Ossos longos, ossos chatos, ossos curtos, ossos irregulares. O osso é uma estrutura exclusiva dos animais vertebrados - a única que lhe sustenta o corpo e apoia os músculos para o movimento. É osso o que protege cada órgão vital do nosso corpo: o crânio protege o cérebro, as costelas, o coração. SUB-STANTE.
domingo, outubro 31, 2010
De dias que passam a ser nossos
sábado, outubro 30, 2010
De nos (re)conhecermos
quinta-feira, outubro 28, 2010
quarta-feira, outubro 27, 2010
Unabridged
domingo, outubro 24, 2010
A oração do humilde atravessa as nuvens*
sábado, outubro 23, 2010
sexta-feira, outubro 22, 2010
De Ler
quarta-feira, outubro 20, 2010
terça-feira, outubro 19, 2010
Os meus lugares, os meus poetas
segunda-feira, outubro 18, 2010
De certos prolegómenos
sexta-feira, outubro 15, 2010
Da necessidade de sublinhar um sublinhado
quinta-feira, outubro 14, 2010
Da morte do crioulo de Cochim
Pidgins e Crioulos era a matéria do final do ano na Faculdade. Se calhar porque os dias cresciam e o sol de Maio já avançava promessas de Verão, sempre me foi fácil falar do Português no mundo. Começava pela gradação que existe entre pidgin, crioulo e língua. Pidgin é toda a linguagem básica que serve a comunicação entre dois povos que não partilham, naturalmente, a mesma língua. Crioulo é a língua que se nativiza após descobrimento, colonização, invasão, aquela que, originada num pidgin, num pidgin e noutra língua, ou em duas línguas distintas, herda o léxico do descobridor, colonizador, invasor, e a gramática singular da(s) língua(s) nativa(s).
Crioulo etimologicamente vem de ‘criar’, ‘educar’, ‘ajudar a crescer’, e, não obstante o paternalismo que se possa ver na origem da palavra, os quase vinte Crioulos de Base Portuguesa espalham-se pelo globo e são presença de Portugal no mundo. Portugal como História, Portugal como conceito, marca, Portugal como cultura, está em regiões tão distintas como a Guiné Equatorial, Cabo Verde, Korlai, Perth, Antilhas holandesas, Suriname e Sri-Lanka.
Recebo por mail esta notícia. É mais corrente do que se possa pensar, nascerem e morrerem línguas. Da morte mais ou menos anunciada de uma língua à sensação cada vez mais forte de que vivemos um presente que desolha a História, que inclusive se preocupa com preservar dela os fragmentos que mais se coadunarem com a maioria, nas suas convicções e ideologias, é que é algo novo, um nexo que é um sinal, um anúncio de finais dos tempos, do começo de outra coisa qualquer, indicialmente retrocessa, de âmbito global, para a qual não estamos, em definitivo, preparados.
Do que vai para além da comoção
quarta-feira, outubro 13, 2010
terça-feira, outubro 12, 2010
Trabalhar cansa
Descia a rua, todas as ruas até chegar à Biblioteca, a contar as crianças pelo caminho – os filhos dos outros pelas mãos deles e dos pais deles, dos avós, como as migalhas de um conto longínquo de que se socorriam duas crianças para não perderem o seu norte, no meu caso o sul da manhã. Acho que há uma altura na nossa vida em que invejamos os filhos dos outros, como há uma altura em que invejamos os namorados, a figura, a popularidade, o dinheiro, as casas e os pais dos outros. Muitas alturas quando não se quer chã a vida.
A diferença entre um e outro momento – cada um dos outros momentos a que deliberadamente chamei alturas – é a idade, altura da vida, em que nos nascem e o que, naturalmente, pomos, ou nos é possível pôr, de nós, nessa demanda. De resto, entre a cupidez da adolescência e os projectos da idade adulta acaba por não haver muitas diferenças. Em todas as situações, é o tempo presente, a situação, que dá substância e importância, ardência, ao objecto do nosso desejo. E no entanto, todo o objecto de desejo depende de nós e não depende de nós.
