É aquela. Baixinho, cotovelo no cotovelo, olhando de lado, disseram-me assim. E eu olhei. Aquela. Aquela era linda: pele clara, cabelos claros, olhos claros - imagino que a Beatriz do Dante fosse mais ou menos aquela. Era linda. Emanava a fragilidade e a doçura e o encanto e... e... e... que as meninas bonitas têm sempre, têm naturalmente, têm. Era linda. Frágil, misteriosa, grácil - tempos houve em que a isso se chamava o doce gesto. Lin-da. Linda, mesmo. E antes da universal mesquinhez feminina se me pôr à frente e grunhir o pois claro, só podia, esperado e pequeno, quase natural, vi aquela sorrir.
E então disse: É muito bonita.
O que até podia ser uma outra maneira de grunhir, mais cobarde, para dentro, sozinha. Mas não era, não foi. Havia simpatia naquele muito. Muita simpatia minha naquele muito.
Porque olhei no momento exacto em que sorria espontaneamente, dei com o sorriso a desenhar-lhe uma série de rugas na pálpebra esquerda. Quatro. Quatro rugas a subir do fim do olho pálpebra acima. Quatro rugas marcadíssimas, ali, exactamente no mesmo sítio, mas mais marcadas, muito mais marcadas que as minhas, muito mais marcadas que todas as outras suas, também. Quatro, ali. Quatro, como eu. Quatro. Foi quando disse: É muito bonita. E pontuei a avaliação com um sorriso final. (Um daqueles que uso para fugir a dizer o que penso.)
Sorri. Não disse o que pensei. Porque o que pensei foi: Ora ali está alguém que já adormeceu muitas noites a chorar. E isso é coisa que não se diz assim.
E então disse: É muito bonita.
O que até podia ser uma outra maneira de grunhir, mais cobarde, para dentro, sozinha. Mas não era, não foi. Havia simpatia naquele muito. Muita simpatia minha naquele muito.
Porque olhei no momento exacto em que sorria espontaneamente, dei com o sorriso a desenhar-lhe uma série de rugas na pálpebra esquerda. Quatro. Quatro rugas a subir do fim do olho pálpebra acima. Quatro rugas marcadíssimas, ali, exactamente no mesmo sítio, mas mais marcadas, muito mais marcadas que as minhas, muito mais marcadas que todas as outras suas, também. Quatro, ali. Quatro, como eu. Quatro. Foi quando disse: É muito bonita. E pontuei a avaliação com um sorriso final. (Um daqueles que uso para fugir a dizer o que penso.)
Sorri. Não disse o que pensei. Porque o que pensei foi: Ora ali está alguém que já adormeceu muitas noites a chorar. E isso é coisa que não se diz assim.
3 comentários:
O Poeta é assim... eterno fingidor!Despedaçando corações, olhando o belo, sonhando com a sua musa, pesquisando a alma e quando o imaginam distraído, errante, está a construir poemas, eternamente apaixonado. E pensei num poema dedicado a Gala e Dali... Quando Gala faleceu, Dali não encontrou mais motivo para viver, não encontrou mais inspiração divina para as suas obras!
Carlos,
Agora fez-me pensar no livro que estou a ler: Diego & Frida do Clézio.
Quando o Diego desapareceu da vida da Frida, ela... enfim... também. Até me parece pior... quando nos desaparecem em vida, não?
(Ah, neste caso, parece-me, apesar de tudo, que a amada é que terá despedaçado o Poeta...)
Jinhos.
A propósito! Lembrei-me de John e Julieta, um caso verdadeiro da minha infância, e as voltas das juras eternas...
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