quarta-feira, julho 30, 2008

A pedido de muitas famílias...


Eu (à esq) e a Aline (à dir) com Amsterdão em fundo.


Leuven - Le béguinage


Ghent - La Mairie


Antuérpia - o centro da cidade, eu no centro do centro da cidade...


Antuérpia - O porto


Amsterdão - Bicicletas e canais


Amsterdão - Le béguinage


Amsterdão - A Dam


Haia - Canais, os canais não são exclusivos de Amsterdão


Haia - Palácio Real


Haia - Monumento virado para o Palácio, não para a rua, porquê?


Saída do metro Amsterdam Zuid - Joana que se preze topa joaninhas à légua!


Leuven - A última imagem da minha cidade antes do regresso a casa

Resumo muito resumido de dez dias de Centro Norte da Europa. Uma semana de trabalho, três dias de descanso. Peço desculpa pela qualidade das imagens. A fotografia não é de todo a minha especialidade...

terça-feira, julho 29, 2008

Madrinha, eu?!


Passa das onze da noite e estou a ouvir o The Story da Brandi Carlile. Devia estar a dormir mas em vez deixo-me embalar pelos ecos dos EUA que a música me traz.
Ecos. De quando os EUA eram aqui. E eram perto. E longe. Um longe bom por ser perto.

Devia estar a dormir, mas... é difícil. Estou exausta. Passei o dia com a minha melhor amiga. Passei o dia a tentar fazer o que exercitara e prometera a mim mesma todo o fim de semana: remendar um coração, o dela, o da minha melhor amiga, a que nunca deixou o meu lado esquerdo desde o nosso primeiro dia de aulas na Faculdade... há dez anos.

Coisa impraticável, impossível, essa de remendar corações.

Chego a casa. À minha casa vazia nas tardes deste verão. Venho aqui. Vou ao Sitemeter. Coração apertado. Regresso aqui. Vou ao Messenger. Amigos. Conversa posta em dia. Encontros, almoços, jantares, lanches, cafézinhos... do resto desta semana de férias devidamente marcados e confirmados, fui convidada para Madrinha. De um casamento. De uma grande amiga. Eu. De todas as nossas amigas, eu. Eu.

Escreve-se assim: m-a-d-r-i-n-h-a, a palavra a-mi-za-de.

sábado, julho 26, 2008

Dia Nacional dos Avós - É hoje!*


Por proposta da deputada Ana Manso (PSD) o dia 26 de Julho foi instituído como Dia Nacional dos Avós, pela Resolução da Assembleia da República nº 50 de 2003.

A data foi escolhida por se tratar (segundo o calendário litúrgico católico), do dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus.

É hora de relembrar a importância do papel dos avós na construção e evolução da sociedade. A avós e netos, um dia recheado de afectos!


*Porque não há dia em que o Sitemeter não me mostre uma meia dúzia de page views deste espaço devidas a este post.

segunda-feira, julho 14, 2008

Fui.

Brusselles. Amanhã.
Leuven. Depois.
Amsterdam. Depois do depois.

Até Agosto!

sexta-feira, julho 11, 2008

C’est parti!


Um dos meus inúmeros grandes problemas é pensar demasiado. Outro, é nunca viver o hoje. Ou vivê-lo a planear o amanhã. Ora em ambos penso em vez de fazer. Penso com a mesma facilidade, e necessidade, com que respiro. Mas ao pensar, complico. Ao complicar, não faço. Pelo meio ainda tenho o medo do escuro, de tudo o que existe que não conheço, e a mania do controlo, de nunca perder o pé na piscina dos dias.

Há tempos esta menina dizia-me que “passo o tempo a desejar ser...” e isso é tão verdade que me tem acompanhado interiormente todos os dias desde então. Levanto-me com isso no pensamento, tomo o pequeno-almoço com isso no pensamento, passo as pausas do dia... com isso no pensamento. Traço estratégias, faço planos, estabeleço prioridades, ordeno as tarefas que vou fazer, agora é que é, e, chegada a hora de cumprir, arranjo maneira de adiar tudo para o dia seguinte. Pensar faz mal. Especialmente ao fazer.

