- Então e há quanto tempo és vegetariana? – atira Ele.
Ela não sabe se o que Ele diz, diz sorrindo, se sorri dizendo... Mas diz muito e sorri ainda mais. Ela de saber o muito, já não sabe nada. E não sabendo nada, sabe que o muito é demasiado, tanto de não o ser.
- …
Ela tenta ganhar tempo.
As compatibilidades, os gostos e os interesses sucedem-se a uma velocidade vertiginosa, a cumplicidade cresce exactamente ao mesmo tempo e na mesma proporção que os sorrisos, os olhares e até a conversa… que definitivamente está a ficar por demais perigosa. Para Ele. Para Ela. Para todos.
Daí que, num gesto universalmente infantil, desajeitado e por isso quase terno, Ela indicou “Quatro!” Gestualmente. Não porque estivesse de boca cheia – apesar de o estar – mas porque era imperativo furtar-se à comunicação. Por Ele. Por Ela. Por todos.
Já lhe bastara o embaraço de ter passado o serão todo a arrumar livros com Ele, sob a supervisão da namorada, de lhe saber a vida toda, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar responder ao que Ele perguntava da forma mais sobranceira possível, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar conter-se perante as piadas, os risos e as gargalhadas que Ele soltava de cada vez que um deles dizia “Really, me too!”, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar fugir-lhe do caminho e do toque, sob a supervisão da namorada, o serão todo a dizer de si para si que as coincidências entre os dois não são milagres, apenas partidas que o destino prega para testar os incautos.
- …
Ela tenta ganhar tempo.
As compatibilidades, os gostos e os interesses sucedem-se a uma velocidade vertiginosa, a cumplicidade cresce exactamente ao mesmo tempo e na mesma proporção que os sorrisos, os olhares e até a conversa… que definitivamente está a ficar por demais perigosa. Para Ele. Para Ela. Para todos.
Daí que, num gesto universalmente infantil, desajeitado e por isso quase terno, Ela indicou “Quatro!” Gestualmente. Não porque estivesse de boca cheia – apesar de o estar – mas porque era imperativo furtar-se à comunicação. Por Ele. Por Ela. Por todos.
Já lhe bastara o embaraço de ter passado o serão todo a arrumar livros com Ele, sob a supervisão da namorada, de lhe saber a vida toda, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar responder ao que Ele perguntava da forma mais sobranceira possível, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar conter-se perante as piadas, os risos e as gargalhadas que Ele soltava de cada vez que um deles dizia “Really, me too!”, sob a supervisão da namorada, o serão todo a tentar fugir-lhe do caminho e do toque, sob a supervisão da namorada, o serão todo a dizer de si para si que as coincidências entre os dois não são milagres, apenas partidas que o destino prega para testar os incautos.
Doi-lhe a cabeça, os olhos e os maxilares de tanto cerrar os dentes. Fervem-lhe as maçãs do rosto de tanto o tentar tornar sério… Há umas boas sete horas que se encontra nesse limbo e teme que o momento em que vai inevitavelmente soçobrar ao cansaço esteja próximo, até porque a luta consigo própria tinha sido árdua e não cessara nem por um momento. Ela reza para o tempo passar rápido e o regresso a casa estar por minutos… Até lá, para se enganar a si e ao tempo, e para evitar maiores embaraços, o melhor que consegue é ir ocasionalmente desviando o olhar sob um falso pretexto de um interesse absolutamente científico na observação do ambiente envolvente, até então invariavelmente irresistível para Ela, e, observando, dissecar a atmosfera do Ihop às duas da manhã.
