Bruno_Yahoo
Há dias estava a falar da filmografia do Manoel de Oliveira com as "cinéfilas" do Departamento. Isto porque às sextas feiras temos Cinema no Departamento, dois filmes, um regra geral europeu (de produção independente…) e o outro Americano (mas alternativo, o que neste caso significa bom, não de todo hollywoodesco!...)
Uma é da Hungria e a outra do Alasca e, por muito que goste a arte e admire o cineasta luso, tinha (e tenho ainda) algum pejo em sugerir um filme dele a alguém “verde” em Manoel de Olveira.
(Em Houston, leia-se Net flix e Blosckbusters e afins inclusive – e portanto, a ver pela World Wide Web, nos EUA em geral –, cinema português é Manoel de Oliveira e o resto é paisagem, a boa maneira queiroseana. Para desconsolo meu, apostada que estava em maravilhar a plateia com o “Coisa ruim” do Tiago Guedes!...
- Pois… mas se calhar é melhor não, porque… porque… bem, porque… porque a arte dele não é gratuita e a maior parte das pessoas não se rende, não fica presa à primeira, vai-se deixando prender… aprende a gostar!... – acabei por dizer. Mas fiquei com um vazio apertado no peito. E uma vontade de fugir dali o mais rápido possível para pensar.
A maior parte das pessoas aprende a gostar. Aprende-se a gostar? Ou gosta-se (ou não) e pronto!? Fiquei a matutar nisto quando, após termos deixado a discussao em banho-maria, decidimos ir cada uma à nossa vidinha. Fui para o gabinete. Petrifiquei. Ante o computador e a enormidade proferida. Será que aprender a gostar (em todas as acepções e a todos os níveis) é gostar de facto, em profundidade, com paixão e loucura do que quer que seja? Ou é aquela coexistência pacífica, fria e sensabor, que costumamos imputar a relacionamentos com dezenas de anos de existência?
Se fosse generativista dividia já esse 'Gostar' em Gostar nº1 e Gostar nº2. É muito fácil assim. Então, o Gostar nº1 é apolíneo, claro, simples, racional(izável) e portanto “aprendível”; o Gostar nº2 é aquele voluptuoso, físico, que nos vira do avesso e deixa a vida completamente ao contrário, gera o caos e por isso a maior parte das vezes é doloroso, certamente não “aprendível”! There you are! Simples, não é?
Não. Todos sabemos que não. Eu sei que não. E, além do mais, sou cognitivista. O cérebro é que tem a resposta. Esta e muitas outras. O cérebro é o futuro. E apesar de estar a ser estudado por cérebros idênticos – o que atrasa inevitavelmente o estudo!* – tem-se mostrado absolutamente revelador da maneira como encaramos o mundo, conceptualizamos a realidade, enfim: pensamos, agimos e vivemos. Então Gostar só há um, trata-se de um sentimento/uma emoção apenas. Uma. Só. Enorme, abstracta, congregadora de muitas conjunturas, contingências e detalhes, de grande e pequena monta, que determinam a intensidade dessa emoção e subsequentemente, a denominação da mesma: ‘amor’, ‘amizade’, ‘afeição’, ‘ódio’, ‘desprezo’, ‘nojo’… É tudo uma e a mesma coisa. Tudo um gostar. Acho.
Ontem descobri por acaso o blog do Bruno Nogueira.
O Bruno Nogueira é aquele miúdo altíssimo e magrinho que, quando apresentava o Curto Circuito, entupia as linhas telefónicas, tal era a legião de fãs, melosas, divertidas, histéricas aos berros (só falava ouvir-se arrancarem os cabelos, algumas). Aquele miúdo que faz stand-up e, invariavelmente, seja quando diz umas piadolas, seja quando ouve uma declaração de amor em directo ou um elogio profissional, está sempre muito sério, estranhamente, surpreendentemente, assustadoramente sério… Aquele miúdo… o Melman do Madagáscar, o Bin-Laden das Manobras… o… o… Aquele miúdo que apresentava O Pior Condutor de Sempre, aquele programa em que, dizem, se fartava de gozar com o interlocutor, fosse quem fosse, velho ou novo, rapaz ou rapariga… Aquele miúdo que, dizem, é um fedelho, arrogante e malcriado, com a mania do vedetismo.Aquele miúdo que, dizem, anda não sei com quem… Aquele miúdo que, dizem, … Aquele miúdo que, dizem, …
Aquele miúdo que me fazia lembrar o Príncipe. O cabelo, as sapatilhas, a t-shirt cor de laranja, o relógio. Era igualzinho. Então, foram as semelhanças ao Príncipe – um dia destes conto-vos a história do Príncipe – que me levaram, há uns anitos já, até ao Bruno, quais asinhas nos pés de Mercúrio. Daí até a suprema inteligência e a acutilância subjacente às piadas me conquistarem foi um ápice. Instantâneo. Natural. Como toda a Arte deve ser. Como toda a Arte é. Genial!
Nunca ninguém, à excepção do meu irmão – genuíno apreciador do BOM humor que se vai fazendo em Portugal, me deu crédito por gostar do Bruno Nogueira. Por causa do Príncipe. E eu a desdobrar-me em explicações e a fazê-los entender que o Príncipe estava guardado, engomadinho e bem dobrado, numa das gavetinhas do inconsciente do Contador Antropomórfico de Dali que todos temos, e que o Bruno não era de todo substituto emocional do Príncipe, nem sequer placebo para alguma réstia de maleita “cardíaca”. Mas nem assim.
Nunca ninguém, à excepção do meu irmão – genuíno apreciador do BOM humor que se vai fazendo em Portugal, me deu crédito por gostar do Bruno Nogueira. Por causa do Bruno. E eu a esgrimir argumentos que nunca mais acabavam, numa clara tentativa de converter toda a gente ao “culto”, porque as pessoas tímidas passam muitas vezes por convencidas, saber de uma vida de experiência feito, e o génio... o génio é universal e objectivamente verificável e comprovável. Mas não, não chegava. Não era o bastante. Tímido não seria. Génio talvez. Arrogante, sem dúvida.
Ontem descobri-lhe o blog. Por acaso. Sem querer. Num dos habituais périplos por todas as estações e apeadeiros cibernéticos de amigos, conhecidos, desconhecidos, amigos de amigos, amigos de conhecidos e de desconhecidos. Já era tarde. Já era muito tarde. O corpo pedia descanso e os olhos embaciavam-se de tanto arderem. Já era tarde e não consegui parar de o ler. Li-o todo. Um ano e tal de posts.
Podem atirar-me com a curiosidade insaciável do voyeur, com a gula incontrolável do obeso, com a sede do desidratado, com a ânsia desmesurada que o povinho pequenino do nosso país, ainda mais pequenino, tem em querer saber a vidinha dos famosos, as festas, os flirts, os podres, o que se lhes passa na cabeça, se têm alguma coisa na cabeça… Podem, se calhar até foi isso, ou a soma de tudo isso, no início… depois foi aquela sensação de calor lânguido que apazigua o espírito e dá descanso ao corpo. A sensação que as certezas dão à mente, à alma da gente. A certeza de gostar de uma grande pessoa. Uma pessoa com valor. E valores.
O Bruno Nogueira é aquele miúdo que..., do alto dos seus 194 cms, está a crescer. Pessoal e profissionalmente. De uma forma muito bonita.
(Reflexo imediatamente após a leitura: enviar a todos o link para o blog do Bruno. Vão passar a gostar? Vão aprender a gostar? Vão gostar? Não sei. Não me interessa. Afinal, ‘gostar’ e ‘não gostar’ é uma e a mesma coisa.)