quarta-feira, abril 22, 2009

As pessoas não têm a vida que escolhem, mas.

A juventude sai-me pelos poros estes dias. Sai-me do nariz em duas grandes borbulhas – a pior, maior, mais vermelha e mais detestavelmente borbulha, bem na pontinha do mesmo, à la bruxa de contos de fadas, insinua quem manda no meu nariz quando tento um sorriso, despreza-me quando, pela enésima vez, noite consecutiva, ponho um patch e penso amanhã é que vai ser. Não foi, nunca é. Ela continua ali, a sorrir e a desafiar-me, ali vermelha, inevitavelmente vermelha.

A juventude também me sai dos braços e das pernas, moídos, na força que não ando a ter para segurar os sacos das compras da semana e as garrafas nem sei já de quê e. A juventude sai-me ainda no trabalho deixo para depois, nas leituras que não completo, nos rabiscos que apago, nos bocadinhos de mim que vou mandando para o lixo. Estou velha. Ando velha estes dias.

Ontem fui ao médico. Por questões que nada têm a ver com a idade ou a juventude nem sequer com a velhice, porque andava há anos a adiar esta ida sem razão, porque esta semana pareceu-me a certa, porque às vezes temos mesmo de pontilhar todos os is e traçar os tês todos como quem larga um balão ou abre uma janela ao frio.

A determinada altura As pessoas não têm a vida que escolhem, mas, Joana, repare, não lhe parece, olhe que. Reparei. Pareceu-me. E já estava a olhar desde que entrei e me sentei.

Aquele cubículo pequeno, aquela janela fechada, aquela luz bonita, fora, aquela secretária, antiga, os papéis, aqueles impressos, a ficha, aquela caneta, a caligrafia, aquelas cadeiras, a cortina, a bata, a camisa, os óculos, o sorriso, aquelas palavras. As pessoas não têm a vida que escolhem, mas.

A juventude sai-me pelos poros estes dias. Entrarem-me estas coisas pelos ouvidos não a detém: passamos a vida a fazer escolhas, mesmo quando não escolhemos, ou até quando escolhemos não escolher. E um mas, mesmo quando sai da boca de um médico, mesmo quando nos chega em forma de esperança e com um sorriso paternal, mesmo quando quase aquece ao lembrar outros dias, uma vida mais simples, um mas chega para muito pouco estes dias. Velha.

7 comentários:

V. disse...

não escolher já é uma escolha, não é? engraçado, da última vez que fui ao médico falámos do mesmo assunto: As pessoas não têm a vida que escolhem, mas. e é tão verdade que chega a doer. daquelas dores que nem os médicos podem curar...

(mas, olha lá, qual velha qual quê?! :p estás é cada vez mais bonita, cada vez mais tu!)

talvez possa ir na 5a feira ao cidade do porto. depois conto coisas! :)

beijo*

Joana disse...

Vanessa,

Coberta de razão e coração, as always. :)))))))))))))))))))))

Conta que fico à espera.

Jinhos.

Oásis disse...

Cansada, não velha. E é "mayor", sff, velhos são os trapos, já dizia a minha avó!

Joana disse...

Marisa,

Mayor it is. O -y- agrada-me. :))))

Jinhos.

Ouriço-Cacheiro disse...

Diria que há pessoas que não têm a vida que escolhem, a vida faz a escolha por elas, portanto... guarda toda a juventude e todas as escolhas!

Joana disse...

Ouriço,

No worries: GUARDAR é comigo. Para o bem e para o mal, sou perita nisso de guardar... oh se tu soubesses! Ehehehe! ;)

Jinhos.

Oásis disse...

Muitos Parabéns!!!

:))

Jinhos gandes.