A família é um sonho que guardo no mesmo sítio que tenho, algures no lado esquerdo, reservado a projectos bonitos e longínquos, como a vinha debruçada para o Douro que vou ter um dia, ainda não, feliz ou infelizmente.
A vida leva-nos por caminhos diversos dos que imaginámos aos dezassete anos e orienta-nos de forma sábia, sempre, mesmo quando o contrário seja aquilo que se apresenta mais clara e rapidamente aos nossos olhos.
Gostava de ter uma família como a minha. Não exactamente como a minha, não é possível, claro, não o oposto da minha, não me seria possível nem expectável, claro, mas como a minha, no sentido em que os mesmos valores, mais ou menos tradicionais, estejam presentes e sirvam de conforto e guia. Conheço muita gente que não quer ter uma família como a sua, nem sequer quer ter família. E isso a mim causa-me espanto. Numa altura em que se defende cada vez mais uma sociedade plural em que muitas famílias já são mono-parentais, adoptivas, afectivas, e ainda assim, e bem, funcionais, há algo que me escapa e que temo sempre quando alguém, da minha idade e do meu meio, me diz que não querer ter, de todo, uma família. Claro que existe sempre a família dos sobrinhos, dos afilhados, dos amigos, dos vizinhos, dos gatos, dos cães, dos peixinhos dourados e dos cágados, e a do clube, e a do xadrez, do bridge, do golf, do ginásio, e a do emprego, e a do comboio ou do metro, ou do autocarro ou da pastelaria, até, mas, apesar do sentimento, tão bom, de pertença ser quaaaase o mesmo, não sei até que ponto a certeza da presença será a mesma na vida da gente.
Às vezes penso que é um problema da portugalidade, queremos tanto ser, estar, fazer como se é, está e faz lá fora, a maior parte das vezes sem saber porquê ou, pior, importando motivos, causas e razões que nos são completamente inadequadas, que caímos neste absurdo de não ser, fazer nada de jeito. Por todos os sítios onde estive conheci pessoas com a mesma vida, instável, desafiadora e exigente, que eu e a generalidade dos meus amigos que acham que Portugal não é um país de/para famílias, e que, em boa verdade não sendo portugueses, têm famílias belíssimas, algumas bem numerosas. São pessoas que, por acaso ou talvez não, não fazem férias há muito, nem vão ao ginásio e jantam fora poucas vezes, mas sabem receber como ninguém nos seus T1s+1, por entre desculpas acerca da lasagna que quase queimava por causa do banho da bebé, ou da camisa que estava impecável, e continua agora mas com nódoas de chocolate..., sabem receber pessoas como eu, que se deliciam com o à-vontade dos pequeninos, a turbulenta paz da casa e aquela chama nos olhos dos pais... Qualquer coisa de extraordinário que aquece o coração de uma maneira!
Fiquei a pensar nisto esta manhã enquanto vinha para Braga porque hoje é o Dia Internacional da Família. Aproveitem para estar, nem que seja ao telefone (como eu), com a vossa. Qualquer que ela seja.A vida leva-nos por caminhos diversos dos que imaginámos aos dezassete anos e orienta-nos de forma sábia, sempre, mesmo quando o contrário seja aquilo que se apresenta mais clara e rapidamente aos nossos olhos.
Gostava de ter uma família como a minha. Não exactamente como a minha, não é possível, claro, não o oposto da minha, não me seria possível nem expectável, claro, mas como a minha, no sentido em que os mesmos valores, mais ou menos tradicionais, estejam presentes e sirvam de conforto e guia. Conheço muita gente que não quer ter uma família como a sua, nem sequer quer ter família. E isso a mim causa-me espanto. Numa altura em que se defende cada vez mais uma sociedade plural em que muitas famílias já são mono-parentais, adoptivas, afectivas, e ainda assim, e bem, funcionais, há algo que me escapa e que temo sempre quando alguém, da minha idade e do meu meio, me diz que não querer ter, de todo, uma família. Claro que existe sempre a família dos sobrinhos, dos afilhados, dos amigos, dos vizinhos, dos gatos, dos cães, dos peixinhos dourados e dos cágados, e a do clube, e a do xadrez, do bridge, do golf, do ginásio, e a do emprego, e a do comboio ou do metro, ou do autocarro ou da pastelaria, até, mas, apesar do sentimento, tão bom, de pertença ser quaaaase o mesmo, não sei até que ponto a certeza da presença será a mesma na vida da gente.
Às vezes penso que é um problema da portugalidade, queremos tanto ser, estar, fazer como se é, está e faz lá fora, a maior parte das vezes sem saber porquê ou, pior, importando motivos, causas e razões que nos são completamente inadequadas, que caímos neste absurdo de não ser, fazer nada de jeito. Por todos os sítios onde estive conheci pessoas com a mesma vida, instável, desafiadora e exigente, que eu e a generalidade dos meus amigos que acham que Portugal não é um país de/para famílias, e que, em boa verdade não sendo portugueses, têm famílias belíssimas, algumas bem numerosas. São pessoas que, por acaso ou talvez não, não fazem férias há muito, nem vão ao ginásio e jantam fora poucas vezes, mas sabem receber como ninguém nos seus T1s+1, por entre desculpas acerca da lasagna que quase queimava por causa do banho da bebé, ou da camisa que estava impecável, e continua agora mas com nódoas de chocolate..., sabem receber pessoas como eu, que se deliciam com o à-vontade dos pequeninos, a turbulenta paz da casa e aquela chama nos olhos dos pais... Qualquer coisa de extraordinário que aquece o coração de uma maneira!
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu.
depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu.
hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva.
cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
José Luis Peixoto
3 comentários:
O teu texto e o de José Luis Peixoto sao simplesmente inspiradores...obrigado.
Francisa,
Eu é que agradeço o comentário, tão simpático, muito embora o do JLP esteja a galáxias (infinitamente acima) do meu. :)))
Jinhos.
Quantas vezes li esse poema. Somos cinco também, mas desde há anos que uns andam pela Suiça ou Angola, ou Madrid ou Veneza, ou Lisboa, ou Barcelona ou Moçambique ou Porto... Ainda estamos os cinco, mas em três países diferentes. Talvez em breve consigamos estar os cinco à mesa...
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