Ontem fui com a Ana Arqueiro lanchar, o nosso lanche ajantarado das quintas, à hora do costume, no sítio do costume. Estava frio ao fim do dia. E por isso tomámos chá. Peço cidreira, mas no momento em que pronuncio c-i-d-r-e-i-r-a, a palavra enfastia-me, sempre a mesma, sempre o mesmo, cidreira cidreia cidreia, tília tília tília, camomila camomila camomila, cidreira cidreira cidreira, chega, não quero, já não me apetece aquele sabor, enjoei-o até ao nome, e então pergunto à senhora do café que chás tem. Diz: todos, cidreira, tília, camomila, andaluzia, preto. Todos. Os do costume, todos, andaluzia não conheço, não conheço não quero, fico-me pela cidreira. “Então cidreira, sim?” Sim. A senhora olha para a Ana. “Andaluzia é o quê?” “Laranja. E lima...” “Então, quero esse.” Eu olho para a Ana. Com o “desejar ser” da Rosário no pensamento. “É incrível como as pessoas podem ser diferentes. Gostava de ser assim como tu.” E gostava mesmo.

C' est parti! Acabei de fazer uma coisa, abrir uma janela, vá, que, independentemente da luz, do sol, que entrar, vai mudar a minha vida para sempre. Já mudou.

O desconhecido sabe bem; sabe a sol e a saudade, sabe a chuva nos cabelos e na língua, sabe a versos e a conversas de circunstância, e sabe, saberá sempre, a partir de hoje, a andaluzia.

quinta-feira, julho 10, 2008

She writes down my heart ...


Em cada hora que passa há horas que se esgotam sem corda a dar corda ao tempo. Cada hora cada inferno a abrir a porta de casa para as labaredas de uma saudade quase inexplicável. Dentro da casa não há cama de ferro mas a ela ato-me com os pulsos tensos da tua partida. Nunca dobrámos lençóis de mar, mas escrevemos muitas vezes mar na cabeceira junto ao espelho da manhã. Cada hora eu rodo num ou noutro dos teus dois ombros num desequilíbrio de filme russo. Sento-me no teu colo, peço que me contes do que sabes e do que virás a saber, que sublinhes as linhas dos pés só para começarmos por algum lado um pouco lógico. E vais ficar aqui assim? Há um lugar escavado nas horas. Um lugar que remonta a outros séculos ainda que o calendário cá de casa avance para a frente. É o que dizem, pelo menos é o que dizem. Eu socorro-me da tesoura e faço a janela no rodapé. Deito-me no chão com aquele vestido da feira e olho. Olho muito. O meu rosto tem essa tradição. Para lá consigo aperceber-me do caminho dos correios, dos papéis pardos numa correria sangrenta e, de quando em vez, a pararem para verem o sol pôr. Consigo sorrir. Cada hora é também uma janela com muitas janelas. Uma construção infinita que em fantasia apenas argumento. É hora de me entender no chão com a janela à superfície do poema. Tenho um corpo irregular e é dele que nasce a certeza da flor que seguro na mão como um tempo de fábula. De novo estou no teu colo a pensar sobre como te hei-de dizer o amor.

FESTIVAL MÚSICA PORTUGUESA, HOJE - ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA

Não resisti, a fotografia está tão bonita!...
Coisas de irmã babada... Ela não vai gostar... Mas PUBLICIDADE é preciso!


CCB - GRANDE AUDITÓRIO - PREÇO 5€ - 13 Julho 2008 - 21:30 (este Domingo)

PEDRO CARNEIRO direcção
EMMANUEL NUNES
Purlieu
JOÃO DOMINGOS BONTEMPO
2.ª Sinfonia
Juntar uma obra dos anos 70 como Purlieu de Emmanuel Nunes,
o compositor mais radicalmente alinhado com os princípios do pós-serialismo
de Darmstadt,
com a Segunda Sinfonia de Bontempo, o reformador liberal
e compositor classizante do início do Século XIX,
constitui o desafio que a OCP lança ao público para desfrutar de dois universos muito diferentes.

terça-feira, julho 08, 2008

Os meus poetas - 4

Temos uma amiga em comum, a Ana Arqueiro, outra grande, grande, poeta.
"Estivémos juntas numa conversa-tertúlia do Pedro em Braga." - assegurou-me na quinta-feira em que nos reencontrámos no Porto; e eu, embaraçada, bem, talvez..., eu não me lembrava, mas ela tinha a certeza, lembrava-se do meu rosto, e mais: do meu nome. Conquistou-me nessa hora.
Encontramo-nos algumas vezes na Biblioteca. E novamente, o meu nome e a minha incapacidade em continuar omitir a existência deste espaço...
(Conquistou-me como deve conquistar toda a gente: é impossível resistir-lhe, tem um encanto tão genuíno e total que desarma, é isso, ela é desarmante, absolutamente desarmante de tão encantadora.) Depois dessa quinta-feira, falei com a nossa Ana Arqueiro que me deu a descobrir o livro e o blog. Disse-lho na Biblioteca uma outra vez, na vez em que prometi dar-lhe enfim este endereço. Não lhe disse, nem mesmo quando me escreveu "ganhaste uma leitora e uma amiga", o que se segue:
Cerca de doze anos mais tarde, dei por mim a fazer com o livro dela o que fazia com os do Eugénio de Andrade no Secundário e com os do José Rui Teixeira depois da Faculdade, depois dos EUA; sempre à mão, sempre dentro da mala, para aquele intervalinho entre uma aula e outra, entre um autocarro e outro, entre o metro e o comboio, entre o fim do café e o regresso à minha base de dados...
E visito-lhe o blog, quase todos os dias, e fico uma eternidade a escrutinar-lhe os poemas, mirando cada palavra, pesando cada imagem, e dou comigo a fechar os olhos e a pensar em como é possível ser-se e escrever-se assim:


