quinta-feira, outubro 14, 2010

Da morte do crioulo de Cochim

Pidgins e Crioulos era a matéria do final do ano na Faculdade. Se calhar porque os dias cresciam e o sol de Maio já avançava promessas de Verão, sempre me foi fácil falar do Português no mundo. Começava pela gradação que existe entre pidgin, crioulo e língua. Pidgin é toda a linguagem básica que serve a comunicação entre dois povos que não partilham, naturalmente, a mesma língua. Crioulo é a língua que se nativiza após descobrimento, colonização, invasão, aquela que, originada num pidgin, num pidgin e noutra língua, ou em duas línguas distintas, herda o léxico do descobridor, colonizador, invasor, e a gramática singular da(s) língua(s) nativa(s).


Crioulo etimologicamente vem de ‘criar’, ‘educar’, ‘ajudar a crescer’, e, não obstante o paternalismo que se possa ver na origem da palavra, os quase vinte Crioulos de Base Portuguesa espalham-se pelo globo e são presença de Portugal no mundo. Portugal como História, Portugal como conceito, marca, Portugal como cultura, está em regiões tão distintas como a Guiné Equatorial, Cabo Verde, Korlai, Perth, Antilhas holandesas, Suriname e Sri-Lanka.


Recebo por mail esta notícia. É mais corrente do que se possa pensar, nascerem e morrerem línguas. Da morte mais ou menos anunciada de uma língua à sensação cada vez mais forte de que vivemos um presente que desolha a História, que inclusive se preocupa com preservar dela os fragmentos que mais se coadunarem com a maioria, nas suas convicções e ideologias, é que é algo novo, um nexo que é um sinal, um anúncio de finais dos tempos, do começo de outra coisa qualquer, indicialmente retrocessa, de âmbito global, para a qual não estamos, em definitivo, preparados.

Deixou de haver Portugal em Cochim.

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