Se apagarmos as paredes, as janelas e as portas, à força de as vermos em todas as paredes, janelas e portas; se pusermos para trás das costas o jardim, e todos os jardins forem nossos; se fecharmos no coração o lago, as árvores, o cheiro das flores e dos frutos, se desligarmos as luzes dos candeeiros, corrermos as cortinas, se deitarmos para dentro do escuro a mobília, toda a mobília, que fica da casa?
Tenho andado a pensar muito nisto.
Porque tenho andado por fora, porque tenho andado por casa, porque tenho andado por dentro, porque tenho andado com saudades. Porque tenho muitas casas. “Casa é o lugar a que se regressa sempre”, dei comigo a concordar há dias. (Tenho muitas casas. É por isso.)
É um regresso maior. Não é um regresso qualquer, o regresso sistemático. É um regresso bonito, daquele de quando a menina do bar ainda se lembra do chá que costumo beber ao fim da manhã ou ao fim da tarde e isso, é este!, me faz sorrir e não apenas para disfarçar que corei. É um regresso com significado, daquele de quando vou almoçar com uma amiga, demoramos, muito, queremos regressar ao trabalho, pouco, e acende-se-me, azul piscante, uma mensagem no telemóvel que contém invariavelmente “Joana não a tenho visto pela Biblioteca, espero que esteja tudo bem consigo, ...”, e me lembro de que terá sido porventura muito tempo, muito tempo sem ir à Biblioteca, muito tempo dentro do gabinete da Faculdade, muito tempo passado em casa, terá sido porventura duas semanas, muito tempo, duas semanas e três dias, exactamente, muito tempo.
Mas não é o regresso. Absoluto, concreto e definido. O regresso. O regresso a casa. Um lugar, casa, que pode nem ser morada com direito a entrada na lista telefónica; um lugar, casa, que pode nem ter jardim ou cortinas; um lugar, casa, que pode ser um corpo, um lugar, casa, de abraços, palavras e gestos; um lugar, casa, em que se morre, se nasce, se renasce, se sonha, se espera – se vive; um lugar, casa, nosso, quando cessa toda a procura. Um lugar – aquele onde cessa toda a procura. Casa.
Tenho andado a pensar muito nisto.
Porque tenho andado por fora, porque tenho andado por casa, porque tenho andado por dentro, porque tenho andado com saudades. Porque tenho muitas casas. “Casa é o lugar a que se regressa sempre”, dei comigo a concordar há dias. (Tenho muitas casas. É por isso.)
É um regresso maior. Não é um regresso qualquer, o regresso sistemático. É um regresso bonito, daquele de quando a menina do bar ainda se lembra do chá que costumo beber ao fim da manhã ou ao fim da tarde e isso, é este!, me faz sorrir e não apenas para disfarçar que corei. É um regresso com significado, daquele de quando vou almoçar com uma amiga, demoramos, muito, queremos regressar ao trabalho, pouco, e acende-se-me, azul piscante, uma mensagem no telemóvel que contém invariavelmente “Joana não a tenho visto pela Biblioteca, espero que esteja tudo bem consigo, ...”, e me lembro de que terá sido porventura muito tempo, muito tempo sem ir à Biblioteca, muito tempo dentro do gabinete da Faculdade, muito tempo passado em casa, terá sido porventura duas semanas, muito tempo, duas semanas e três dias, exactamente, muito tempo.
Mas não é o regresso. Absoluto, concreto e definido. O regresso. O regresso a casa. Um lugar, casa, que pode nem ser morada com direito a entrada na lista telefónica; um lugar, casa, que pode nem ter jardim ou cortinas; um lugar, casa, que pode ser um corpo, um lugar, casa, de abraços, palavras e gestos; um lugar, casa, em que se morre, se nasce, se renasce, se sonha, se espera – se vive; um lugar, casa, nosso, quando cessa toda a procura. Um lugar – aquele onde cessa toda a procura. Casa.
8 comentários:
e quem procura sempre?
(...)
"Voltar a casa"... tive de ler o teu e ir ver novamente o último post do antídoto porque acho que os textos se complementam.
Para mim a casa é o lar, é regressar às origens, mas há outros sítios que também são a nossa casa. Não é à toa que ouvimos os professores a chamarem casa às faculdades onde estudaram e onde dão aulas.
Jinhos.
As casas marcam-nos para sempre! Aqueles jardins "perfumados de flores", as vozes familiares, os ruídos da nossa rua, do autocarro que passa sempre no tempo exacto. Chegamos a ter saudades de determinados cantos, do caramanchão com heras, da fruta que amadurece sem pressa, daquele olhar que se estende pelo horizonte. Nada melhor do que o nosso Monte para sentir a melancolia duma tarde de Verão.
Loorock
Eu também tenho muitas casas. Eu também 'sinto' muitas casas. Para mim, Casa, é conforto. É sentir que podem vir todos os ventos e todas as tempestades do mundo que vou estar protegida e que nenhum pedacinho de ar vai tocar na minha face. E isso encontro em muitos sítios [- leia-se 'em muitas pessoas']. Em muitos abraços, em muitos sorrisos que se desenham para mim. E as minhas casas, as de paredes e portas e janelas, podem ser acolhedoras. Mas não são melhores, nem sequer mais importantes, do que as Casas, que guardo aqui dentro.
Um beijinho :)*
a nossa casa é o mundo em nós: são os cheiros, os cantos, os calores e os frios, as coisas que o mundo nos diz. chegamos a casa quando estamos no conforto espacial que nos protege
que conforto: onde cessa toda a procura. que alívio, que delícia!
**
Tenho tantas casas... O Porto e a de que sinto mais falta. S. Pedro de Moel e a que recordo todos os dias. Lisboa e a por qual suspiro de vez em quando. Madrid e a que faz o meu coracao com forca. Barcelona e onde vivo e onde me sinto feliz. Quem pode dizer onde vai ser a nossa proxima casa?
Vanessa,
Os ingleses dizem que triunfa na vida quem faz as perguntas certas, muito mais do que quem lhes tenta responder.
Diz que triunfar na vida é ser feliz. :))))))))))))))))))))))))
Marisa,
Casa é o lar. Mesmo!
Loo Rock,
O seu comentário só podia... O comentário de um conterrâneo, fervente de sentimento ilhéu. :))
Frida,
As casas que guardamos dentro. Como me lês bem! ;)
Comboio,
A nossa casa é o mundo em nós. Outro bem leitor! :))))))))))))))))
Raquel,
Está tudo dito...
K.,
Ninguém pode dizer. Sabe-se.
Jinhos a todos.
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