HORTELÃ

Ela tinha o cheiro das hortelãs ao sol e cabelos tão bem penteados que pareciam quase não existirem. O vento cobria-a de tal forma, que ela parecia voar ali mesmo, à frente de todos se não fossem os seus cinquenta quilos. Ao falar-lhe víamos que os argumentos daquele menina não tinham qualquer lógica, só açúcar. Mas era impossível resistir-lhe ao encanto, mesmo que dissesse só baboseiras. Até que um dia arrancou o próprio coração com as mãos e deixou-o a dormir num ninho de cegonhas. E nisto, o coração iluminou-se tanto que se incendiou.


THE STARS ARE VERY FAR NOW AND YOU ARE VERY FAR NOW

Fumei pelas ruas com as pontas dos dedos queimados. Quem me visse com sabrinas vermelhas e a fumar não me reconheceria. Alguém passou. "A sua alma ainda é do tempo em que esta rua era duas ruas?" Passou. As minhas pernas sugeriam um compasso ligeiro. Destoante. "A minha alma não é do tempo". Devia ser das sabrinas. Uma putrescência mole tomou-me de assalto. Sentei-me num dos bancos verdes, os meus pés não tocavam no chão. Baloiçavam-se. Duas folhas de papel. As sabrinas descaíram até às pontas dos pés. As meias escorregaram. A minha pele em evidência. Do joelho para baixo, as minhas pernas aparentavam-se com duas línguas espessas. Lambiam o vento. Era doce. Sentada no banco, eu quis ser a tua fotografia. Sentada no banco, meio-dia. Foi dia, noite, madrugada nesse meio do dia. Comeste-me o tempo. Por instantes fui uma fotografia. Um coração revelado numa câmara escura. A tua distância, uma lâmpada vermelha. Os meus dentes rangiam como máquinas de triturar. E nisto, levantei-me, milimetricamente. Abri a boca e saiu de lá um poema. Um poema teu que foi um beijo na testa. A minha testa de ouro e neve e neve de ouro e neve. Sempre aprendi que os poemas são cancros luminosos, alastram-se pelo corpo.
Um poema teu e o meu corpo é poema.
As árvores começam a crescer, a crescer, de tal forma que já não podia ver se continuavam a crescer ou se não. Afinal, era só mais um dos meus nervos quebrados. Esta minha grande capacidade de morrer com as árvores. As minhas mãos com buracos. E nisto, tinha acabado de me levantar. Como disse. As minhas pernas voltaram a ser pernas. Segui. "Nunca ninguém te ensinou a andar." Voltei a cara e ninguém. As paredes do estômago cheias de fumo. O estômago dorido desta fome de astros em cada pedaço de ti.

Anáfora, Ana Salomé

segunda-feira, julho 07, 2008

Teerão: tâmaras, cajus e um sorriso


Farshchian Mahmoud

Andei nestes últimos dias ler o Menino de Cabul. Andei nestes últimos dias a saltar do Afeganistão do livro para o Irão que me foi dado a conhecer pela primeira vez o ano passado. Ando com a minha amiga Fatumeh a saltar-me do coração para a boca, do coração para a cabeça, ao lembrar-me das coisas que me dizia, da maneira como sabia dizer as coisas nas nossas viagens de regresso a Leuven. Do Dear Joana que me dirige a cada e-mail. Do You are Always in my Prayers a cada despedida electrónica. Da maneira como sabe dizer as coisas. São especiais as pessoas com fé. Brilham quando falam e ficam connosco mesmo quando vão.