Na verdade, estava perante um ambiente humano absolutamente inesperado, surpreendente até! A um canto, três casais árabes, jovens, faziam-se notar porque discutiam, em tom mais elevado que o normal, se uma das raparigas do grupo estaria ou não drogada; à direita, três pré-adolescentes afro-americanos jantavam calmamente; Ela percebeu de imediato que nessa mesa a média de idade não rondaria mais que os catorze anos e essa constatação sobressaltou-a um pouco; olhou mais em frente, na direcção do único casal americano que estava na sala, e novo baque, mas curiosamente pelas razões opostas, deveriam ter sessenta e muitos anos…
Ela volta-se para o seu prato, vegetariano como o d' Ele, para a comida que Ele está a acabar e que Ela não consegue engolir. Olha em frente, para a namorada, que lhe parece, lhe pareceu o serão todo, pela primeira vez desde que a conhece, insegura. A namorada que considera genial, encantadora, simples e única, a namorada que é uma das pessoas mais interessantes que Ela conhece, que tem habitualmente uma alegria contagiante e sempre um coração do tamanho do mundo, tão grande e tão bom que abrange tudo… A namorada que hoje está diferente.
- Mas comes peixe, certo? – perguntou-lhe o T.
Finalmente alguém que não o dito lhe fazia uma pergunta. Agradeceu a Deus e ao mundo aquela brecha em que pode finalmente desviar o olhar d’Ele sem ter que passar os olhos pela sala, pela enésima vez.
- Nop. No fish at all, for a long time now.
- Eu também não. – disse Ele franzindo o sobrolho num trejeito divertido.
- Ai não? – inquiriu, impondo-se, a namorada.
- Ok, às vezes… - anuiu embraçado, mas logo se volta para Ela e conclui:
- Portanto, és uma vegetariana inclinada para o vegan. – disse Ele com um olhar interessado e exigente, aquele olhar típico de quem está à espera da explicação detalhada das razões da opção.
- Sim. – disse Ela ao mesmo tempo que tenta, em vão, acompanhar a resposta lacónica com um sorriso que pretendia compensatoriamente sincero. (...)
Ela voltou à comida, pensando para consigo: Se não tivesses namorada e eu não tivesse escrúpulos…
Ela volta-se para o seu prato, vegetariano como o d' Ele, para a comida que Ele está a acabar e que Ela não consegue engolir. Olha em frente, para a namorada, que lhe parece, lhe pareceu o serão todo, pela primeira vez desde que a conhece, insegura. A namorada que considera genial, encantadora, simples e única, a namorada que é uma das pessoas mais interessantes que Ela conhece, que tem habitualmente uma alegria contagiante e sempre um coração do tamanho do mundo, tão grande e tão bom que abrange tudo… A namorada que hoje está diferente.
- Mas comes peixe, certo? – perguntou-lhe o T.
Finalmente alguém que não o dito lhe fazia uma pergunta. Agradeceu a Deus e ao mundo aquela brecha em que pode finalmente desviar o olhar d’Ele sem ter que passar os olhos pela sala, pela enésima vez.
- Nop. No fish at all, for a long time now.
- Eu também não. – disse Ele franzindo o sobrolho num trejeito divertido.
- Ai não? – inquiriu, impondo-se, a namorada.
- Ok, às vezes… - anuiu embraçado, mas logo se volta para Ela e conclui:
- Portanto, és uma vegetariana inclinada para o vegan. – disse Ele com um olhar interessado e exigente, aquele olhar típico de quem está à espera da explicação detalhada das razões da opção.
- Sim. – disse Ela ao mesmo tempo que tenta, em vão, acompanhar a resposta lacónica com um sorriso que pretendia compensatoriamente sincero. (...)
Ela voltou à comida, pensando para consigo: Se não tivesses namorada e eu não tivesse escrúpulos…
3 comentários:
Q é isto?estas historias?:S bem...se bem k essa d s n tivexe namorada..nakela....Ja ouvi em klker sitio..n m é nada estranho.lol! :D
Bjinhs Nininha
Cockie, porque tenho a sensacao de que tu pensas que a 'ELA' sou eu??? Quando sou eu, admito, sou eu!...
tb quero um pra mim!!!!! não te preocupes que eu digo à toot quem é a Ela... beijinho grande teresita
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