sexta-feira, dezembro 05, 2008

Um dia em que um outro mês vá alto


Se eu disser: ‘Nesta altura do mês’, isso quer dizer ‘neste tempo em que o mês (já) vai alto’, certo?

Apesar de os meses serem feitos de altos e baixos, naturalmente, a expressão ‘Nesta altura do mês’ não quer dizer que este momento preciso que quero descrever é um alto, pois não? É que definitivamente não é um alto. Não é por certo aquela altura do mês em que a lágrima é fácil e a ingestão de chocolate também. É pior. Nem alto, nem baixo, não sei o que é, mas é a altura do mês em que não posso entrar na Zara.

Porque vou logo direitinha ao cabide a meio da loja e gosto de toda e qualquer roupa que lá esteja e depois de o dizer interiormente mil vezes, confirmo com quem está comigo é lindo, linda, conforme a peça de roupa, no plural também, e quem está comigo diz normalmente sim é, mas Joana... é, oh pá como é que tu nunca, então este é o cabide, és sempre a mesma coisa! E é então que o círculo roxo por cima do cabide me entra pelos olhos dentro e aquelas letras grandes, gordas, me cegam pela enésima vez no ano, pela primeira e última do mês. Zara Mum. E o senhor, senhora, menino, menina, conforme a loja e a altura do dia, do mês, em que vamos, a pessoa que está na caixa, ontem era um senhor, – porque é que esse cabide fica sempre perto da caixa em funcionamento? – dá um sorrisinho à pessoa que está comigo e pisca o olho à pessoa que está comigo e ela retribui, divertida, e eu coro e digo vamos embora, faz-se tarde.

Vamos. Quem está comigo a decidir a que loja vamos a seguir – as outras lojas a que costumamos ir não têm cabides do género, só aquela, aquela só! – e eu a olhar para o vazio e daí, quase reflexivamente, para o guarda-chuva que vou arrastando, para os meus sapatos, para o vestido, para ausência de cintura do vestido, para a cintura subida do top do dia anterior, para a ausência de cintura do poncho do outro dia, eu a olhar para o vazio, para o tempo em que comprava a roupa que me encantava, só porque sim, sem olhar a ondes, cabides e círculos; tempos houve em que comprei muita coisa de cabides assim e só quando cheguei a casa é que as letras, magrinhas, da etiqueta me cegaram. Ou iluminaram. Eu a pensar que coisa, este cabide, esta loja, esta altura do mês, porque é que eu, ninguém que conheço, que coisa. Eu a pensar já foi pior, um dia vai passar, um dia por certo, um dia do nada, um dia tal como veio, um dia.

Ontem foi assim.

Mas talvez um dia... Um dia em que um outro mês vá alto.

1 comentário:

Marta disse...

São tão bonitos esses tops,esses vestidos, essas blusas... Tomara que cheguem os saldos, eheheheh!

Jinhos.

Marisa.