A Fatumeh, os seus olhos, crescia quando me falava da sua Teerão das tâmaras e dos cajus, e dos irmãos, e dos pais, e das saudades que, dizia, apressariam o seu regresso para casa nesse Verão. Conhecemo-nos em Leuven o ano passado, de uma maneira estranha, irónica: conhecemo-nos como se desde sempre nos tivéssemos conhecido. E nunca me apercebi disso até o B. mo ter apontado: “A Fatumeh gosta de ti.” “Sim, damo-nos bem, eu também gosto muito dela.” “Não. Ela gosta mesmo de ti. Ela cumprimenta toda a gente com um olá, já reparaste, não tem mal, é a cultura, mas a mim, só a mim me aperta a mão. A mim... e a ti.” Não tinha reparado. O curso de verão que frequentava tornara-se mais intenso do que estava à espera e estava a trabalhar muito para poder acompanhar. Na primeira semana ela foi minha companheira de carteira e de lanche e de viagem de regresso ao centro. Tínhamo-nos inscrito nas mesmas cadeiras. Na segunda não se inscreveu, tinha que ultimar uma série de trabalhos para poder regressar a casa no fim desse Verão. O B. tinha razão. Sabendo que não nos encontraríamos na segunda semana, mandou-me um mail a marcar um encontro de despedida no seu gabinete. Fui. No último dia dessa segunda semana, atrasada e carregada de fotocópias e preocupações de última hora com o regresso, fui, cheia desses pequenos nadas que me pesavam nos ombros e no coração sem motivo. Recebeu-me com um abraço – se o B. soubesse... – e tinha um chá pronto para nós. E falámos e riu-se – tem um riso tão encantador, profundo, sincero – e mostrou-me fotografias suas, sem o véu. Foi aí que percebi realmente, foi nesse momento que o tempo parou, tudo parou, e me lembrei de cada uma das palavras do B. Fiquei a olhar aquelas fotografias sem saber o que dizer. Acabei por balbuciar atabalhoadamente uma série de banalidades, como eram bonitos os seus longos cabelos, de princesa, como parecia mais nova sem véu, como era tão... E ela sorriu e “I have a little something for you” e passou-me para as mãos um envelope. Dentro, um postal com uma gravura árabe, famosíssima, contou-me quando se apercebeu do meu extâse ante tanta beleza, um postal com palavras que recordo de um outro postal, de uma outra amiga, de uma outra partida, dos EUA. Despedimo-nos, “Three kisses, like at home.”, assenti, “... like at home”, repeti. E abracei-a e demorei-me, mais do que devia, no abraço que lhe dei, dizendo-me tudo o que lhe queria dizer. Leuven e a Bélgica em geral sou eu e a Fatumeh a conversar alegremente enquanto apontamos para um moinho ou contamos as papoilas à berma da estrada.

Muitas vezes, a uma qualquer hora do dia, tenho muitas saudades dela – é quando lhe mando um e-mail a perguntar-lhe como vai, se já terminou a tese... Como agora...

Porque para a semana vou para a Bélgica. A trabalho: conferência, congresso internacional de quatro dias. E vou estar com o B. E vamos falar dela, sei. E a minha Bélgica vai ser outra. Ou não.

sexta-feira, julho 04, 2008



Pinte primeiro uma gaiola

com a porta aberta.

Em seguida pinte

alguma coisa graciosa,

alguma coisa simples,

alguma coisa bonita,

alguma coisa útil...

ao pássaro.

Depois, coloque a tela contra uma árvore

no jardim,

no bosque

ou na floresta

e esconda-se

atrás da árvore

sem dizer nada, sem se mexer.

Às vezes o pássaro chega logo,

mas pode levar muitos, muitos anos

até se resolver.

Não desanime,

espere.

Espere, se preciso, durante anos.

A velocidade ou a lentidão da chegada

do pássaro, não tem a menor relação

com a qualidade da pintura.

Quando ele chegar

(se chegar)

mantenha o mais profundo silêncio,

espere que ele entre na gaiola.

Depois que entrar,

feche lentamente a porta com o pincel.

Aí então

apague uma por uma todas as varetas.

(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena

do pássaro.)

Finalmente pinte a árvore,

reservando o mais belo de seus ramos

ao pássaro.

Pinte também a verde folhagem e a doçura do

vento,

a poeira do sol,

o rumorejo dos bichinhos da relva no calor da

estação.

Depois aguarde que o pássaro se decida a

cantar.

Se ele não cantar,

mau sinal:

sinal de que o quadro não presta.

Mas bom sinal, se ele canta:

sinal de que você pode assinar o quadro.

Então retire suavemente

uma pena do pássaro

e escreva o seu nome a um canto do quadro.


Jacques Prévert