Ele tem umas mãos tão pequenas! Que mania esta minha, a de andar a reparar para as mãos (e os dentes) das pessoas. O tempo faz desvanecer a importância que damos a estes pormenores e a exigência de perfeição que colocamos no que a vista alcança, mas os reflexos continuam, eléctricos, rápidos, os meus pelo menos.
Passei a manhã, as pausas da minha manhã, vá, a olhar-lhe para as mãos. E para o cabelo – farta-se de coçar a cabeça quando está aborrecido – como eu, exactamente como eu! (Não tem é, como eu, quem lhe diga que a continuar assim fica careca.) Há alturas em que fica inquieto e levanta-se e vai lá fora – se for necessário um livro lá de baixo, ou simplesmente se forem onze da manhã ou quatro da tarde, horas do café, demora uma eternidade. E quando volta, aborrecido, igual, põe-se a arrumar, com fúria, uma fúria de acordar ou nascer de novo ou viver realmente, a pilha de livros, todos os livros, utilizados e deixados no carrinho – foge à secretária, vazia e sozinha, como o diabo da cruz. Arrumada pilha, (re)compõe os da exposição, em frente, o que uma pessoa não faz para fugir ao tédio e... já era tempo, penso eu.
Depois, quando já não há mais nada para fazer, lá regressa à secretária, senta-se, olha, perdido, o computador, olha a meia dúzia de livros que tem em cima da mesa, faz o que tem a fazer, ocasionalmente abre um ou outro livro, abre, fecha, abre, lê um bocadinho, fecha, abre... A meio da manhã parou num, tê-lo-há lido um bom quarto de hora, com ele assim muito chegadinho ao peito, a olhar sorrateiramente para cima a ver se alguma sombra de gente se encaminhava para ele. Deixou nessa altura o tédio, deixou de coçar a cabeça, deixou o teclado, os livros por arrumar, deixou as mãos, como o olhar e ele próprio, todo ele, deixou-se descansar no livro, naquele livro.
Quem me dera ser livro. – Ainda que por alguns minutos só. Não resisti. a pensar.
4 comentários:
hummmm...
:) acho que sei de quem falas. só pode ser.
Só para testar
Guevara,
Hummmmmm... nada. Post fruto de uma observação aturada fruto de uma segunda-feira, a passada segunda-feira, verdadeiramente infrutífera...
Ana Salomé,
É. Exactamente... :)
Querida Maria de Lourdes,
Como vê, os seus comments chegam ocasionalmente (?) ao destino...
Jinhos a todos.
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