Não estamos velhos quando a nossa idade no BI já não dá para o cartão jovem e os descontos de estudante ficaram lá atrás.
Não estamos velhos quando temos rugas e varizes e celulite.
Não estamos velhos quando vemos completar 25 anos a miúda que, no caminho para a catequese, tocava às campainhas de todas as portas e deixava-nos, solitariamente primogénitos, crescidos – porém, inseguros do poder imunizador da honestidade – à mercê da ira dos importunados.
Não estamos velhos quando os pais nos adoecem e se revê a vida toda num minuto.
Não estamos velhos quando encontramos os amigos, eternos adolescentes, casados, com filhos.
Não estamos velhos quando ir ao médico nunca é só ir ao médico.
Não estamos velhos quando abdicamos de certas coisas, abrimos mão de certas pessoas e relativizamos certos valores.
Não estamos velhos quando os nossos ídolos se aposentam.
Não estamos velhos quando temos histórias e meia dúzia de amores e desamores para contar.
Não estamos velhos quando nos compramos uma cadeira de baloiço para a manta da avó em sábados e domingos de leituras e evasão.
Não estamos velhos quando tomamos chá ao sabor da novela da noite.
Não estamos velhos quando ouvimos o silêncio.
Não estamos velhos quando fazemos por escolher os amigos e manter perto, pertíssimo, os inimigos.
Não estamos velhos quando cedemos às opiniões do vulgo.
Não estamos velhos quando somos os terceiros mais velhos num jantar de quinze pessoas.
Não estamos velhos quando acordamos cansados.
Não estamos velhos quando os Celsos, os Ricardos e todos os outros galãs do Liceu nos arrastam, desacaradamente e fora de tempo, a asa.
Não estamos velhos quando pensar é automático e realizar custa.
Não estamos velhos quando nos lembramos que o primeiro filme que vimos no cinema foi o Roger Rabbit.
Não estamos velhos quando tememos a novidade.
Não estamos velhos quando elaboramos uma tabela de tarefas domésticas e uma ementa para cada semana.
Não estamos velhos quando temos insónias.
Não estamos velhos quando preferimos passar o serão, em casa, com os amigos, em redor de uma boa tábua de queijos, muito mais do que sair.
Não estamos velhos quando fazemos poupanças.
Não estamos velhos quando pesamos opções, analisamos riscos e optamos pela segurança.
Estamos velhos quando começamos a dar valor a cada instante, a aproveitar a brisa da manhã e a só trabalhar frente a uma janela ao sol.
5 comentários:
Olá Joaninha
Não estamos velhos, não.
Acontece que crescemos, ficamos mais conscientes e aprendemos a ver a verdadeira face da vida.
Beijinhos
Isso não é estar velho... é dar valor à vida, a questão é que muitos de nós só fazemos isso quando a morte fica mais perto... Felizmente há muito boa gente que não precisa de ficar velha para ser assim tão... lúcida? (mesmo que para os "novos" seja olhada como sonhadora)
Concordo. somos novos não damos valor ao tempo, e deitamos tempo fora, mas apesar de tudo vivemos como se fosse o ultimo (oupelo menos deviamos viver assim).
BJnh
O.,
"... quando a morte fica mais perto..." É isso, exactamente!
Mesmo quando a morte não é a morte mas as pessoas falharem-nos. Ou falharmos nós, enfim...
G.,
Voltaste? :P
Jinhos a ambos.
Não estamos velhos quando sabemos de cor cada cabelo branco e quando continuamos a apanhar, a cada Outono, a folha de plátano mais bonita para marcar as nossas leituras.
Não estamos velhos não.
Gostei muito.
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