domingo, dezembro 13, 2009

De um Natal de natais


Há natais dentro do Natal. Natais pequeninos dentro do Natal. Natais pequeninos a acontecerem todos os dias do ano - quando, de novo no quotidiano, se espera muito pouco, e, talvez por isso, se tende a receber quase tudo de olhos e mãos dormentes; natais pequeninos a acontecerem também nesta altura de Natal e a serem diferentes, a serem mais: a surpreenderem-nos o coração, a acordarem-nos os olhos e as mãos, a redefinirem-nos a quadra.

Um dia, já estaria no segundo ou no terceiro ano do curso, cruzaram-se nos corredores da escola o meu professor de Grego e a minha irmã Teresa. Seguimos áreas diferentes, o meu professor tê-la-ia visto comigo uma ou duas vezes, mas terá sido o suficiente para. Perguntou-lhe por mim - nessa altura, ao contrário dos meus colegas de liceu, eu ia pouquíssmas vezes à Madeira, suponho que terá de alguma forma estranhado essa minha condição diferenciada -, disse à minha irmã que gostaria muito de não perder o contacto, deu-lhe o número de telefone de casa, obrigou-a a prometer que eu lhe ligaria nas férias do Natal.

Sem jeito, mas obediente, nesse Natal liguei. Tenho o meu professor de Grego cativo de uma estima e de uma admiração sem paralelo na minha vida escolar. Além de profissionalíssimo, antes e depois de o ser, humaníssimo. E o quanto estas coisas de decidem carácteres e futuros aos dezassete anos... No entanto, a ligação custou-me: eu a pensar no quanto há barreiras que são confortáveis, seguras, eu a pensar que a admiração é uma coisa que me apouca sempre - tendo a ser muito, muito lacónica quando; eu a pensar que o quanto preferia não ter de ligar era o mesmo quanto que o professor me merecia que ligasse.

Falámos. Recordo-me bem do regozijo na voz. (Anos depois viria a ter a impressão de não conseguir disfarçar o mesmo - coisas que só sentem totalmente, só se percebem, com anos de permeio, quando nos calha a vez de sentir um bocadinho nosso também o percurso de um aluno singular.) Antes de me despedir, acabei por me esquecer das barreiras e perguntei-lhe do Natal. "Foi à séria. Nasceu-nos um menino." À séria. Nunca mais me esqueci.

E hoje, hoje em particular, esta lembrança pulsou-me forte dentro. Um Natal à séria. Um que é de alegria, de paz, de esperança renovada, de fé, de futuro, muito para além das palavras 'alegria', 'paz', 'esperança renovada', 'fé', 'futuro', as palavras todas a caberem-nos no regaço, as palavras todas em doce soninho a sossegarem-nos a carga de mundo que, às vezes quase sem querer, levamos às costas.

Uma amiga vai ser tia. Não conheço natal mais Natal que esse.

5 comentários:

Vanessa disse...

:)))))))

acho que hoje só choro e rio, choro e rio, choro e rio... aiiieee!

(obrigada.)

*

ana salomé disse...

a rebentar de ternura. *

Joana disse...

Vanessa,

Isso é bom. Isso é MUITO bom. :))))))))))))))


Ana Salomé,

Aiiiiiiiiiiii! É isso mesmo.


Jinhos à tia e à Nita - coando o N e mexendo bem também fica tia. :P

Maria Rita disse...

São estas coisas que fazem com que o Natal seja mais um Natal. Tão amoroso! :)

Um beijinho*

Joana disse...

Frida,

Siiiiiim!

Acho que levamos todos um natalinho no bolso - eu sei que levo :D e espero, desejo, que os meus amigos também, de alguma forma... - mas este, este, realmente, é difícil de suplantar.


Aha!: Jinhos.
(ESTÁS CÁ!!!)