segunda-feira, junho 30, 2008

Quem me dera...

Ele tem umas mãos tão pequenas! Que mania esta minha, a de andar a reparar para as mãos (e os dentes) das pessoas. O tempo faz desvanecer a importância que damos a estes pormenores e a exigência de perfeição que colocamos no que a vista alcança, mas os reflexos continuam, eléctricos, rápidos, os meus pelo menos.

Passei a manhã, as pausas da minha manhã, vá, a olhar-lhe para as mãos. E para o cabelo – farta-se de coçar a cabeça quando está aborrecido – como eu, exactamente como eu! (Não tem é, como eu, quem lhe diga que a continuar assim fica careca.) Há alturas em que fica inquieto e levanta-se e vai lá fora – se for necessário um livro lá de baixo, ou simplesmente se forem onze da manhã ou quatro da tarde, horas do café, demora uma eternidade. E quando volta, aborrecido, igual, põe-se a arrumar, com fúria, uma fúria de acordar ou nascer de novo ou viver realmente, a pilha de livros, todos os livros, utilizados e deixados no carrinho – foge à secretária, vazia e sozinha, como o diabo da cruz. Arrumada pilha, (re)compõe os da exposição, em frente, o que uma pessoa não faz para fugir ao tédio e... já era tempo, penso eu.

Depois, quando já não há mais nada para fazer, lá regressa à secretária, senta-se, olha, perdido, o computador, olha a meia dúzia de livros que tem em cima da mesa, faz o que tem a fazer, ocasionalmente abre um ou outro livro, abre, fecha, abre, lê um bocadinho, fecha, abre... A meio da manhã parou num, tê-lo-há lido um bom quarto de hora, com ele assim muito chegadinho ao peito, a olhar sorrateiramente para cima a ver se alguma sombra de gente se encaminhava para ele. Deixou nessa altura o tédio, deixou de coçar a cabeça, deixou o teclado, os livros por arrumar, deixou as mãos, como o olhar e ele próprio, todo ele, deixou-se descansar no livro, naquele livro.

Quem me dera ser livro. – Ainda que por alguns minutos só. Não resisti. a pensar.

4 comentários:

Doppelganger. disse...

hummmm...

ana salomé disse...

:) acho que sei de quem falas. só pode ser.

Maria de Lourdes Beja disse...

Só para testar

Joana disse...

Guevara,

Hummmmmm... nada. Post fruto de uma observação aturada fruto de uma segunda-feira, a passada segunda-feira, verdadeiramente infrutífera...

Ana Salomé,

É. Exactamente... :)

Querida Maria de Lourdes,

Como vê, os seus comments chegam ocasionalmente (?) ao destino...

Jinhos a todos.