Andar de autocarro é uma aventura. Em qualquer lugar do mundo.
Em alguns sítios são o estado dos ditos que deixam a desejar (falta de limpeza, mecanismos antigos, não funcionais, assentos desconfortáveis), noutros, são as pessoas ou o cheiro que delas emana, em todos, os motoristas malucos que tiram a carta de pesados só sabem eles onde... Bem, na Madeira, maus equipamentos não existem, maus cheiros também não, mas os motoristas... e se a isto acrescentarmos a morfologia (no sentigo geológico do termo), quer dizer, o relevo desta ilha - muita curva apertada, muita subida inesperada, suada, medida, sofrida; muita descida ainda mais inesperada, desbragada, desmedida... enfim, uma Aventura digna da maiúscula.
Não costumo andar muito de autocarro, em sítio nenhum. Em Braga, ando mais a pé, no Porto também, e de metro e de comboio. Mas há coisas que não têm tempo, nem lugar... A ajuda a uma pessoa idosa é uma delas. Creio.
Ontem à tarde achei de ir ao Madeirashopping explorar o mais recente espaço FNAC do país (uma desilusão: demasiado espaço dedicado à tecnologia, uma secção de literatura portuguesa com uma selecção muito, muito pobre; melhor, a de literatura estrangeira mas ainda assim vergonhosa, de insuficiente, a contrastar com as secções, vergonhosas no sentido oposto, de dvds e cds!...) Podia ter ido a pé, moro pertíssimo (no Porto percorro distâncias muito maiores), mas enfim, tenho andado muito na lua, mas pouco, pouquíssimo, cá em baixo, a pé, preguiçosa (!), e até já nem me lembro do número do dito, sei que ia de pé, mas à espera de um lugar sentado decente, farta que estava do sobressalto a cada travagem, desnecessariamente brusca, do motorista.
A dada altura entra um senhor, certamente com mais sessenta anos que eu, com uns sacos - viria das compras (?), e depois de validar, com notória dificuldade, o seu ingresso magnético, senta-se num dos bancos da frente. Reparei que o motorista parou menos tempo do que devia para o senhor se sentar, mas parou e isso já não é mau, porque nem todos têm tanta (!) consideração pela terceira idade, dizem-me... Nem todos os motoristas, nem todas as pessoas de meia idade (meia será a segunda idade?), nem todos os jovens (será a primeira, não?), digo eu... Não é que, à saída, que o senhor efectuou pela porta de entrada - nova gentileza do motorista - lhe cai o boné, bem a meio do corredor do autocarro, e ninguém tem a educação de lho restituir imediatamente?!
O que vale é que, reflexivamente, a queda do boné acordou-me dos meus pensamentos, fez-me regressar da lua e propulsionou-me do meu assento, para lá da porta de saída do autocarro, para a frente, onde o senhor descia as escadas e duas dezenas de pessoas olhavam impávidas, mas deliciadas, o espectáculo do esforço da descida, e algumas, tenho a certeza, a inevitável - se eu não fosse eu e não tivesse feito notar o facto ao motorista e não tivesse entretanto corrido e restituído o dito ao senhor - perda do boné.
Recompensa da sociedade a um gesto, absolutamente automático, de respeito pelos mais velhos, de consideração pelos mais indefesos, nem sei, fiquemo-nos pela educação: oitenta olhos a maldizerem-me, a quererem expulsarem-me dali, um autocarro inteiro a olhar-me como se fosse um E.T. - verde, viscoso, nojento e desprezível... O E.T. que acabou com o espectáculo de circo dentro do autocarro.
14 comentários:
Os meus parabéns, pelo acto e pelo facto de trazeres aqui esta narrativa, mui boa por sinal.
Olá Joaninha
Engraçado!
Eu ontem estive, de manhã no Madeirashopping, não na FNAC, mas sim na Livraria Bertrand, à procura de uns livros.
Quase te apanhava por lá :)))
É verdade, ainda assistimos a cenas pouco dignificantes no seio da nossa sociedade e, nos transportes públicos.
Felizmente que não preciso deles, sou auto suficiente e tenho viatura própria.
Beijinhos Joaninha
é triste, mas infelizmente é a sociedade que temos! :x
cabe à juventude mudá-la (por muito difícil que isso pareça :x)..
Curti totil o blog.. ;) keep it goin'!
Só mesmo em Portugal... beijo.
por acaso mete impressão esse alheamento e indiferença das pessoas face a exemplos como o que relatas. ainda bem que não és como os demais.
Ah, mas tu és um ET muito querido!!! lol
Agora, essa da falta de educação e indiferença... mas o que é isto?! Já chegámos à Madeira ou quê?! lololol
viva joana... agradeço eu também ao ricardo pois estive aa escutar o post abaixo;) aprovado.
tds dizem ixo..o certo é k a vida kotidiana nos leva a pensar so em nos...e pco tempo temos para ver k ha pessoas k para olhar so por eles n conseguem e nos nem os vemos...eu spe q possa faço o....s bem k digo...s foxe no porto..n seria um sr tadinho,seria umvelho a refilar a dizer vcs n ajudam..??empurra empurra k kero sair...estes jovens..va levanta t k sou velho kero cadeira...e é por aturar cenas destas k dpos tds s tornam e iguais k axamos k n merecem...tento spe n ser indifirent pos k precisam....e ignoro os borkoes..loolololll.!:P viva aos ETS!:P bjinhs.Nininha
Por onde andas, que já te sinto falta dos posts?
Beijo
Olá Joaninha
Não é justo!
Agora que estamos habituados à tua presença, ausentas-te sem avisar!
Estou a sentir a falta de algo.
Beijinhos
E.,
Generosíssimo, como sempre.
Rui,
A sério? Eu o teria reconhecido pela certa! Tenho uma memória fotográfica prodigiosa!
Che,
Obrigada pela visita e pelo comentário, passo já no teu. ;)
Cândida,
A si também, obrigada pela visita e pelo comentário.
Anabela,
Bem, o E.T. do "ET-goes-home" era bem querido! :P
Musqueteira,
A música é muito bonita, tal como o gesto do Ricardo, que apesar das nossa diferenças, fez do impossível possível, do longe perto, do difícil fácil... para fazer a melhor avaliação, administrar os melhores cuidados de saúde, enfim dar o melhor tratamento à minha mana.
É bom saber que as nossas
quesílias pessoais pesam muito pouco no desempenho profissional do
Ricardo. (Podia ser diferente.) É bom saber que Profissionalismo é sinónimo de Humananidade para o Ricardo. Estão as urgências do HSJ de parabéns com o Dr. V., Ricardo para mim!
Cockie,
As generalizações são perigosas: há pessoas idosas tão desrespeitadoras quanto certos jovens e vice-versa. Não é por isso que vamos agora desconsiderar umas e outras.
Acerca do Ricardo, já disse tudo o que tinha a dizer.
Cientista e Rui,
Estou aqui, sem pc, daí a ausência, mas num pêndulo constante entre Porto e Braga a
partir de amanhã, como volto ao trabalho, tentarei ser mais regular nas postagens (nem que seja do gabinete.)
Jinhos a todos.
K.,
"Só mesmo em Portugal..." Fico?!... Não, não me parece, não quero pelo menos pensar assim (mas fico feliz da inclusão da Madeira no território português ;)...
Jinhos para ti também.
é realmente uma aventura.....
(adoro andar de autocarro, mesmo)
A vida é bela... Anda toda a gente à procura de espectáculo!! Não admira que sejámos o povo que mais consome telenovelas... Mas mais vale aturá-los que ser como eles...
bj
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