Não sei se temos claro e consciente o alcance disto. Eu sei que não tinha até há muito pouco tempo. Não nos é possível fazer qualquer coisa a que nos determinemos. Qualquer coisa é muita coisa. E alguma da muita coisa não nos está pura e simplesmente reservada. Mas o reverso também é falso. Equilibrar-se neste arame é para poucos; requer muita fortaleza, quatro mãos e dois corações a bater como um. Algumas vezes menos que isso, outras mais. Há coisas nossas de antes dos tempos; há coisas nossas, façamos por elas; há coisas nossas, mesmo nesse sentido não fazendo nada.
A fortaleza, que não é substantivo concreto, é amplamente desconhecida da gente. Os poucos que a terão retido, nalgum fragmento remoto de uma infância longínqua de sábados longos a começarem com a catequese, equiparam-na à força. A força é uma presença de vitalidade física; a fortaleza, a correspondente espiritual –uma característica muito rara, difícil, exigente. A força nem sempre constrói, a fortaleza fá-lo sempre – e apazigua.
Entretive-me esta manhã cedo, ao acordar, com o telemóvel. Rodeamo-nos de maquinetas que, por nos facilitarem a vida, começam a fazer parte dela ao mesmo tempo que a contêm. E não pude deixar de pensar na incrível fortaleza da fragilidade. Mostrarmo-nos aos outros na nossa fragilidade é a maior prova de fortaleza que é esperança e confiança, que é amor e entrega – a da nossa vida à vida do outro, tudo o que se é nas mãos do outro, para cuidar.
Ontem à noite, muito a meio da noite, fui buscar o Trabalhar Cansa. Desconfio que lhe devo a atenção às migalhinhas no meu caminho esta manhã. O resto, devo-o ao telemóvel.
segunda-feira, outubro 11, 2010
De Um Céu Que É Um Abrigo
Reparti pelos dois serões do fim-de-semana o visionamento de The Sheltering Sky, um filme de Bernardo Bertolucci, com uma fotografia magnífica. Brevemente, trata-se da história de um casal de artistas que empreende, juntamente com um amigo, uma viagem pelo deserto. O início e o final da narrativa, moralizadores, estão a cargo de um senhor de olho vivo e muita idade que está sentado a um canto do bar da cidade que assiste à chegada dos protagonistas e à sua despedida possível.
Escudo-me da crítica cinéfila por não crer ter conhecimentos para tal e achar que escrever sobre o filme aqui e agora é o bastante. É boa a obra de arte com vida dentro. Qualquer obra de arte que tenha vida dentro questiona naturalmente a vida daqueles que a experienciam. No caso, a facilidade com que desolhamos a irrepetibilidade do presente, de vivências, momentos e condições que, por todas as razões, desabituámo-nos de ver como únicos. Vai um bocadinho mais além do carpe diem, que anda hoje tão longe de Horácio, tão nas bocas de um mundo precário e confuso. Não é o aproveitar o dia porque amanhã não se sabe, é o aproveitar o dia porque amanhã começa hoje.
É claro que isto vai contra a noção instituída do tempo como um continuum, cuja repartição se deve apenas à regulação da vida em sociedade; é igualmente claro que isto vai contra a psicologia contemporânea do amparo, em que tudo tem solução, nada é culpa nossa, e as felicidades e os bens-estar sucedem-se como autocarros. Nem tudo tem solução. Às vezes, a culpa é nossa (às vezes não, de todo). A felicidade e o bem-estar são substantivos abstractos, não se pluralizam.
Utilize-se sabiamente o tempo, empregue-se ardor na nossa entrega à vida, conduzamo-nos nela com sinceridade, administre-se bem a paixão, preservem-se as memórias como tesouros, cuide-se dos nossos como de nós próprios, demo-nos valor, dê-se valor ao outro, ao que temos. Atente-se no sol que nasce (e morre) todos os dias de uma manhã distinta e irrepetível. Nem o céu que nos abriga é sempre o mesmo.
quinta-feira, outubro 07, 2010
Cada momento
Milagres
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.
Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?
segunda-feira, outubro 04, 2010
Umbilicalidades
Quando fazemos anos, também estão de parabéns os nossos pais. E o contrário?
Hoje é Dia da Minha Mãe. Eu sei que não seria eu sem ela.