terça-feira, abril 22, 2008

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Às vezes tenho saudades dos EUA. Terrível, este tão português sentir falta sempre do que se não tem. Lá tinha audades daqui, aqui tenho saudades de lá... Como se o facto de não se pertencer a sítio nenhum inflacionasse a importância dos momentos que foram, são, serão (para sempre), nossos na intensidade e na verdade com que os vivemos outrora, agora.

Este fim de semana tive saudades dos EUA. Muitas. Mais do que seria saudável, mais do que seria de esperar. A Associação de Antigos Alunos da minha Faculdade reuniu-se e eu estive lá. Mas antes disso, houve a divulgação. Entupiram-me a caixa de correio com ela e pediram-me que divulgasse junto dos meus colegas e alunos. Divulguei. Fiz tudo certo, atempadamente, concisa mensagem pessoal, clara e precisa, com informação detalhada e convite anexo... resultado: ninguém apareceu. E esse meu esforço de reunião, no seguimento do da Faculdade, e outras coisas que aconteceram nesse dia, puseram-me a pensar no tipo de pessoas que somos hoje aqui neste velho continente.

Nos EUA reunião de antigos alunos é uma realidade de há séculos instituída. Leva-se o conjuge, fala-se dos filhos, da casa nova, do jardim que finalmente se conseguiu, do cão que não se dava com gato, mas que agora são os melhores amigos, elogiam-se roupas, cabelos e as formas que se adquiriu ou perdeu, conforme... sabe-se como vai a vida de todos e de cada um. É um serão de conversa entre amigos. Um serão que tem lugar no pavilhão da Universidade, mas que seria possível, exactamente da mesma maneira, à lareira, na casa de alguém.

Ora aqui não. Aqui as poucas pessoas que vão, da minha faixa etária, apenas cinco, e todas de anos de curso diferentes, essas pessoas, levam-se a si próprias, ao seu ego e ao voyeurismo que as levava a farejarem as minhas pautas na Faculdade. Aqui o dia passa-se em interrogatório permanente, na contabilização do que se já se fez e do que se pode ainda fazer para progredir na carreira, no estabelecimento de novos conhecimentos, na bajulação, na maledicência, nas piadas sem piada, nas mensagens subreptícias, na sobranceria, na inveja mal disfarçada. E isso, mais que tudo, cansa-me. Porque não é do meu feitio. Porque costumo sorrir às pessoas com quem falo e dizer a verdade sem meias-palavras, ambiguidades ou mentiras. Devia estar exausta quando, a pretexto de “um beijinho a esta menina linda”, o António furou a multidão de abutres à minha volta e me resgatou do planeta onde me mantinham há tempo demasiado para quem quer que seja, e pretenda continuar, mentalmente são. O António tem dois metros e cem quilos, é a boa disposição em pessoa, esteve no meu curso um ano apenas, quando era jesuíta. Entretanto, apaixonou-se, mudou de curso, casou, teve filhos e desapareceu do meu mundo. Reencontrei-o há tempos, e por acaso, no hi5 e é por aí que vou acompanhando o percurso dele.

Aposto que se esta reunion fosse nos EUA os Antónios e os abraços seriam às centenas e não haveria maneira de eu contornar a questão dos reflexos que ficaram demasiado vermelhos para meu gosto no cabelo...

2 comentários:

intruso disse...

:)

curioso texto/crónica/reflexão

[detesto reuniões de antigos alunos/colegas]
rs...


bj

Anónimo disse...

Muito portuguesa a saudade!
Interessante o texto, sobre essa gente que um dia fez parte do nosso dia-a-dia apenas porque sim.