sábado, maio 23, 2009

A(vant)prés - ROMAIN DURIS & JOANNA PREISS e ANA SALOMÉ ao Sábado



um dia eu gostava de pensar que partiste para evitares ver a minha morte um dia eu gostava de pensar que és capaz de amar tanto. queria conseguir dizer. mas estou cansada de dizer coisas bonitas, acho, de verdade, que elas estão só comprometidas com os afectos de quem fica. e ficar, quando se vê partir, é ter o lugar desabrigado na estação. é ficar incomunicável com quem parte e com uma distância desajustada ao corpo que era próximo e que vai ficando cada vez mais pequeno ao longe, tão pequeno que se torna um infinitesimal ponto na linha de visão. e é a esse ponto que se acena, como um palhaço velho no circo, que limpa triste a máscara de tintas ao espelho e sabe que não há muito por onde sorrir. como um palhaço que perde a deixa e sabe que não cativa, mas mesmo assim continua a pedir que a banda toque. o amor eterno solta as últimas notas, preso à saliva de um trompetista mal pago, ao suor de um baterista com fome e ao melancólico suspiro do domador de leões a escutar a um canto. o amor eterno, garatuja, fífia, nota ao lado, o rosto do amado recolhido como tenda depois de fim-de-semana, decalcado na terra, disposto ao último acto. o vento. e mais nada. nem uma palavra tua que realmente me diga alguma coisa de verdade. que brilhe. demos um salto sem trampolim, para a queda.

7 comentários:

V. disse...

este filme é tão lindo. esta menina salomé é tão linda. faz tanta falta ler as palavras dela logo de manhã. (ihihihi!) e tu és tão linda! :)

ai. mas reler isto com esta cena tem efeitos secundários avassaladores. *

Joana disse...

Vanessa,

Pois é, pois é, pois faz, sou nada!, pois tem.

E ainda anteontem prometemos nunca mais falar destas coisas e ainda ontem estive com ela e, o que me custou manter a promessa!, mas mantive e agora... bolas, detesto o fim-de-semana!

ana salomé disse...

«Amar a fluidez do próprio amor é um sacrifício múltiplo, é o número infinito.[...] Conheço a dupla fraqueza, vi o meu semelhante tocar a morte sem querer renunciar. Estamos condenados pela existência e pela nossa deserção. Em nome do amor consagramos uniões, evocamos a palavra sem ter consciência até que ponto vivemos um mesmo destino. Aspiramos à felicidade eterna, à total irresponsabilidade.
Esvazio a evidência das palavras, há em mim deslocamentos mínimos, a ruína».
Isabel de Sá
in Escrevo para desistir, &etc.

Menina Joana, Menina Vanessa:
Vocês é que são lindíssimas.

Os olhos também falam e sabem ver a ruína de uma promessa mordida entre dentes. Falar do amado ou não falar dele, é sempre e ainda falar mais do que o possível.

Um beijinho tremendo nas minhas ricas e doces amigas.*
E tudo o mais que se agradece sem consiguir para tal arranjar palavras.

Encontrar-nos-emos na biblioteca
para um chá de frutos de vermelhos. :)

Joana disse...

Ana Catarina,

Encontrar-nos-emos certamente. :))

Jinhos sem mais (palavras).

Anónimo disse...

JJ : MAS QUE BELA FOTOGRAFIA NO DIA 22 !!!JÁ REPAROU NO "FLAGRANTE" DE VIDA,VIDA, VIDA...QUE SALTA DE LÁ PARA FORA ?

Anónimo disse...

enganei-me na data:é de 21...

Joana disse...

Querida Maria de Lourdes,

Sim, reparei, mais ou menos, acho que foi por isso que mais ou menos conscientemente a pus aqui. :)))

Acho que sem querer, ou querendo, possivelmente querendo, porque é minha amiga, sei, e os amigos são assim, lembram-nos sempre do que realmente importa... Então, querendo ou sem querer revelou (ou descobriu) por que acredito realmente em Deus. Acho que tem qualquer coisa a ver com a etimologia de 'entusiasmado', a tal de 'ter/levar Deus dentro'. Comigo é assim desde sempre: quanto piores se me afiguram os dias, mas ardo para para relativizar, esquecer, essas eventualidades. :)))))))))))))

Beijinhos! E obrigada. :D