Acordo comigo a dizer Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante. Repito muito isto, é a repetição que me acorda. Penso numa data de coisas, com sentido mas sem importância, e quando dou por mim: regressos. Outra vez.
Acordo comigo a dizer Era melhor teres vindo à mesma hora. Por exemplo, se vieres às quatro horas, às três, já eu começo a estar feliz... fico a conhecer o preço da felicidade! Isto não repito. Isto chega para ficar acordada a pensar. E não é na crise. Preços. O preço. As melhores coisas da vida não têm preço: regressos. Outra e outra vez.
Só conhecemos o que cativamos. Repito muito isto também. Conhecer é um problema, com o conhecimento vem a responsabilidade, com a responsabilidade a ética, com a ética a incompreensão, com a incompreensão: regressos. Vezes sem conta.
Li O Principezinho pela primeira vez aos onze anos, era preciso, para Português, reli-o dez anos depois em Paris, porque sempre que saía das aulas aquela capa colocava-se à frente de todos os lápis e afias e borrachas do principezinho, à frente de todas as malas e mochilas e troleys do principezinho, à frente de todos os posters, postais e molduras do principezinho, todos os fins de tarde aquela capa entrava-me a doer pelos olhos dentro desde aquela montra enorme em frente ao Institut d’Études Ibériques, por detrás do Panteão. (E eu precisava muito de colo.)
De tanto pensar: chegamos a todos os lugares, mas regressamos aos lugares que são nossos. Não aos que nos deram, não aos que fizemos nossos, não aos que, achamos, nos pertencem, não: regressamos aos que são. Nossos e pessoas. Os lugares são pessoas. As pessoas fazem os lugares e os regressos estão sempre guardados, e certos, muito certos, aos lugares que são, sabemos, nossos, muito nossos, desde o início, desde antes, muito, muito antes, de lá termos chegado. Não vale a pena querer. Querer mesmo, querer muito, muito, muito, muito, muito, não, não vale. O importante é crer. Crer só.
Regressei hoje.
De manhã, deram-me uma joaninha e colo, muito colo, um colo bom, aquele colo que se dá a quem tem vinte e sete anos e, mal de profissão, pensa, problematiza, questiona, hipotetiza, demasiado.
Ao almoço, nem de propósito, abanaram-me da maneira mais doce possível, perdi o apetite, mas ganhei-me, e tão completamente quanto se pode, pela amizade, pela esperança, pela verdade. Ganhei-me. E roubei daqui este título.
A esperança. Há um autocarro cujo número não recordo mas que me levou muitas vezes da Foz à Ribeira num Verão antigo ao fim da tarde. Nesse Verão, como em todos, o fim da tarde da Foz à Ribeira era rosa, um rosa-rosa, o rosa mais suave, mais doce e mais bonito que o azul do mar onde ele toca e acaba pode espelhar. Nesses fins de tarde era o rosa da esperança.
Regressei hoje. E agora, promessa feliz à espera, tenho de ir.
5 comentários:
é tão bom ter-te regressada, assim, joana. *
(saudades)
Gostei...
Desde aquele telefonema na passagem de ano que consolidei mais uma certeza de"promessa feliz"... Sempre vai havendo algumas,graças a Deus!E assim é bom sabê-la de volta. ...« minha velha ama que me estás escutando, canta-me cantigas para me embalar».Lembra-se? A diferença é que este tinha partido«há anos« e «chorando». Feliz,feliz regresso!
Querida Maria de Lourdes,
Sim! :)))))))))))))))))))))))))))
Jinhos.
É sempre bom quando alguém ou algo bom nos espera. :)
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