Ossos longos, ossos chatos, ossos curtos, ossos irregulares. O osso é uma estrutura exclusiva dos animais vertebrados - a única que lhe sustenta o corpo e apoia os músculos para o movimento. É osso o que protege cada órgão vital do nosso corpo: o crânio protege o cérebro, as costelas, o coração. SUB-STANTE.
terça-feira, maio 31, 2011
Desapontado desabafo em jeito de pergunta
E-u-r-o-p-a
Coisas do 28 e outras coincidências bonitas - 9
segunda-feira, maio 30, 2011
O tempo de Gallimard
domingo, maio 29, 2011
sábado, maio 28, 2011
Da semana
sexta-feira, maio 27, 2011
The Allure of Love and Madness
W
Sounds heavy-going, and let’s face it, it probably is, though my interest was piqued. I work for a publisher with indelible connections to those three writers, and one whose editorial staff consists entirely of women. Feminist agendas are on our books. Judging from the trailer, the play’s approach seemed too direct for Woolf, too showy for Plath, but I could distinctly detect the influence of my poetic heroine Anne Sexton in Nostbakken’s pose.
Sexton killed herself in 1974, but the torchbearers of her confessional legacy include such poets at Clare Pollard, Helen Farish and Sharon Olds (who still hasn’t stopped writing about the time her parents tied her to a chair).
And yet this mode, largely speaking, is deeply unfashionable, with its connotations of rampant egotism, bad ethics and sloppy craftsmanship. Most critics and poets take T.S. Eliot’s high road (that poetry is not an expression of personality, but an escape from it) and look upon Confessional poetry as nothing but amateurish, introspective navel-gazing. How, they say, is a poem about menstruation at the age of forty necessary or relevant? Bring on the Aenead and Rilke.
And yet it is necessary and relevant. Intensely so. Poets like Sexton and Plath enabled a cultural expression of female discontent that anticipated the ideas of Betty Friedan’s The Feminist Mystique and Second-wave feminism. We owe these combustible figures much, not only for breaking down the white picket fences of poetic form but, by speaking in their own voices, changing what women could talk about not only in poetry but outside of poetry too. I can’t imagine a publishing landscape with such memoirs as Prozac Nation orThe Voice Inside My Head ever existing without the trail blazed by the oracular truth-sayers that came before them.
For all the criticisms The Big Smoke or Anne Sexton might attract, they signify a bravery I still don’t detect in most contemporary art forms. A one-woman, sixty-five minute, A capella play about madness and suicide might be a little too much to bear for most people, but it wholeheartedly embodies Sexton’s conviction: ‘In celebration of the woman I am...I sing for you, I dare to live.’And that can only be a good thing.
Tudo daqui.
The Letter
Like draggled fly's legs,
What can you tell of the flaring moon
Through the oak leaves?
Or of my uncertain window and the
bare floor
Spattered with moonlight?
Your silly quirks and twists have nothing
in them
Of blossoming hawthorns,
And this paper is dull, crisp, smooth,
virgin of loveliness
Beneath my hand.
I am tired, Beloved, of chafing my heart
against
The want of you;
Of squeezing it into little inkdrops,
And posting it.
And I scald alone, here, under the fire
Of the great moon.
quinta-feira, maio 26, 2011
quarta-feira, maio 25, 2011
Um sábio pode ser útil a outro sábio
Os indivíduos perversos fazem mal uns aos outros, tornam-se mutuamente piores, na medida em que despertam a ira, favorecem o mau carácter, enaltecem os prazeres; tais indivíduos são mesmo tanto mais nocivos quanto mais partilham os seus vícios e juntam as suas forças maléficas com um objectivo comum. O contrário é igualmente válido: um homem de bem só pode ser útil a outro homem de bem. "De que modo?", perguntarás tu. Transmitir-lhe-á o seu contentamento, reforçará a sua autoconfiança; a contemplação mútua da respectiva tranquilidade fará aumentar em ambos a alegria. Além disso pode ainda proporcionar-lhe o conhecimento de certas matérias, já que mesmo um sábio não pode saber tudo. E mesmo que soubesse tudo, outro sábio pode muito bem descobrir um método mais rápido para atingir o conhecimento da natureza e facilitar-lhe o acesso a um meio de melhor formular uma visão global das coisas. Um sábio pode ser útil a outro sábio, e não somente graças às suas próprias forças, mas graças também às daquele a quem está auxiliando. Claro que o primeiro, mesmo entregue apenas a si próprio, é capaz de desempenhar perfeitamente o seu papel. Todavia, embora corra com a velocidade que lhe é própria, nem por isso deixará de lhe aproveitar uma voz de incitamento.
