Aquelas palavras eram minhas e eram dela. Aqueles nomes eram meus e estavam dentro de mim, como estavam dentro dela. Éramos duas pessoas que tinham um segredo de palavras. Éramos duas pessoas que, ao longe, tinham partilhado um instante. Éramos duas pessoas. Tudo em nós era igual. Se a língua que aprendêramos em crianças era diferente, esse era um detalhe muito pequeno, porque partilhávamos o mundo e o significado das palavras. E, no entanto, as palavras que eu dissera, que eu escrevera, eram diferentes das palavras que ela entendera, longe, num país distante, porque éramos duas pessoas e as pessoas são diferentes, mas partilham o mundo, o significado das palavras, e essa partilha tem exactamente a mesma importância para todos os que são felizes e são tristes.
José Luis Peixoto, A Casa, A Escuridão
1 comentário:
É muito próximo do Gasset e fez-me perceber que, por uns momentos, lhe "peguei" a doença da comunicação que me tem "afectado" há uns tempos.Talvez por estar a fazer anos e sentir a rapidez com que se caminha para um qualquer limite,tem-me afligido pensar que há muita coisa que me deixou sem "palavras adequadas" e que não há afinal tanto tempo como isso para procurar mais e melhor. Bjs.
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