O G-talk do G-mail depois de cair e tentar, às vezes muito esforçadamente e muitas vezes, re-conectar-se, o G-talk, quando regressa, grita por escrito: Voltamos! Um pouco como o Chat do Facebook: volta e meia, sempre que se faz Log in, parece-me, ou então simplesmente quando e porque lhe apetece – o Chat do Facebook nunca cai!... – eis que um WE’RE BACK!, em letras capitais, é proclamado por um smiley amarelo de sorriso largo, redondo, cheio de dentes brancos à mostra.
Voltei!, I’M BACK!, e, se procurarem bem, ainda encontram ali para cima alguma amarelice de smiley no meu quase sorriso fotográfico.
É bom voltar. É bom voltar aos lugares e às pessoas de que fazemos parte, aqueles que também já fazem parte de nós, mesmo quando não se pensa nisso, não se quer pensar, mesmo quando não nos damos conta, fingimos não dar, mesmo quando refilamos e achamos que patetice!, nada a ver!, essa agora!. Dizem-nos quem somos, os lugares e as pessoas de que fazemos parte, os tais que fazem parte de nós.
Há mais de dois anos que apanho o metro antes das sete no Marquês. Há mais de dois anos que o apanham comigo dois senhores: um da minha idade, de crista cor de laranja oxigenado – é possível, acreditem!, que me mira com detalhe – para acordar certamente..., outro um pouco mais velho, sempre encostado a parede, sempre a ler O Jogo quando eu chego, sempre a entrar logo a seguir a mim, sempre a sentar no banco da frente. Quando saio em São Bento há uma senhora brasileira, percebi há pouco numa conversa de telemóvel furtiva, que sai de uma das carruagens da frente e prossegue para a estação esperar o mesmo comboio que eu, embora não saiba exactamente onde, eclipsa-se!, mas segue para Braga, como eu, como o informático, como a senhora bonita dos olhos grandes e tristes..., às sete e meia. Em Campanhã, ou Ermesinde, ainda não percebi porquê a variação, entram os três senhores de meia-idade para quem a minha coabitação com o informático faz(ia) alguma espécie. Em Ermesinde também entra um senhor que rivaliza comigo nas boas leituras. Entra, senta-se, sempre perto, mas nunca comigo; entra, olha o livro que estou a ler, abre o dele e começa também. Às vezes, quando me cansou uma ou outra leitura noite dentro, troco os livros pelos phones, ao entrar e dar-se de conta, trata logo de por os dele a acompanhar a leitura solitária; ah, nos intervalos frequentíssimos que se impõe, em quinze minutos de viagem, olha janela fora para onde eu olho. Quando esse senhor sai, em Famalicão, entram os miúdos do costume e o João, com todos as palavras nos olhos, todos os gestos, todos os sonhos, toda a ternura do mundo. Tudo o que é suficiente quando se tem dezasseis, dezassete anos. A chegada a Braga, mesmo quando o comboio chega a tempo e tudo e tudo, é sempre uma e a mesma luta: toda a gente grande ao molho para ver quem sai primeiro do lugar e mais depressa do comboio. É a luta grande. A luta pequena é a do João. A luta pequena é a do João a tentar persuadir, o mais discretamente possível, todo um grupo de amigos a entrar na luta grande. A luta pequena é a de todos os dias do João por uma brisa leve e doce da minha pressa. Aquela que exala o cheirinho do meu pescoço, do meu ombro, no passo apressado da saída. Normalmente é Nina da Nina Ricci ou Perfume de Baunilha do Bodyshop, dependendo do dia, da disposição, enfim. A luta pequena é a de todos os dias do João de só se levantarem os amigos, quando ele se levanta – que é quando eu me levanto, de só sairem, todos, quando ele sai – que é, curiosamente, quando eu saio. Os miúdos ficam para trás enquanto o autocarro escolar não chega, eu continuo, a pressa também, na subida até ao pequeno-almoço. Às vezes dois pares de pernas da minha altura me ultrapassam, das outras vezes os dois executivos distraem-se na conversa e o passo abranda esquecido. Há um que costuma sentar-se comigo no regresso – é o mais alto e mais novo, o que sorri ao meu sorriso quando migro do roxo de segunda-feira, do rosa de terça, do amarelo de quarta,..., da gravata para os botões de punho redondos, tudo do mesmo padrão, e tecido, sempre. Quando por fim me sento para o pequeno-almoço do costume no sítio do costume, depois de dar os bons-dias à diligência imbatível do senhor do café, acaba-se o sleeping mode. Biblioteca. Faculdade. Biblioteca. Mais um dia que começa, aproveitá-lo, aproveitá-lo, aproveitá-lo.
Voltei! Que nunca me faltem pessoas assim, certas, nesta outra viagem maior.
Voltei!, I’M BACK!, e, se procurarem bem, ainda encontram ali para cima alguma amarelice de smiley no meu quase sorriso fotográfico.
