quinta-feira, abril 19, 2007

Da utilidade de um deus ex machina


Tenho amigos, muitos, que nem calculava (e que em rigor não mereço, creio!) - revelam-se e eu fico um bocadinho constrangida, acanhada, sem jeito... ou seja, fico muito 'eu' ao vivo e a cores... Coisas minhas, enfim!

Também tenho (porque sou possessiva, muito - dizem-me, por isso devo ser, nem sei, sou, acho que sou.) um anjo da guarda que imagino alto, loiríssimo e doce, candidamente másculo - coisas minhas! - que nunca vi (nem quero, senão ficaria um bocadinho constrangida, acanhada, sem jeito...), mas que prezo imenso, já que é de uma competência a toda a prova, digno de maiúscula em todas as letrinhas que compõem o seu nome, que deve ter, mas que desconheço. Também.

No décimo primeiro ano, na disciplina de Grego, elaborei um trabalho acerca do Teatro Clássico. Maravilhei-me com tudo o que aprendi: principais tragediógrafos (e comediógrafos), os recintos, as máscaras, a anagnórise, a catárse, os estásimos, o coro, o deus ex machina. Este último mecanismo sempre me fascinou. Ainda hoje, quando o vejo em situações do quotidiano lembro-me do trabalho que mo deu a conhecer, aos dezasseis anos.

No teatro grego a expressão deus ex machina era utilizada para designar uma personagem, uma situação ou um evento, artificial ou improvável, que é introduzida na cena para resolver um problema. O significado etimológico vem do facto de muitas peças na Antiga Grécia terminarem com a descida de um deus, através de um guindaste, até ao local da encenação. O mesmo deus amarraria nessa altura todas apontas soltas da história. Actualmente, o significado da expressão evoluiu e indica todo o desenvolvimento de uma história que é considerado inverosímil, que não tem em consideração a lógica interna da história, que termina com uma situação improvável.

O meu anjo é deus (ex machina) segundo o significado actual da expressão. Retira-me através de um guindaste invisível, mas eficaz, dos cenários mais potencialmente perigosos, sempre num ápice. Seja porque não percebo na hora o que me dizem (ou querem dar a entender) certas pessoas, seja porque perco o metro do costume, ou porque acho de ir por aqui e não por ali, ou porque inexplicavelmente resisto a algo impossível e impensável, seja porque a única coisa que me apetece fazer é sair imediatamente, mas sem fazer estrilho, de determinado lugar...

Na realidade, são tantas e tão variadas as situações, que nem me consigo recordar com exactidão de todas agora. Muito embora duas ou três desfilem automaticamente na memória.

Para a posteridade o dia (de ontem) em que tendo ido almoçar a Braga para ver, entre garfadas à pressa, três amigas, e tratar de uma série de questões burocráticas - tendo, consequentemente, passado a tarde a correr de um lado para o outro, não consegui arranjar um tempinho, nem me lembrei (!), de ir ao meu local de trabalho, perdão, à Faculdade - o meu local de trabalho é em casa, só vou a Faculdade uma vez por semana "prestar contas" - fintando assim, soube-o agora, a única pessoa que conheço que não entende a assertividade de um não. Ufa!

7 comentários:

Doppelganger. disse...

eu também gostava de ter um deus ex machina ao meu dispor pa solucionar as minhas histórias...

(sim, já postei outra vez, iupi, agora já podes passar por lá)

bj

Oásis disse...

"O desenvolvimento de uma história que é considerado inverosímil" e "inexplicavelmente resisto a algo impossível e inexplicável".
Conclusão: és uma agradável surpresa, é o que é...
Jinhos

Joana disse...

Guevara,

Pois... nem toda a gente tem, por isso é que me sinto privilegiada. Ehehehe! :D

Orquídea,

Não sou não, tu é que és... com blog novo e tudo! :P

Jinhos a ambos.

Anónimo disse...

:P todos temos. é preciso é dar ouvidos e aceitar as coisas q nos acontecem k por vezes n a keremos...a verdade é k as vezes perdemos algo e é para nosso bem...e foi o ex machina........so k tamos a dar importancia ao q n merece e n vemos k o temos. :P bj.nininha THANKS DEI PR TUDO!:P

Anabela disse...

Vê lá tu, que temos em comum esse interesse.

Eu gosto particularmente de Eurípides, Sófocles e Ésquilo.

Ai, a Oresteia e a Antígona... lol

Anabela disse...

Ah, quanto às histórias inverosímeis e de desfechos inexplicáveis, assim de repente, gosto particularmente de David Lynch.

Mas isto sou eu, que sou maluquinha... lolol

Joana disse...

Cockie,

Ok. :*

Anabela,

Nem de propósito, debrucei-me precisamente sobre a Orestei nesse trabalho! :D

Quanto ao Lych: how intellectual!!! (Levo com ele há uns três fins de semanas, é uma espécie de mentor do meu irmão.) Pessoalmente ainda estanho, ainda vai levar um bocado a entranhar. ;)

Jinhos a ambas.