segunda-feira, julho 07, 2008

Teerão: tâmaras, cajus e um sorriso


Farshchian Mahmoud

Andei nestes últimos dias ler o Menino de Cabul. Andei nestes últimos dias a saltar do Afeganistão do livro para o Irão que me foi dado a conhecer pela primeira vez o ano passado. Ando com a minha amiga Fatumeh a saltar-me do coração para a boca, do coração para a cabeça, ao lembrar-me das coisas que me dizia, da maneira como sabia dizer as coisas nas nossas viagens de regresso a Leuven. Do Dear Joana que me dirige a cada e-mail. Do You are Always in my Prayers a cada despedida electrónica. Da maneira como sabe dizer as coisas. São especiais as pessoas com fé. Brilham quando falam e ficam connosco mesmo quando vão.

A Fatumeh, os seus olhos, crescia quando me falava da sua Teerão das tâmaras e dos cajus, e dos irmãos, e dos pais, e das saudades que, dizia, apressariam o seu regresso para casa nesse Verão. Conhecemo-nos em Leuven o ano passado, de uma maneira estranha, irónica: conhecemo-nos como se desde sempre nos tivéssemos conhecido. E nunca me apercebi disso até o B. mo ter apontado: “A Fatumeh gosta de ti.” “Sim, damo-nos bem, eu também gosto muito dela.” “Não. Ela gosta mesmo de ti. Ela cumprimenta toda a gente com um olá, já reparaste, não tem mal, é a cultura, mas a mim, só a mim me aperta a mão. A mim... e a ti.” Não tinha reparado. O curso de verão que frequentava tornara-se mais intenso do que estava à espera e estava a trabalhar muito para poder acompanhar. Na primeira semana ela foi minha companheira de carteira e de lanche e de viagem de regresso ao centro. Tínhamo-nos inscrito nas mesmas cadeiras. Na segunda não se inscreveu, tinha que ultimar uma série de trabalhos para poder regressar a casa no fim desse Verão. O B. tinha razão. Sabendo que não nos encontraríamos na segunda semana, mandou-me um mail a marcar um encontro de despedida no seu gabinete. Fui. No último dia dessa segunda semana, atrasada e carregada de fotocópias e preocupações de última hora com o regresso, fui, cheia desses pequenos nadas que me pesavam nos ombros e no coração sem motivo. Recebeu-me com um abraço – se o B. soubesse... – e tinha um chá pronto para nós. E falámos e riu-se – tem um riso tão encantador, profundo, sincero – e mostrou-me fotografias suas, sem o véu. Foi aí que percebi realmente, foi nesse momento que o tempo parou, tudo parou, e me lembrei de cada uma das palavras do B. Fiquei a olhar aquelas fotografias sem saber o que dizer. Acabei por balbuciar atabalhoadamente uma série de banalidades, como eram bonitos os seus longos cabelos, de princesa, como parecia mais nova sem véu, como era tão... E ela sorriu e “I have a little something for you” e passou-me para as mãos um envelope. Dentro, um postal com uma gravura árabe, famosíssima, contou-me quando se apercebeu do meu extâse ante tanta beleza, um postal com palavras que recordo de um outro postal, de uma outra amiga, de uma outra partida, dos EUA. Despedimo-nos, “Three kisses, like at home.”, assenti, “... like at home”, repeti. E abracei-a e demorei-me, mais do que devia, no abraço que lhe dei, dizendo-me tudo o que lhe queria dizer. Leuven e a Bélgica em geral sou eu e a Fatumeh a conversar alegremente enquanto apontamos para um moinho ou contamos as papoilas à berma da estrada.

Muitas vezes, a uma qualquer hora do dia, tenho muitas saudades dela – é quando lhe mando um e-mail a perguntar-lhe como vai, se já terminou a tese... Como agora...

Porque para a semana vou para a Bélgica. A trabalho: conferência, congresso internacional de quatro dias. E vou estar com o B. E vamos falar dela, sei. E a minha Bélgica vai ser outra. Ou não.

6 comentários:

Maria de Lourdes Beja disse...

Novo teste

Maria de Lourdes Beja disse...

outro ainda

Oásis disse...

Gostei do postal!

Uma ÓPTIMA estadia!!!

Jinhos gandes.

p.s.- e tiras uma foto da tua Bélgica? ;)

Joana disse...

Orquídea,

Remexi o computador todinho à procura da nossa fotografia, eu e a Fatumeh, a rir até mais não, da minha azelhice a tirar fotografias... Mas não a encontrei neste pc, deve estar no chasso lá de casa.

Mas prometo uma foto com o bebé de meses do B., boa? :P

Jinhos.

Maria Rita disse...

Fantástico. A Fatumeh deve ser uma pessoa muito bonita mesmo. Eu acho que tens uma sorte gigantesca em teres amigos de culturas tão diferentes! :) E, já agora, quando a História-contar-o-resto, e quando-fores-ao-Irão, leva-me contigo :))

Beijinho*

Joana disse...

Frida,

Eu também acho que sou uma sortuda... :D

E, não me vou esquecer, olha que vais mesmo comigo, mesmo, mesmo, mesmo. :)))))))))))))))))))))


Jinhos.