terça-feira, outubro 16, 2007

Proibido esquecer



Quando o poeta disse: "As palavras estão gastas" não se enganava. As palavras estão gastas. Na verdade, as palavras sempre estiveram gastas. São gastas, as palavras. São gastas, são ocas, são vazias, são etéreas, são barro, são pó, são nada. Nada. Nada são, nada valem. De nada servem. Para nada servem. Totalmente desprovidas de valor em si, geradas por justaposição, uma amálgama de signos miserável. Um nada.
E no entanto, um dia, decerto no início dos tempos, convencionou-se o oposto. São tudo: sol, céu, colo, revolta, sopro de vida, esperança, amparo, luta, sonho... Depois desse dia, muitas e muitas vezes, as palavras regressaram à sua original vaguidade. Sinais dos tempos.
Porque agora poucas vozes são capazes de encher as palavras de valor, é proibido esquecer Adriano Correia de Oliveira.

3 comentários:

Maria de Lourdes Beja disse...

Joaninha:lindíssimo este seu pequeno texto! É mesmo talvez o mais "bonito" que até agora li no seu SUBSTANTE. Vindo de uma linguista,traz-nos verdades muito mais verdadeiras,se é que o posso dizer.Decerto já percebeu a minha paixão pelas palavras,o gozo que me dá tirar o máximo "proveito" de cada uma delas.É,porisso,com desgosto que vejo desperdiçá-las, corrompê-las,estragá-las e quase me dói o que vai por aí...E me empenho em todos os sentidos no esforço de poder ensinar o que sei e gostaria que todos soubessem para que haja um futuro sem palavras "gastas"...E será ainda possível com outros Correia de Oliveira ?

Joana disse...

Maria de Lourdes,

É de uma generosidade desarmante comigo, coisas que só a amizade explica... :) Partilhamos a mesma paixão (pelas palavras), transportamos a chama e a missão de as tornarmos conhecidas e amadas. Somos nós também, à nossa maneira, "Correia(s) de Oliveira"! :)

Jinhos.

P.S.1 Tem razão, os meus melhores textos não estão de facto neste espaço. :P

Anónimo disse...

Gastas as palavras... ou o sentido que lhes queremos dar!