Tinha um amigo do liceu que sonhava abrir, em parceria com mais quatro de nós, uma loja de comércio alternativo, de quê já não sei ao certo, mas coisas de todo o mundo, acho eu, que ele era rapaz de coisas extraordinárias e muito mundo, de resto, fazia sentido, dizíamos todos, aos dezasseis muitas coisas alternativas fazem sentido...
Lembro-me que ele passava todo o nosso tempo livre, o tempo que eu empregava a ir ter aulas extra-curriculares de Italiano ou a ler La Gloire de Mon Pére e o Chateâu de ma Mére do Marcel Pagnol (que foi assim que a minha professora de Francês começou naquele meu décimo primeiro ano a tentar levar-me para as românicas, da melhor maneira, ao emprestar-me toda a sua Biblioteca), a projectar a loja, o seu interior, muito mais até do que o nome que lhe daríamos ou os produtos que poríamos à venda. “Cada um de nós tem que construir alguma coisa para se por lá dentro. Uma coisa feita pelas nossas mãos.”
Uma coisa feita pelas nossas mãos. A minha avó, muito antes de eu ir para a escola, achou de me ensinar a bordar, e, dizem que eu não me lembro, cheguei a fazê-lo melhor do que ela! Coisa absolutamente extraordinária. Só que a seguir veio a escola e o violino e o ballet e a natação e o inglês e o francês e o bordado ficou longe, longe, longe, naquele sítio nosso, a memória, onde ficam guardadas todas as coisas que um dia fizeram parte de nós mas que jamais sê-lo-ão de novo. Hoje em dia, bordar é coisa que não faço. Porque pura e simplesmente não sei, e aprender de novo é coisa para alguma paciência e muitas tardes de sol que emprego na Madeira a fazer outras coisas. Mas, apesar disso, gosto de trabalhos de mãos. Sempre gostei. Em miúda preferia as pinturas às bonecas; na adolescência passava noites seguidas com a minha mãe a guarnecer caixinhas de madeira, ou a confeccionar estojos de tecido; e ainda agora acumulo uma série de revistas para fazer bijouterias e malas, coisas bonitas, só para mim, só porque sim!
Aos fins de semana costuma-se fazer um bolo cá em casa, no Porto. Normalmente é a minha irmã mais nova que o faz, porque tem gosto nisso (e faz questão), mas ontem, não sei porquê, a vontade de assegurar a tradição era pouca, e a mim que me apetecia tanto (!), esperei, esperei, esperei e nada, quando por fim lhe “lembrei”....: “Se queres, faz tu.”
Conclusão mais óbvia e imediata: fiz eu. A verdade é que já não fazia um bolo há muito tempo, nem sei já se terei feito algum desde que moramos os quatro todos juntos no Porto. Se calhar não. Por isso, ou talvez não, nem sei, foi óbvia a receita que escolhi, a minha predilecta: Bolo de Maçã com Canela, e soube tão bem!... O procurar todos os ingredientes nos armários, o medir, o contar, o inventar (necessidade, a quanto obrigas!), o prestar atenção ao tempo, o desenformar, o comer quentinho, o consolar de uma tarde pouco doce (mas Parabéns ao SCP!), o comer ainda depois do jantar...
O meu amigo tinha razão em valorizar as coisas que fazemos com as mãos. Há coisas que fazemos com as nossas mãos e a que raramente damos valor. São coisas incrivelmente importantes e belas. Mesmo que durem apenas uma tarde.
Lembro-me que ele passava todo o nosso tempo livre, o tempo que eu empregava a ir ter aulas extra-curriculares de Italiano ou a ler La Gloire de Mon Pére e o Chateâu de ma Mére do Marcel Pagnol (que foi assim que a minha professora de Francês começou naquele meu décimo primeiro ano a tentar levar-me para as românicas, da melhor maneira, ao emprestar-me toda a sua Biblioteca), a projectar a loja, o seu interior, muito mais até do que o nome que lhe daríamos ou os produtos que poríamos à venda. “Cada um de nós tem que construir alguma coisa para se por lá dentro. Uma coisa feita pelas nossas mãos.”
