Quando estou em casa dos meus pais, de Verão ou de Inverno, quando estou em casa dos meus pais, em frente à televisão ao fim do dia, a minha mãe aquece-me os pés. Sempre. Assim, deixa-cá-ver-os-teus-pézinhos, assim, naturalmente, assim, sem mais, assim, em círculos, assim, pressionando um bocadinho, assim, massajando sem pressas, massajando sem tempo, massajando, massajando até o calorzinho chegar e me aquecer efectivamente os pés. E o coração. Antes de eu ir dormir.
Quando estou no Porto, na casa dos meus pais que é nossa, minha, enfim. Quando estou no Porto, na casa dos meus pais que é minha, em frente ao plasma ao fim do dia, estes dias, o ruído do aquecedor lembra aos meus pés as mãos quentes de massagens da minha mãe. As massagens, as mãos, o calorzinho, da minha mãe, lembram-me a minha mãe. A doçura, o sabor único, especial, que a minha mãe, desconfio que sem se aperceber sequer, empresta a tudo. E depois vou dormir. Tentar dormir.
Quando estou em Braga, todos os dias, ao chegar à Biblioteca penso quanto-tempo-falta-para, ao subir as escadas penso quanto-tempo-falta-para, ao entrar na sala penso quanto-tempo-falta-para, ao abrir a janela e olhar para o jardim lá fora penso quanto-tempo-falta-para, ao sentar-me à secretária penso quanto-tempo-falta-para, ao ligar ao computador penso quanto-tempo-falta-para o momento em que nenhum passo se ouve, nenhum passo, nenhum barulho, nenhuma forma de, antes do deslizar metálico da fita que separa as nossas salas me dizer a hora dos nossos bons dias.
Quando estou em Braga, todos os dias, estes dias, chego à Biblioteca, subo as escadas, entro na sala, abro a janela, olho para o jardim lá fora, sento-me à secretária, ligo o computador, ligo-me aos amigos, blá, blá, blá, e vamos lá trabalhar que se faz, trabalho, trabalho, trabalho, e aí a meia manhã, por volta das onze ou assim, quando calha de alguém mais ruidoso subir as escadas, rasgando-me o silêncio, e até a fita, quase, um bocadinho, rasgando toda a forma de, no silvo estridente com que afasta a fita, para o lado esquerdo, para subir, para subir cá, para cima. Penso. Tempo. Falta. Quanto.
Quanto tempo perdura um gesto bonito no coração? Quanto tempo perdura um gesto não-bonito no sítio que o aloja e que não é, será, não deve ser, o coração?
Há mais de vinte anos que os meus pés, pé ante pé, mão ante mão, e o meu coração, pé ante pé, mão ante mão, conhecem das mãos, o calor, o calor das mãos da minha mãe. E vai ser sempre assim. Sei. Daqui a vinte, quarenta, sessenta anos, vai ser assim, vai continuar a ser assim. Daqui a vinte, quarenta, sessenta anos, quando me disserem: Define ‘mãe’. E eu: Mãe é um calorzinho nos pés, um calorzinho que vai dos pés ao coração em movimentos circulares de doçura; em suma, Mãe é um calorzinho bom que te enche o coração. (Mamã, falta menos de quatro dias!)
Quando estou no Porto, na casa dos meus pais que é nossa, minha, enfim. Quando estou no Porto, na casa dos meus pais que é minha, em frente ao plasma ao fim do dia, estes dias, o ruído do aquecedor lembra aos meus pés as mãos quentes de massagens da minha mãe. As massagens, as mãos, o calorzinho, da minha mãe, lembram-me a minha mãe. A doçura, o sabor único, especial, que a minha mãe, desconfio que sem se aperceber sequer, empresta a tudo. E depois vou dormir. Tentar dormir.
