Encontrei a Marta no outro dia no Hiper Sá. É incrível como toda a gente pára por lá, não é por se estar na ilha, em todas as cidades há locais frequentados por toda a gente, no fundo as ilhas não existem, ou quando muito existirão onde, paradoxalmente o maior grau de evasão é possível, dentro...
Não a vi à primeira, ando muito desassossegada com a doença da minha mãe - fui lá de fugida com o meu pai entre uma e outra toma de medicação da minha mãe - andava, e ando, com a cabeça na lua (ou em coisas bem mais importantes que a lua, a terra e as pessoas que empurram carrinhos de compras à saída do corredor do hipermercado em que eu por acaso estou a entrar).
A Marta olha para mim de alto a baixo, há coisas que nunca mudam, e no fim lá solta o mais baixinho e cabisbaixo dos "Olá Joana" do mundo, mas poderoso o suficiente para me trazer de volta donde quer que eu estivesse e reflexivamente, ainda não me tinha apercebido que era ela, retribuir-lhe o "Olá"... "Marta, és tu, há quanto tempo, nem te estava a..., está tudo bem contigo?" Confesso que a sequência me saiu demasiado sequencial, tipo ladainha, e talvez por isso ou pelo tempo, ou pelas situações, por nós próprias também, ela terá depreendido que era retórica a interpelação. E disse que sim. E sorriu. E prosseguimos os nossos caminhos, opostos, quase imediatamente. Não era, porém. Não era. Queria mesmo saber como estava. Queria dizer-lhe que lamentava o falecimento relativamente recente e inesperado do pai, por acaso médico da minha mãe, queria falar-lhe da minha mãe agora e de mim, e de todas as coisas que são importantes, que a adolescência ficou lá atrás, numa outra vida, que o tempo passou e nós mudámos também, queria não ter dado pelo apagamento do sorriso e do brilho especial do olhar, queria trocar contactos e tomar café e... Não consegui. E acho que a vida é mesmo assim.
Deviam ensinar-nos na escola que ciclo é a redução de círculo e que não vida nunca andamos aos círculos mas percorremos um caminho, mais ou menos recto, composto por ciclos. A imagem do Principezinho é muito feliz neste sentido. Que volta e meia o passado bate-nos à porta em forma de reencontros absurdos de tão inesperados e de recontros de situações de perda, não necessariamente de doença, que nos agridem e nos minam a confiança no futuro, deviam ensinar-nos que não vale pena ter medo, que os nossos medos mais secretos estão sempre lá, à porta, prontos a receber-nos. E que o verso em branco do futuro está mesmo, mesmo, mesmo, no início e no fim, sempre, em branco.
4 comentários:
Mas que apoquentação com a saúde da sua MÃE! Àmanhã é dia de Páscoa,é de esperança,de renovo...Quero que seja assim convosco! Eu estou"abandonada" pelos meus amigos todos.Saíram todos de Lisboa,uns para perto outros para longe.É uma espécie de "o espectáculo" segue dentro de dias!Na paróquia,as celebrações habituais.Rezo por vós.Beijinhos.
Também já aprendi que a vida dá muitas voltas mas não andamos em circulo... Nada se repete verdadeiramente. Mas esses reencontros deixam nostalgia na primeira vaga mas depois arrumam a casa ;)
A vida é mesmo assim, a troca de contactos, os cafés, ficam esquecidos na palavra que não se diz ou quedam-se nas chamadas que não se fazem, mesmo quando se tem o contacto, mesmo quando se falou do café. Não é bom, umas vezes custa mais do que outras, mas...
Crescer, aquela coisa que jurámos que nunca nos ia acontecer...
Beijo.
Cientista,
"JuráMOS"??? Not me. Já nasci crescida, mas não amarga, isso a que chamas crescer, isso que não é bom e custa, não é o meu crescer, aquele com que nasci, é se calhar a amargura/o "crescer" a que nos obrigam alguns outros...
Jinhos.
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