quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Um E.T. no autocarro


Andar de autocarro é uma aventura. Em qualquer lugar do mundo.

Em alguns sítios são o estado dos ditos que deixam a desejar (falta de limpeza, mecanismos antigos, não funcionais, assentos desconfortáveis), noutros, são as pessoas ou o cheiro que delas emana, em todos, os motoristas malucos que tiram a carta de pesados só sabem eles onde... Bem, na Madeira, maus equipamentos não existem, maus cheiros também não, mas os motoristas... e se a isto acrescentarmos a morfologia (no sentigo geológico do termo), quer dizer, o relevo desta ilha - muita curva apertada, muita subida inesperada, suada, medida, sofrida; muita descida ainda mais inesperada, desbragada, desmedida... enfim, uma Aventura digna da maiúscula.

Não costumo andar muito de autocarro, em sítio nenhum. Em Braga, ando mais a pé, no Porto também, e de metro e de comboio. Mas há coisas que não têm tempo, nem lugar... A ajuda a uma pessoa idosa é uma delas. Creio.

Ontem à tarde achei de ir ao Madeirashopping explorar o mais recente espaço FNAC do país (uma desilusão: demasiado espaço dedicado à tecnologia, uma secção de literatura portuguesa com uma selecção muito, muito pobre; melhor, a de literatura estrangeira mas ainda assim vergonhosa, de insuficiente, a contrastar com as secções, vergonhosas no sentido oposto, de dvds e cds!...) Podia ter ido a pé, moro pertíssimo (no Porto percorro distâncias muito maiores), mas enfim, tenho andado muito na lua, mas pouco, pouquíssimo, cá em baixo, a pé, preguiçosa (!), e até já nem me lembro do número do dito, sei que ia de pé, mas à espera de um lugar sentado decente, farta que estava do sobressalto a cada travagem, desnecessariamente brusca, do motorista.

A dada altura entra um senhor, certamente com mais sessenta anos que eu, com uns sacos - viria das compras (?), e depois de validar, com notória dificuldade, o seu ingresso magnético, senta-se num dos bancos da frente. Reparei que o motorista parou menos tempo do que devia para o senhor se sentar, mas parou e isso já não é mau, porque nem todos têm tanta (!) consideração pela terceira idade, dizem-me... Nem todos os motoristas, nem todas as pessoas de meia idade (meia será a segunda idade?), nem todos os jovens (será a primeira, não?), digo eu... Não é que, à saída, que o senhor efectuou pela porta de entrada - nova gentileza do motorista - lhe cai o boné, bem a meio do corredor do autocarro, e ninguém tem a educação de lho restituir imediatamente?!


O que vale é que, reflexivamente, a queda do boné acordou-me dos meus pensamentos, fez-me regressar da lua e propulsionou-me do meu assento, para lá da porta de saída do autocarro, para a frente, onde o senhor descia as escadas e duas dezenas de pessoas olhavam impávidas, mas deliciadas, o espectáculo do esforço da descida, e algumas, tenho a certeza, a inevitável - se eu não fosse eu e não tivesse feito notar o facto ao motorista e não tivesse entretanto corrido e restituído o dito ao senhor - perda do boné.

Recompensa da sociedade a um gesto, absolutamente automático, de respeito pelos mais velhos, de consideração pelos mais indefesos, nem sei, fiquemo-nos pela educação: oitenta olhos a maldizerem-me, a quererem expulsarem-me dali, um autocarro inteiro a olhar-me como se fosse um E.T. - verde, viscoso, nojento e desprezível... O E.T. que acabou com o espectáculo de circo dentro do autocarro.

14 comentários:

Erecteu disse...

Os meus parabéns, pelo acto e pelo facto de trazeres aqui esta narrativa, mui boa por sinal.

rui disse...

Olá Joaninha

Engraçado!
Eu ontem estive, de manhã no Madeirashopping, não na FNAC, mas sim na Livraria Bertrand, à procura de uns livros.
Quase te apanhava por lá :)))

É verdade, ainda assistimos a cenas pouco dignificantes no seio da nossa sociedade e, nos transportes públicos.
Felizmente que não preciso deles, sou auto suficiente e tenho viatura própria.

