sexta-feira, julho 11, 2008

C’est parti!


Um dos meus inúmeros grandes problemas é pensar demasiado. Outro, é nunca viver o hoje. Ou vivê-lo a planear o amanhã. Ora em ambos penso em vez de fazer. Penso com a mesma facilidade, e necessidade, com que respiro. Mas ao pensar, complico. Ao complicar, não faço. Pelo meio ainda tenho o medo do escuro, de tudo o que existe que não conheço, e a mania do controlo, de nunca perder o pé na piscina dos dias.

Há tempos esta menina dizia-me que “passo o tempo a desejar ser...” e isso é tão verdade que me tem acompanhado interiormente todos os dias desde então. Levanto-me com isso no pensamento, tomo o pequeno-almoço com isso no pensamento, passo as pausas do dia... com isso no pensamento. Traço estratégias, faço planos, estabeleço prioridades, ordeno as tarefas que vou fazer, agora é que é, e, chegada a hora de cumprir, arranjo maneira de adiar tudo para o dia seguinte. Pensar faz mal. Especialmente ao fazer.

Ontem fui com a Ana Arqueiro lanchar, o nosso lanche ajantarado das quintas, à hora do costume, no sítio do costume. Estava frio ao fim do dia. E por isso tomámos chá. Peço cidreira, mas no momento em que pronuncio c-i-d-r-e-i-r-a, a palavra enfastia-me, sempre a mesma, sempre o mesmo, cidreira cidreia cidreia, tília tília tília, camomila camomila camomila, cidreira cidreira cidreira, chega, não quero, já não me apetece aquele sabor, enjoei-o até ao nome, e então pergunto à senhora do café que chás tem. Diz: todos, cidreira, tília, camomila, andaluzia, preto. Todos. Os do costume, todos, andaluzia não conheço, não conheço não quero, fico-me pela cidreira. “Então cidreira, sim?” Sim. A senhora olha para a Ana. “Andaluzia é o quê?” “Laranja. E lima...” “Então, quero esse.” Eu olho para a Ana. Com o “desejar ser” da Rosário no pensamento. “É incrível como as pessoas podem ser diferentes. Gostava de ser assim como tu.” E gostava mesmo.

C' est parti! Acabei de fazer uma coisa, abrir uma janela, vá, que, independentemente da luz, do sol, que entrar, vai mudar a minha vida para sempre. Já mudou.

O desconhecido sabe bem; sabe a sol e a saudade, sabe a chuva nos cabelos e na língua, sabe a versos e a conversas de circunstância, e sabe, saberá sempre, a partir de hoje, a andaluzia.

5 comentários:

Rosario Andrade disse...

...pronto! Começa-se por um chazinho e as mudanças vão por ai fora! As mudanças são como os amores: é necessário ter o coração disponível... no caso das mudanças, é necessário ter pre-disposiçao... não deixar o subconsciente agrilhoar-nos ao peso amortalhador do hábito...

FORÇA!!!!!!

Beijicos!

Joana disse...

Querida Rosário,

Na realidade, tudo começou com um comentário... TEU!!! :)))

E sim, "As mudanças são como os amores: é necessário ter o coração disponível..." e está tudo dito (Não queres jogar no Euromilhões, rapariga?)

Jinhos.

100 remos disse...

Saberá,de certeza ao que tu quiseres...
;) Bj

Ouriço-Cacheiro disse...

Poderia ter escrito um post semelhante, muito semelhante~, incrivelmete semelhante... ;-)

Rosario Andrade disse...

Bom dia!
PARABÉNS!!!!!!!!!! Fico mesmo feliz pela publicaççao do teu conto! A Joana a bater as asinhas!!!!!!!!!!!É um optimo incentivo a voos mais altos!
;-) eheheheheh!!!!!!
Espero poder ler ASAP!

beijicos