Uma coisa feita pelas nossas mãos. A minha avó, muito antes de eu ir para a escola, achou de me ensinar a bordar, e, dizem que eu não me lembro, cheguei a fazê-lo melhor do que ela! Coisa absolutamente extraordinária. Só que a seguir veio a escola e o violino e o ballet e a natação e o inglês e o francês e o bordado ficou longe, longe, longe, naquele sítio nosso, a memória, onde ficam guardadas todas as coisas que um dia fizeram parte de nós mas que jamais sê-lo-ão de novo. Hoje em dia, bordar é coisa que não faço. Porque pura e simplesmente não sei, e aprender de novo é coisa para alguma paciência e muitas tardes de sol que emprego na Madeira a fazer outras coisas. Mas, apesar disso, gosto de trabalhos de mãos. Sempre gostei. Em miúda preferia as pinturas às bonecas; na adolescência passava noites seguidas com a minha mãe a guarnecer caixinhas de madeira, ou a confeccionar estojos de tecido; e ainda agora acumulo uma série de revistas para fazer bijouterias e malas, coisas bonitas, só para mim, só porque sim!
Aos fins de semana costuma-se fazer um bolo cá em casa, no Porto. Normalmente é a minha irmã mais nova que o faz, porque tem gosto nisso (e faz questão), mas ontem, não sei porquê, a vontade de assegurar a tradição era pouca, e a mim que me apetecia tanto (!), esperei, esperei, esperei e nada, quando por fim lhe “lembrei”....: “Se queres, faz tu.”
Conclusão mais óbvia e imediata: fiz eu. A verdade é que já não fazia um bolo há muito tempo, nem sei já se terei feito algum desde que moramos os quatro todos juntos no Porto. Se calhar não. Por isso, ou talvez não, nem sei, foi óbvia a receita que escolhi, a minha predilecta: Bolo de Maçã com Canela, e soube tão bem!... O procurar todos os ingredientes nos armários, o medir, o contar, o inventar (necessidade, a quanto obrigas!), o prestar atenção ao tempo, o desenformar, o comer quentinho, o consolar de uma tarde pouco doce (mas Parabéns ao SCP!), o comer ainda depois do jantar...
O meu amigo tinha razão em valorizar as coisas que fazemos com as mãos. Há coisas que fazemos com as nossas mãos e a que raramente damos valor. São coisas incrivelmente importantes e belas. Mesmo que durem apenas uma tarde.
9 comentários:
Significa a frase final que já não sobrou um bocadinho para mim?
Ora nem mais!... :( Mas os olhos também comem, não é assim?
Jinhos.
é aí também que podemos ser felizes...(Adoro canela e maça... nham, nham!!!).
Siiiiiiiiiiiiimmmmm!!! Não se nota? :))))
Jinhos, rapariga com bom gosto. :P
Olá Joaninha
É bom sabermos fazer coisas com as nossas mãos. Feito por nós, tem um sabor especial.
Seja bolo de maçã, tocar violino ou então, escrever assim!
Mais uma vez deliciei-me com uma escrita maravilhosa.
Beijinhos, Joaninha
ps. Gosto da nova foto.
Rui,
Voltou! Fico muito feliz, é tão bom ler os seus comentários! :)
Por acaso esqueci-me de dizer que entre o Inglês e o Francês tive aulas de violino, enfim... por algum motivo me devo ter esquecido de mencionar...
Olhe que a minha escrita não chega nem aos calcanhares das suas fotografias, e a minha fotografia, enfim... loucuras de irmãos adolescentes ;) num Braga-Porto Domingo à tarde.
Jinhos.
A expressão "ficar com àgua na boca" não é figurada! Ai... Fará se não tivesse acabado de almoçar!
Quero! Preciso! Se não o bolo, pelo menos a receita!!
Fazemos coisas importantes com as nossas mãos, como dá-las a alguém. Bjoca Miss you!
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