Beijinhos Joaninha

Che disse...

é triste, mas infelizmente é a sociedade que temos! :x
cabe à juventude mudá-la (por muito difícil que isso pareça :x)..

Curti totil o blog.. ;) keep it goin'!

K. disse...

Só mesmo em Portugal... beijo.

Anónimo disse...

por acaso mete impressão esse alheamento e indiferença das pessoas face a exemplos como o que relatas. ainda bem que não és como os demais.

Anabela disse...

Ah, mas tu és um ET muito querido!!! lol

Agora, essa da falta de educação e indiferença... mas o que é isto?! Já chegámos à Madeira ou quê?! lololol

musqueteira disse...

viva joana... agradeço eu também ao ricardo pois estive aa escutar o post abaixo;) aprovado.

Anónimo disse...

tds dizem ixo..o certo é k a vida kotidiana nos leva a pensar so em nos...e pco tempo temos para ver k ha pessoas k para olhar so por eles n conseguem e nos nem os vemos...eu spe q possa faço o....s bem k digo...s foxe no porto..n seria um sr tadinho,seria umvelho a refilar a dizer vcs n ajudam..??empurra empurra k kero sair...estes jovens..va levanta t k sou velho kero cadeira...e é por aturar cenas destas k dpos tds s tornam e iguais k axamos k n merecem...tento spe n ser indifirent pos k precisam....e ignoro os borkoes..loolololll.!:P viva aos ETS!:P bjinhs.Nininha

Anónimo disse...

Por onde andas, que já te sinto falta dos posts?
Beijo

rui disse...

Olá Joaninha

Não é justo!
Agora que estamos habituados à tua presença, ausentas-te sem avisar!
Estou a sentir a falta de algo.

Beijinhos

Joana disse...

E.,

Generosíssimo, como sempre.

Rui,

A sério? Eu o teria reconhecido pela certa! Tenho uma memória fotográfica prodigiosa!

Che,

Obrigada pela visita e pelo comentário, passo já no teu. ;)

Cândida,

A si também, obrigada pela visita e pelo comentário.

Anabela,

Bem, o E.T. do "ET-goes-home" era bem querido! :P

Musqueteira,

A música é muito bonita, tal como o gesto do Ricardo, que apesar das nossa diferenças, fez do impossível possível, do longe perto, do difícil fácil... para fazer a melhor avaliação, administrar os melhores cuidados de saúde, enfim dar o melhor tratamento à minha mana.

É bom saber que as nossas
quesílias pessoais pesam muito pouco no desempenho profissional do
Ricardo. (Podia ser diferente.) É bom saber que Profissionalismo é sinónimo de Humananidade para o Ricardo. Estão as urgências do HSJ de parabéns com o Dr. V., Ricardo para mim!

Cockie,

As generalizações são perigosas: há pessoas idosas tão desrespeitadoras quanto certos jovens e vice-versa. Não é por isso que vamos agora desconsiderar umas e outras.
Acerca do Ricardo, já disse tudo o que tinha a dizer.

Cientista e Rui,

Estou aqui, sem pc, daí a ausência, mas num pêndulo constante entre Porto e Braga a
partir de amanhã, como volto ao trabalho, tentarei ser mais regular nas postagens (nem que seja do gabinete.)

Jinhos a todos.

Joana disse...

K.,

"Só mesmo em Portugal..." Fico?!... Não, não me parece, não quero pelo menos pensar assim (mas fico feliz da inclusão da Madeira no território português ;)...

Jinhos para ti também.

intruso disse...

é realmente uma aventura.....
(adoro andar de autocarro, mesmo)

Eduardo disse...

A vida é bela... Anda toda a gente à procura de espectáculo!! Não admira que sejámos o povo que mais consome telenovelas... Mas mais vale aturá-los que ser como eles...
bj