sábado, maio 26, 2007

Os pormenores

Os pormenores são importantes. Eu adoro pormenores. Especialmente nas pessoas: o que disse, como disse, quando disse, a quem disse, o que calou, o que deixou escapar, o que deixou transparecer, enfim... gosto de observar e estas coisas todas que acabo de enunciar, além de me entreterem, saciam-me. Gosto de perceber as pessoas. Possivelmente para me perceber melhor a mim. Também.
As pessoas são importantes. Eu adoro pessoas. Gosto de as observar, de tentar adivinhar o que estão a pensar na hora, onde vivem, com quem vivem, como são, como pensam, o que fazem. Gosto de observar. Ver, acho que até nem vejo muito, mas observo e isso é quase-ver.
De algum tempo a esta parte - acontece-me mais vezes do que desejaria e isso aborrece-me - não consigo ver certas pessoas quando estão exactamente diante os meus olhos. São pessoas que admiro bastante. Pessoas de quem gosto muito, demasiado - penso, por vezes. Algumas são mais ou menos famosas, outras fazem parte do meu círculo de amigos, outras conheço de vista e tenho a certeza de que não fazem a mais pequena ideia da minha estima, outros nem sequer sonham a minha existência. Mas eu sei que eles existem e porque existem e são realmente assim, gosto deles. Não fosse a minha irmã cotovelar-me a cada vez: Então não viste o...? Então, olha ali a... não vais ter com ela? A última vez foi em Espinho. Estávamos a descer uma das artérias principais, ao mesmo tempo que o Alvim subia, segundo a minha irmã parecia perdido, queria pedir uma indicação qualquer, sim porque eu não o vi e ele esteve alegadamente à minha frente. Pediu a outras pessoas, dali mesmo, portanto muito melhores conhecedores da zona do que muggins me.
Não sei porque é que isto me acontece. Não sou distraída. Normalmente. Quando era miúda, o caso era outro: só olhava em frente e para cima - ainda hoje deve haver resquícios disso na minha postura porque dizem-me que tenho pinta de convencida - mas nessa altura era pior, não havia a aura das manias, mas cada joelho e/ou bochecha esfolados à vez, um nariz em muito mau estado, mil galos na testa a cada passo. Depois cresci - apesar de andar sempre com o olhar, não o nariz, muito no ar - e os postes e as paredes deixaram de vir contra mim, e as ruas passaram a ter descidas menos abruptas e súbitas. Passou.
Ganhei esta distracção cinésica (será?) há pouco mais de um par de anos e recentemente temo que tenha evoluído para algo cinésico-emocional: antes eram apenas algumas pessoas, quase todas banais, depois passaram a ser quase todas as que estimo e recentemente ouvi, sem escutar realmente, algo que me disseram ou deixaram escapar. Já não sei. Não, sei: disseram, disseram mesmo. Com todas as letrinhas.
- Pois, possivelmente, mas é muito bonita!...
- Sim, é. Mas, sabes, foi precisamente esse o nosso problema. Prometi para nunca mais. Além do que a beleza, Joana, ... a beleza não é o mais importante.
... a beleza, Joana, ... a beleza não é o mais importante. A justaposição do meu nome, daquele nome que é só meu, bem ao lado da beleza, ao lado, não dentro, ao lado, contíguo à beleza, caiu-me mal. Como se o meu nome, eu, fosse o parente pobre, o triste que ficou para o fim e não foi escolhido, aquele que chegou quando todos já se tinham ido embora, quando já não havia festa. Caiu-me mal. Não consegui sorrir-lhe, nem responder ao que me tinha perguntado. Não ouvi. Caiu-me mal. Mas não tão mal como deveria ter caído, ele começou a falar de outras coisas logo de seguida e foi como com o Alvim, quando acordei do meu misterioso torpor, já o foco de interesse se tinha eclipsado.
No entanto, para a posteridade, fica registado que foi a primeira e única vez que me chamaram feia. Ou elogiaram o meu bom carácter. (Tal como no anúncio: "a tua generosidade, o teu bom coração... És a minha melhor amiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiga!!!) Conforme. Pelos vistos, homens há que acham que uma afirmação do género não é gravosa, nem insultuosa, nem nada. Eu acho do mais vilipendiante possível. Até porque desde que me conheço estou habituada a ouvir os adjectivos bonita, linda, inteligente, teimosa, exigente, refilona, chata, determinada, trabalhadora, complicada, incansável, convencida!... ligados à minha pessoa, não necessariamente por esta ordem, mas com acentuada frequência estes, outros também, mas estes sobretudo.
A beleza é fundamental. A beleza, da mais plástica à mais mística é aquele sentimento que faz com que encaremos o outro como a água para a nossa sede, portanto é a pedra angular de qualquer relacionamento. E o dito relacionamento, nessa altura ainda em fase embrionária, o tal que acabou por fracassar por outras razões, precisava dela como Dédalo da água. Não funcionou e eu devia ter percebido ali. Naquele momento, naquele café, naquela resposta, naquela justaposição horrorosa. Pormenores.

9 comentários:

K. disse...

Já te tinha dito que és um espanto?





Malásia em Julho?... :)

Oásis disse...

Só não és linda se tiveres feito um photoshop àquela foto (daquele post...) e se estes textos forem todos plagiados...
Conclusão: para não repetir o "espanto" do Katraponga, nem o "seráfica" do outro Hélder, vou dizer que és excepcional (mas digo-o com muita pena, devia haver muitas mais como tu).

Jinhos

Joana disse...

K.,

"espanto", "espanto", acho que ainda não. ;)

Não me tentes! :P

Orquídea,

Esta?http://substante.blogspot.com/2007/01/if-you-wanna-get-angry.html

:P

Jinhos a ambos.

Oásis disse...

Sim, essa mesmo :)

Anabela disse...

Jô, vai por mim, és uma miúda cheia de pinta.

Lembra-te apenas daquela tua frase, a que eu escolhi para te apresentar aos meus leitores do "O que foi que eu disse?"...

Ah!

Se querias conhecer o Alvim, já me podias ter dito... eheheh

Joana disse...

Anabela,

I know, I know. NA última contagem eram cerca de 50 - as pintas. Sem exagero, é pintas, bem beauty spots, vulgo sinais, all over the place in my body! :P

Alvim? Muito me contas. Sim, senhora, altos contactos... Mas naaaaaa, not interested. Assim é muito fácil. ;)

Jinhos.

Anónimo disse...
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Joana disse...
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Anónimo disse...
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