Quando vou no comboio faz-me sempre falta um livro. Ainda esta manhã, quando me mentalizava para sair do quentinho da cama, dizia para mim própria que não me podia esquecer do livro que está na sala, o ideal para a viagem.
Porque o trajecto é muito longo, a paisagem, a mesma de há anos, o cansaço está mas o sono foge... Saí à pressa. Esqueci-me. Como sempre.
Sem opção, porque ler artigos científicos é o meu trabalho - tem hora marcada, região demarcada e implica seriedade, brio e profissionalismo - olho pela janela e penso na vida. Na minha, nas que tocam a minha, nas que a minha toca, em tudo e em nada.
Vi assim muito ao longe, por detrás do cansaço quase sono - como eu queria que fosse sono! - o Pascal. Estranho - pensei - querem ver que agora sempre que ando de comboio me vem o Pascal à memória? Ontem tinha sido a mesma coisa. Estranha.
O Pascal foi namorado de uma das minhas colegas de departamento. Na realidade, enquanto estive nos EUA, eram namorados, agora é que já não. Vá-se lá saber porquê. Bem, eu sei porquê mas não digo porque este blog ainda não está assim tão vanguardista e há choques que prefiro ter apenas eu e portanto guardá-los dos outros. Ou guardar os outros de baques idênticos. Whatever. De qualquer dos modos, o Pascal é dos seres humanos mais maravilhosos que conheço - daquelas pessoas quaaaaaaaaaase perfeitas, não fosse a falta de (algum) discernimento que sempre caracteriza as boas pessoas - então deixei-o bem lá no meio da bruma porque o sono veio mesmo e acabei por cochilar um bocadinho. Quem disse que os comboios são desconfortáveis? Haja soninho!
Minutos depois o frio da janela na minha bochecha provocou o inevitável: acordei. Volto a olhar para fora, volto a pensar na vida. Trivialidades. Voltou a vir a névoa e o sono. O Manuel, eu, os nossos amigos, o Manuel que se levanta, sério, eu que me levanto, preocupada, o Manuel que me agarra na mão com muita força, com a força de que ele precisa, possivelmente, para falar. Acordo. "Bolas, sonhei com isto a noite passada, outra vez não!" Pois... a noite passada, também!
Chego ao gabinete. Verificação do e-mail português, trabalho, trabalho, trabalho, os vossos comments; verificação do outro e-mail, primeira mensagem na Caixa de Entrada: Pascal. Ai, se acertar no Euromilhões fosse tão fácil! Queria informações sobre a Madeira, tem quinze dias de férias depois de ir visitar os avós à Suíça - esqueci-me: o Pascal é suíço de nascença, mas americano de criação: aos três anos de idade foi para a Califórnia - e quer passá-los num sítio bonito, diferente e... acho muito bem. Lá lhe dei as informações de que necessitava e lá ficou ele todo contente. Já me tinha esquecido do quanto ele é alegre e descomplicado e trabalhador (eram cinco da manhã lá e ele a responder-me aos mails, já não dormia há vinte horas... Físicos!)
Apressei-me depois a mandar um e-mail ao Manu. (O Manu também é de Física, mas não trabalha assim. (É português!) Não. Não trabalha assim porque estuda outras coisas, através de um método diferente - não há método pior que o experimental! Coisas que se aprendem com eles...) Mas, definitivamente, deve passar-se alguma coisa com o Manuel. (E eu já devia ter desconfiado, porque as confidências amorosas do meu sempre apaixonado amigo Manu de algum tempo a esta parte pura e simplesmente deixaram de existir). A ver vamos.
Estranha forma de comunicação, esta. Nebulosa.
3 comentários:
Os emails dos amigos, o pensar-se nos amigos, as viagens, a paisagem e a janela, e de novo os emails. É o euromilhões.
Bom dia!
...eu não suporto viagens sem ter o iPod e: um comprimido para dormir se for de autocarro, o meu livro de esboços e um livro se for aviao ou comboio. Senao tenho uma sincipe cardiaca... eu, enfiada num compartimento, sem ter nada que fazer, a pensar na vida... credo! NUNCA ME ESQUECO!!!!!!
Bjicos
Cientista,
Estás coberta de razão! :)
Rosário,
Eheheheheheh! Fartei-me de rir (especialmente com o "credo!"). É de facto gritante! E mais, resultou: livro colocadito na mala de véspera, antes de ir dormir! ;)
Jinhos.
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