis das seis e meia da tarde de uma sexta-feira de Dezembro para entrar no metro com um ramo de amarílis. Vermelhos, não, laranja, não, vermelhos e laranja, que também havia fogo neles. Duas hastes, três flores, seis amarílis ao todo. Sob um verde que desconheço, seis amarílis cor-de-fogo atravessados por uma única rosa branca, em botão. Atravessados por uma única rosa branca. Em botão. Eu, trespassada pela imagem.
As pessoas a entrar e a sair e eu com os amarílis nos olhos. E na cabeça. E, algures, no lado esquerdo. Crescemos a ouvir histórias de príncipes que se encantam por princesas e que, em nome de um amor maior que a vida, oferecem rosas e amarílis, e, crescidos, nunca, por um momento, pensamos que a razão por que os príncipes encantados não existem é porque padecemos de um mal muito grande que é a cegueira de querer ainda fazer isto, sem esquecer aquilo, de por isso não ter tempo para, nem querer assim, que assado é que se está bem.
Este príncipe, como todos os príncipes, era banal. A todos os níveis. Encantadoramente banal. Mais banal que a mais banal das pessoas. Não havendo nele um único símbolo, um único sinal, uma marca, um estilo, nada. Absolutamente nada que o pudesse inserir em qualquer tipo de taxonomia. A-étnico, a-religioso, a-social, a-cultural, a-político, a-económico. Daí, a certeza. Príncipe. De amarílis ígneos e pura rosa junto ao peito, um castelo nos olhos, chamas no coração. Príncipe. Tal como é princesa toda a menina a quem se destina uma prenda assim.
3 comentários:
Olá Joaninha
Que cadência! Que ritmo!
Frases que me afectam como se estivesse a ouvir boa música!
Beijinhos, princesa
Lindo texto...
Desculpa a falta de visitas...
Andei desaparecido....
Mas voltei a escrever.....
Bjnh
Tens de me dizer quem é a tua outra irmã porque eu so conheço Agostinha.
BAD BOY? Só se for no visual. LOL, dentro de mim jaz uma pessoa pura de sentimentos e de boas acções...
Bjnh
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