Há pessoas assim. Tantas, e no entanto tão poucas, com o dom da comunicação instantânea, verdadeira, interessante.
Há pessoas assim. Como eu, que me considero uma rocha geralmente intransponível em termos de sociabilidade.
Ainda não percebi como, nem sequer porquê, mas o facto é que, socialmente, não há timidez que resista a determinadas pessoas. Normalmente não são bonitas, nem feias, gordas ou magras, pretas, brancas, azuis ou amarelas, são pessoas, apenas. Mas com elas algo de mágico acontece: os assuntos fluem, as barreiras anulam-se, as horas, os minutos e os segundos passam e tudo é agradável, faz bem, faz sentido.
Comigo, que me considero tímida e me furto vezes sem conta ao social – ao contrário do que apregoa (quase) toda a gente que me conhece, isto acontece muitas vezes. Muitas. Mesmo. E se em algumas situações isso já me trouxe alguns dissabores (Porque é que quando se fala três horas seguidas com uma pessoa do sexo oposto, manda a sociedade – o ou a mente do interlocutor, nomeadamente se for do sexo masculino, – que haja obrigatoriamente um interesse emocional por detrás da curiosidade que alimenta a conversa? Comigo pelo menos é o contrário: quanto mais interesse, menos assunto/conversa!). Na maior parte das vezes fazem-se amizades, ou pelo menos conhecimentos que, além de humanamente enriquecedores, costumam perdurar algum tempo, se não vida fora.
Considero que, actualmente (e sinto isso muitíssimo em Portugal!), conversar está fora de moda. Não há tempo. Nem vontade, nem interesse, nem paciência. Para acolhermos o outro no nosso cantinho, para lhe perguntarmos acerca do seu mundo, para fazermos pontes de conhecimentos no dia-a-dia. No dia-a-dia. No quotidiano. Durante o dia. Ao longo do dia. Sem deixarmos de fazer o nosso trabalho com eficiência e profissionalismo e cumprirmos as nossas obrigações com o brio que todos devemos cultivar. Obviamente. Tenho muito enraízada a ideia de que, nomeadamente em Portugal, alguém só fica na disposição para conversar com outra pessoa, devidamente seleccionada de acordo com padrões estéticos mais ou menos estandardizados, à sexta-feira à noite… E convenhamos, seja porque se passou a semana toda enclausurado a trabalhar, seja porque não se tem mesmo interesse em conhecer ninguém profundamente, essas conversas, na maior parte das vezes, deixam muito a desejar …
Parece que ninguém quer sair da bolha que criou, até porque isso além de incómodo, seria uma ousadia, olhada de soslaio por alguns, reprovada por muitos, e (claro!) para ousar temos de ser, nem que seja um bocadinho, loucos. (Ninguém quer ser tido como louco nos dias que correm, por isso é que ninguém anda descalço ou à chuva, ninguém sobe às árvores, dá uns quantos berros quando lhe apetece ou faz o pino!) Isso significaria revelar-se ao outro e deixar a nu todo um leque de falhas, defeitos e inseguranças que aparentemente não temos se não as mostrarmos.
Pergunto-me muitas vezes acerca do futuro de uma sociedade assim, um futuro que, para o bem e para o mal, é nosso. E os augúrios não são muito auspiciosos.
Nos EUA, há uma obsessão que domina as pessoas: toda a gente quer ser rica. E então, trabalha-se muitíssimo. (Quem me dera que se passasse o mesmo em Portugal!) Não obstante, as pessoas já se aperceberam que precisam do convívio e então, pelo menos no contexto da Academia, por da cá aquela palha temos pique-niques e churrascos e festas e … E as pessoas conversam. Mesmo. É possível que seja cultural também. Efectivamente, não há americano que resista a estar ao lado de quem quer que seja, onde quer que seja, sem fazer small-talk. Começa pelo tempo, depois passa para os estudos, depois para o local de origem, desporto, viagens, política, livros, filmes, religião… é uma torrente!
No início estranhei, confesso. Mas agora dou por mim a fazer small-talk onde quer que seja também e a desejar que chegue o churrasco deste mês (é sexta!) para falar com aquela pessoa que encontrei no outro dia, que era conterrânea do Gabriel García-Marquez e tinha imensa coisa para contar acerca do quotidiano dos rebeldes na Colômbia.
Também não me posso esquecer dos meus colegas de casa (qual é a designação correcta para uma pessoa que partilha a casa connosco?), um em especial, que espera por mim, às vezes até às onze, in his words “só para me dar as boas noites”, sabendo perfeitamente que havemos de ficar a conversar até muito para lá da meia-noite sobre a Universidade, o dia, estes dias, nós, os outros, opções, trabalhos e sonhos.
