quinta-feira, outubro 07, 2010

Cada momento

The equestrian, Marc Chagall 1931

Milagres

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres:
ou ande eu pelas ruas de Manhattan,
ou erga a vista sobre os telhados
na direcção do céu,
ou pise com os pés descalços
bem na franja das águas pela praia,
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo,
ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem
/amo,
ou à mesa tome assento para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos na carruagem
de frente para mim,
ou siga as abelhas atarefadas
junto à colmeia antes do meio-dia de verão
ou animais pastando na campina
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha de um pôr-de-sol
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes,
ou o estranho contorno delicado e leve
da lua nova na primavera,
essas e outras coisas, uma e todas
— para mim são milagres,
umas ligadas às outras
ainda que cada uma bem distinta
e no seu próprio lugar.

Cada momento de luz ou de treva
é para mim um milagre,
milagre cada polegada cúbica de espaço,
cada metro quadrado da superfície da terra
por milagre se estende, cada pé
do interior está apinhado de milagres.

O mar é para mim um milagre sem fim:
os peixes nadando, as pedras,
o movimento das ondas,
os navios que vão com homens dentro
— existirão milagres mais estranhos?

Walt Whitman, Folhas de Erva
Relógio d'Água, 2003

2 comentários:

Maria Rita disse...

Apaixonei-me por este Senhor no ano passado. Conheci-o através do meu professor (também Ele um Senhor!) de Língua, Literatura e Cultura Americana e foi instantâneo o clic. Acho que o(s) descobri muito tardiamente, mas desde então nunca mais o(s) deixei.

:)
Um beijinho*

Joana disse...

Frida,

Tenho para mim que não há descobertas tardias. :D


;)



Jinhos.