segunda-feira, maio 16, 2011

Um vocábulo pode desaparecer num momento dado, definitivamente

"(...)
(fome, depois de Nicolau Tolentino de Almeida; leito, depois de António Nobre; mágoa, depois de Guerra Junqueiro; mal, depois de Bocage; pé, depois de Cesário Verde), ou provisoriamente, para reaparecer em seguida. Vamos indicar o vocábulo, o nome do poeta depois do qual ele desaparece e enfim, o nome do poeta a partir do qual ele reaparece: boca: Camões - António Nobre; braço: Rodrigues Lobo - João de Deus; campo: Manuel de Melo - Cesário Verde;carne: Camões - António Nobre; corpo: Correia Garção - Camilo Pessanha; lágrima: Camões - Garrett... Porquê este eclipse? Outros textos não conteriam estas palavras? Não as teriam utilizado outros poetas neste lapso de tempo? Enfim, uma palavra pode aparecer mais tardiamente do que se teria pensado: ânsia, a partir de António Nobre; árvore, a partir de Gomes Leal; astro, a partir de Antero de Quental; aurora, a partir de João de Deus; aventura, a partir de Teixeira de Pascoais; beijo, a partir de Guerra Junqueiro; cidade, a partir de Gomes Leal; criado, a partir de António Nobre; encanto e espaço, a partir de João de Deus; espelho, a partir de Gomes Leal;fumo, a partir de Teixeira de Pascoais; hora, a partir de Nicolau Tolentino de Almeida; idade, a partir de Teixeira de Pascoais; lar, a partir de Gomes Leal; lua, a partir de Garrett; menino, a partir de Guerra Junqueiro; mulher, a partir de João de Deus; ninho, a partir de Gomes Leal; olhar, a partir de Antero de Quental; pecado, a partir de João de Deus; punhal e quarto, a partir de Gomes Leal; seio, solidão e tristeza, a partir de Antero de Quental; sonho, que nunca mais tinha sido reempregado depois de Camões, reaparece em Gomes Leal, como saudade que encontramos somente em Camões e Nicolau Tolentino de Almeida, mas que começa então uma nova carreira ... Talvez seja preciso rever muitas ideias recebidas. (...)"

Introdução a Sobre o Vocabulário da Poesia Portuguesa
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro Cultural Português
1975


Mais sobre isto e poesia, muita poesia, aqui.

2 comentários:

fallorca disse...

:)

Joana disse...

Fallorca,


:)))



Jinhos.