Quando estou em Braga, todos os dias, ao chegar à Biblioteca penso quanto-tempo-falta-para, ao subir as escadas penso quanto-tempo-falta-para, ao entrar na sala penso quanto-tempo-falta-para, ao abrir a janela e olhar para o jardim lá fora penso quanto-tempo-falta-para, ao sentar-me à secretária penso quanto-tempo-falta-para, ao ligar ao computador penso quanto-tempo-falta-para o momento em que nenhum passo se ouve, nenhum passo, nenhum barulho, nenhuma forma de, antes do deslizar metálico da fita que separa as nossas salas me dizer a hora dos nossos bons dias.
Quando estou em Braga, todos os dias, estes dias, chego à Biblioteca, subo as escadas, entro na sala, abro a janela, olho para o jardim lá fora, sento-me à secretária, ligo o computador, ligo-me aos amigos, blá, blá, blá, e vamos lá trabalhar que se faz, trabalho, trabalho, trabalho, e aí a meia manhã, por volta das onze ou assim, quando calha de alguém mais ruidoso subir as escadas, rasgando-me o silêncio, e até a fita, quase, um bocadinho, rasgando toda a forma de, no silvo estridente com que afasta a fita, para o lado esquerdo, para subir, para subir cá, para cima. Penso. Tempo. Falta. Quanto.
Quanto tempo perdura um gesto bonito no coração? Quanto tempo perdura um gesto não-bonito no sítio que o aloja e que não é, será, não deve ser, o coração?
Há mais de vinte anos que os meus pés, pé ante pé, mão ante mão, e o meu coração, pé ante pé, mão ante mão, conhecem das mãos, o calor, o calor das mãos da minha mãe. E vai ser sempre assim. Sei. Daqui a vinte, quarenta, sessenta anos, vai ser assim, vai continuar a ser assim. Daqui a vinte, quarenta, sessenta anos, quando me disserem: Define ‘mãe’. E eu: Mãe é um calorzinho nos pés, um calorzinho que vai dos pés ao coração em movimentos circulares de doçura; em suma, Mãe é um calorzinho bom que te enche o coração. (Mamã, falta menos de quatro dias!)
10 comentários:
Pés... é sempre a andar! ;)
p.s.- será que o meu filhote também se vai lembrar assim de mim? Eu quero! (mas é mais os beijinhos que lhe dou no pescoço e ele fica quietinho e a sorrir...)
muito, muito doce, Joana. :)
até amanhã*
Marisa,
I knew it!!! Sabia que te ias perguntar se o teu filho...
:)))))))))))))))))))))))))))))
Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiim, claro que sim! ;)
Jinhos.
Ana Salomé,
Like yourself. ;)
Reconhecem-se, as pessoas que... you know...
Jinhos até amanhã!
Dos textos mais bonitos que ja te li... tao bonito...! Um beijo a tua Mae!
Como é doce e bonito esse "arrecadar" de património sentimental,para um dia...
E já sabe( e mais que sabe) que dá cobiça à gente que nunca conheceu essa forma de "calorzinho" ? Bjs.
Amiga JJ,
Ternurento texto bem apropriado à época que atravessamos! Nada como uma mãe ternurenta para nos acalentar a alma...
Aproveito para lhe desejar um Bom Natal, na companhia dos seus entes queridos.
Cumprimentos,
Carlos
bem, já devo ter vindo aqui umas quinhentas mil vezes e saio sempre sem dizer nada sobre esta pequenina pérola que aqui está... calaste-me mesmo...
Quanto tempo perdura um gesto bonito no coração?
:)
beijinho grande*
Vanessa,
É para veres como fico de cada vez que vou (e saio e regresso e volto a sair... mudíiiiiiiiiiiiiiiissima) do teu cantinho. :P
Jinhos.
Cientista,
Modéstia à parte, andas a ler-me pouco... ;)
Querida Maria de Lourdes,
Há um filme, Sweet November, em que a heroína ensina a uma data de pretendes como a poder reconhecer sem ver, uma espécie de (re)conhecimento a partir do sentir com todos os sentidos excepto a visão, acho que já a (re)conheço assim. :)))))))))))))))
Loo Rock,
Grande descoberta agora, Carlos! (Gosto muuuuuito de nomes. De conhecer. O nome.) Boas Festas para si e para os seus, espero que... na terra que é nossa! :)
Jinhos a todos.
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