Se calhar, ainda há esperança…
Há pessoas assim. Como eu, que me considero uma rocha geralmente intransponível em termos de sociabilidade.
Ainda não percebi como, nem sequer porquê, mas o facto é que, socialmente, não há timidez que resista a determinadas pessoas. Normalmente não são bonitas, nem feias, gordas ou magras, pretas, brancas, azuis ou amarelas, são pessoas, apenas. Mas com elas algo de mágico acontece: os assuntos fluem, as barreiras anulam-se, as horas, os minutos e os segundos passam e tudo é agradável, faz bem, faz sentido.
Comigo, que me considero tímida e me furto vezes sem conta ao social – ao contrário do que apregoa (quase) toda a gente que me conhece, isto acontece muitas vezes. Muitas. Mesmo. E se em algumas situações isso já me trouxe alguns dissabores (Porque é que quando se fala três horas seguidas com uma pessoa do sexo oposto, manda a sociedade – o ou a mente do interlocutor, nomeadamente se for do sexo masculino, – que haja obrigatoriamente um interesse emocional por detrás da curiosidade que alimenta a conversa? Comigo pelo menos é o contrário: quanto mais interesse, menos assunto/conversa!). Na maior parte das vezes fazem-se amizades, ou pelo menos conhecimentos que, além de humanamente enriquecedores, costumam perdurar algum tempo, se não vida fora.
Considero que, actualmente (e sinto isso muitíssimo em Portugal!), conversar está fora de moda. Não há tempo. Nem vontade, nem interesse, nem paciência. Para acolhermos o outro no nosso cantinho, para lhe perguntarmos acerca do seu mundo, para fazermos pontes de conhecimentos no dia-a-dia. No dia-a-dia. No quotidiano. Durante o dia. Ao longo do dia. Sem deixarmos de fazer o nosso trabalho com eficiência e profissionalismo e cumprirmos as nossas obrigações com o brio que todos devemos cultivar. Obviamente. Tenho muito enraízada a ideia de que, nomeadamente em Portugal, alguém só fica na disposição para conversar com outra pessoa, devidamente seleccionada de acordo com padrões estéticos mais ou menos estandardizados, à sexta-feira à noite… E convenhamos, seja porque se passou a semana toda enclausurado a trabalhar, seja porque não se tem mesmo interesse em conhecer ninguém profundamente, essas conversas, na maior parte das vezes, deixam muito a desejar …
Parece que ninguém quer sair da bolha que criou, até porque isso além de incómodo, seria uma ousadia, olhada de soslaio por alguns, reprovada por muitos, e (claro!) para ousar temos de ser, nem que seja um bocadinho, loucos. (Ninguém quer ser tido como louco nos dias que correm, por isso é que ninguém anda descalço ou à chuva, ninguém sobe às árvores, dá uns quantos berros quando lhe apetece ou faz o pino!) Isso significaria revelar-se ao outro e deixar a nu todo um leque de falhas, defeitos e inseguranças que aparentemente não temos se não as mostrarmos.
Pergunto-me muitas vezes acerca do futuro de uma sociedade assim, um futuro que, para o bem e para o mal, é nosso. E os augúrios não são muito auspiciosos.
Nos EUA, há uma obsessão que domina as pessoas: toda a gente quer ser rica. E então, trabalha-se muitíssimo. (Quem me dera que se passasse o mesmo em Portugal!) Não obstante, as pessoas já se aperceberam que precisam do convívio e então, pelo menos no contexto da Academia, por da cá aquela palha temos pique-niques e churrascos e festas e … E as pessoas conversam. Mesmo. É possível que seja cultural também. Efectivamente, não há americano que resista a estar ao lado de quem quer que seja, onde quer que seja, sem fazer small-talk. Começa pelo tempo, depois passa para os estudos, depois para o local de origem, desporto, viagens, política, livros, filmes, religião… é uma torrente!
No início estranhei, confesso. Mas agora dou por mim a fazer small-talk onde quer que seja também e a desejar que chegue o churrasco deste mês (é sexta!) para falar com aquela pessoa que encontrei no outro dia, que era conterrânea do Gabriel García-Marquez e tinha imensa coisa para contar acerca do quotidiano dos rebeldes na Colômbia.
Também não me posso esquecer dos meus colegas de casa (qual é a designação correcta para uma pessoa que partilha a casa connosco?), um em especial, que espera por mim, às vezes até às onze, in his words “só para me dar as boas noites”, sabendo perfeitamente que havemos de ficar a conversar até muito para lá da meia-noite sobre a Universidade, o dia, estes dias, nós, os outros, opções, trabalhos e sonhos.
Se calhar, ainda há esperança…
Obrigada M.!
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