Lúcio Aneu Séneca
Cartas a Lucílio
Trad. José António Segurado e Campos
FCG
2008
terça-feira, maio 24, 2011
segunda-feira, maio 23, 2011
Eucanaã encontra Sophia
Lisboa, 2001
Desde que li, pela primeira vez, a sua poesia, o nome de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919- 2004) instalou-se em mim como a visão de um mar novo, de uma natureza bela e incorrupta. Meu ideal de uma escrita clara e vertical, lírica e lógica, alimentou-se durante muito tempo e exclusivamente de sua obra, fundada como um gesto de libertação dos limites de tempo e espaço, bem como de superação do aprisionamento dos nomes e da descontinuidade dos corpos.
No meu “Livro Primeiro” (1990), além de um poema dedicado a Sophia -que remete às imagens e ao ritmo de seus versos-, a presença dela está onde poucos a reconheceriam: na capa do livro, por exemplo. Eu próprio a esbocei a partir de uma antologia sua publicada pela Figueirinhas, de Lisboa, na sua quinta edição, em 1985. A disposição interna dos poemas e da numeração das páginas no “Livro Primeiro” obedecem ao mesmo modelo. E, por fim, o próprio título, que me pareceu justo para um livro de estreia, veio-me por causa de Sophia, de seu “Livro Sexto”.
Mais tarde, incluí em “Martelo” (1997) um poema que se chama “O Nome do Poeta” e que tem como último verso apenas isso: “Sophia de Mello Breyner Andresen”.
Ouvira de meus amigos portugueses vários episódios acerca da mulher bonita e elegante, encantadora e um bocado desligada, conhecida por seus imensos atrasos; mas também não faltavam histórias que ilustravam sua coragem como ativista política em plena ditadura salazarista, quando ajudou a fundar a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, ou depois da Revolução de Abril de 1974, quando foi deputada da Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista.
Foi uma grande alegria tê-la conhecido pessoalmente no dia 7 de outubro de 2001, na célebre casa da Travessa das Mónicas, no bairro da Graça, em Lisboa. Em meio à conversa, ela volta e meia se recordava de algum amigo brasileiro -Manuel Bandeira, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto- e lembrava-se de que haviam morrido. Então, as lágrimas mal se sustentavam nos olhos, uns olhos grandes, claros, ao mesmo tempo doces e agudos. Mas o que mais me impressionou em Sophia é o mais difícil de explicar: não havia qualquer descontinuidade entre o que falava e o que escrevera.
Exatamente isso: falava como se estivesse escrevendo versos. Dizia coisas como “trago o terror e trago a claridade”, ou “o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas”, e, enquanto me servia chá, talvez tenha dito: “Vê como os gestos se esculpem em geometrias exatas do destino.” Tudo era absolutamente natural e verdadeiro, cotidiano e límpido.
Contou-me que, quando nasceu, o pai adentrou o quarto com os cães e os apresentou a ela. “Gosto de ouvir o português do Brasil”, disse-me, como se recitasse o primeiro verso do seu “Poema para Helena Lanari”: “Gosto de ouvir o português do Brasil/ Onde as palavras recuperam sua substância total/ Concretas como frutos nítidas como pássaros/ Gosto de ouvir a palavra com as suas sílabas todas/ Sem perder sequer um quinto de vogal// Quando Helena Lanari dizia o ‘coqueiro’/ O coqueiro ficava muito mais vegetal”.
Contou-me ainda que sua filha, Maria, estava de partida para o Rio de Janeiro e pediu-me que eu procurasse por ela, porque todos os seus amigos – repetia como se, de repente, se lembrasse outra vez e se espantasse e se comovesse – haviam morrido. Longas pausas pontuavam suas perguntas, seu interesse por mim, pelas coisas, seu modo de dizer “nós não sabemos ao certo como nos marcaram as coisas que verdadeiramente nos marcaram”.
Foi um amigo comum, Gastão Cruz -outro grande poeta português-, quem me levou a ela num dia de azul líquido e simultaneamente preciso, matemático. Nenhum de nós morreria naquele outono de arames claros: a hora como que se curvava quando Sophia falava, e então todas as palavras eram números mágicos.
Eucanaã Ferraz
Folha de São Paulo
"Arquivo Aberto" - Série