É bom voltar. É bom voltar aos lugares e às pessoas de que fazemos parte, aqueles que também já fazem parte de nós, mesmo quando não se pensa nisso, não se quer pensar, mesmo quando não nos damos conta, fingimos não dar, mesmo quando refilamos e achamos que patetice!, nada a ver!, essa agora!. Dizem-nos quem somos, os lugares e as pessoas de que fazemos parte, os tais que fazem parte de nós.
Há mais de dois anos que apanho o metro antes das sete no Marquês. Há mais de dois anos que o apanham comigo dois senhores: um da minha idade, de crista cor de laranja oxigenado – é possível, acreditem!, que me mira com detalhe – para acordar certamente..., outro um pouco mais velho, sempre encostado a parede, sempre a ler O Jogo quando eu chego, sempre a entrar logo a seguir a mim, sempre a sentar no banco da frente. Quando saio em São Bento há uma senhora brasileira, percebi há pouco numa conversa de telemóvel furtiva, que sai de uma das carruagens da frente e prossegue para a estação esperar o mesmo comboio que eu, embora não saiba exactamente onde, eclipsa-se!, mas segue para Braga, como eu, como o informático, como a senhora bonita dos olhos grandes e tristes..., às sete e meia. Em Campanhã, ou Ermesinde, ainda não percebi porquê a variação, entram os três senhores de meia-idade para quem a minha coabitação com o informático faz(ia) alguma espécie. Em Ermesinde também entra um senhor que rivaliza comigo nas boas leituras. Entra, senta-se, sempre perto, mas nunca comigo; entra, olha o livro que estou a ler, abre o dele e começa também. Às vezes, quando me cansou uma ou outra leitura noite dentro, troco os livros pelos phones, ao entrar e dar-se de conta, trata logo de por os dele a acompanhar a leitura solitária; ah, nos intervalos frequentíssimos que se impõe, em quinze minutos de viagem, olha janela fora para onde eu olho. Quando esse senhor sai, em Famalicão, entram os miúdos do costume e o João, com todos as palavras nos olhos, todos os gestos, todos os sonhos, toda a ternura do mundo. Tudo o que é suficiente quando se tem dezasseis, dezassete anos. A chegada a Braga, mesmo quando o comboio chega a tempo e tudo e tudo, é sempre uma e a mesma luta: toda a gente grande ao molho para ver quem sai primeiro do lugar e mais depressa do comboio. É a luta grande. A luta pequena é a do João. A luta pequena é a do João a tentar persuadir, o mais discretamente possível, todo um grupo de amigos a entrar na luta grande. A luta pequena é a de todos os dias do João por uma brisa leve e doce da minha pressa. Aquela que exala o cheirinho do meu pescoço, do meu ombro, no passo apressado da saída. Normalmente é Nina da Nina Ricci ou Perfume de Baunilha do Bodyshop, dependendo do dia, da disposição, enfim. A luta pequena é a de todos os dias do João de só se levantarem os amigos, quando ele se levanta – que é quando eu me levanto, de só sairem, todos, quando ele sai – que é, curiosamente, quando eu saio. Os miúdos ficam para trás enquanto o autocarro escolar não chega, eu continuo, a pressa também, na subida até ao pequeno-almoço. Às vezes dois pares de pernas da minha altura me ultrapassam, das outras vezes os dois executivos distraem-se na conversa e o passo abranda esquecido. Há um que costuma sentar-se comigo no regresso – é o mais alto e mais novo, o que sorri ao meu sorriso quando migro do roxo de segunda-feira, do rosa de terça, do amarelo de quarta,..., da gravata para os botões de punho redondos, tudo do mesmo padrão, e tecido, sempre. Quando por fim me sento para o pequeno-almoço do costume no sítio do costume, depois de dar os bons-dias à diligência imbatível do senhor do café, acaba-se o sleeping mode. Biblioteca. Faculdade. Biblioteca. Mais um dia que começa, aproveitá-lo, aproveitá-lo, aproveitá-lo.
Voltei! Que nunca me faltem pessoas assim, certas, nesta outra viagem maior.
9 comentários:
Amiga Joana,
Ainda bem que voltou... Já lá vai a "formiga branca" roendo corações! You says "I'm Back!" I say you: Welcome! O sorriso, fez-me lembrar, a velha canção "A Shadow of your Smile". As suas viagens de comboio, tão estudadas, tão fisionómica detalhadas que se entrarmos no seu comboio, na sua carruagem, reconhecemos os viajantes!
Loo Rock,
I say: Thank you. :))))
Estás sempre comigo,arrumadinha no meu coração, nunca chegas a partir! Um bjinho GIGANTE!
100remos,
Eheheheheh! "There will never be another you!" ;)
Jinhos.
és muito gira!
tens um sorriso maroto muito bonito.
pareceu-me ir também, a caminho de Braga, no comboio da Linha do Minho.
Comboio,
;)
Jinhos.
Quão bem conheço esse trajecto.
A essas e a outras horas.
Viagens a publicar em diário impresso em papel.
Sugestão de mim, claro.
Beijinhos.
Tchi,
Sugestão quase tão bonita como o comentário que os comentários de ti são a modos que de deixar uma pessoa
tshiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. :))))))
Obrigada.
Jinhos.
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