Acordei às cinco e meia da manhã, antes do despertador que tinha posto para daí a nada que hoje ia a Braga, acordei às cinco e meia da manhã com o dilúvio a bater-me na janela e o fim do mundo prestes, que quem acorda assim, de repente, não tem como pensar com lógica. Cinco e meia é muito boa hora para começar a trabalhar, mesmo não indo a Braga, mesmo ficando por casa, mesmo o escritório sendo mais frio e mais distante, tão longe!, do que o quarto. Cinco e meia é muito boa hora, sim, mas não quando chove. Quando chove o sono, o quentinho vá!, sempre vence toda e qualquer boa iniciativa.
E foi assim que preguicei duas horas e meia. Comecei portanto à hora do costume, e por cá - da maneira de sempre. No Facebook, proliferam músicas de chuva, todas bem bonitas por sinal, algumas, antigas, não ouvia há muito. Todas bonitas e leves, alegres, quase alegres, quase todas. Fico a pensar onde fomos então buscar o nexo entre o Outono, o Inverno, a chuva, e a melancolia. Mas deve ter qualquer coisa a ver com a ausência do sol, claro. Que o sol pode ser muita coisa, menos distante de nós, menos celestial - ou celestial um enquanto, e ter mãos e olhos e uma vida e momentos que foram nossos também, e a ausência, uma forma de perda, a maneira bonita, resolvida, de ver a perda no depois, de sobrevivê-la.
Não gosto de chuva. Encaracola-se-me o cabelo e a compreensão, a tolerância, para os embates de guarda-chuvas alheios, as poças de água imprevistas e os artistas abstraccionistas de carro. Chuva só debaixo de um guarda-chuva transparente que não tenho, que hei-de ter um dia destes, com mecanismo anti-embate, anti-poças, anti-condutores artistas.
Para resolver a ausência de sol:
Bolinhos de Chuva
Ingredientes:
3 chávenas de chá de farinha de trigo
3 ovos (inteiros)
4 ou 5 colheres de sopa de açúcar
1 pitada de sal
1 colher de fermento Royal
1/2 chávena de leite
Preparação:
Bater bem os ovos, por o açúcar, o leite, o sal, misturar muito bem a farinha de trigo e por último colocar o fermento.
Para fritar, faça pequenos bolinhos (o equivalente de 1/2 colher de sopa da respectiva massa, frite no fogo baixo.
Polvilhe com canela e açúcar.
De origem portuguesa, os bolinhos de chuva são feitos tradicionalmente de farinha de trigo, ovos, leite e fermento, fritos em óleo quente, e polvilhados com canela e açúcar. Acompanham no Brasil um cafezinho, por cá o que se quiser. É uma espécie de filhós - de malassada se se for madeirense. O bolinho nem sempre foi de chuva. Quem realmente acrescentou a chuva aos bolinhos foi Monteiro Lobato, quando descreveu as habilidades de Tia Anastácia - quem comia uma vez os seus bolinhos de polvilho não podia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras - na confecção destes bolinhos, que transformou no seu passaporte de fuga do Labirinto.
4 comentários:
:P Não sabes que eu e o meu periquito decidimos... não é bem fazer dieta é mais um exercício de contenção. Nham, nham, vou já fazê-los este fim de semana, uma vez que a chuva vai continuar... ;)
Jinhos!
Marisa,
Mas os periquitos comem tão pouco! (Eu pelo menos não vos vejo redondos!...) Para o fim de semana é bem! :))))
Jinhos.
P.S. Podes fazer com corninhos, e afins, para o António! (Escorres da colher em fios, era o que a minha mãe fazia para nós aqui há tempos... Ehe!)
Adorei, adorei a dos condutores abstraccionistas. Só não é lá muito bom quando a tela são as nossas calças, as nossas botas e afins... O problema, o eterno problema, é que não há guarda-chuva no mundo que pare isso! :)
(e estes bolinhos têm um aspecto tão apetecível... ;)
Frida,
Exactamente: nós não somos tela digna... ;)
Por acaso a fotografia está muito bem, afinal são umas minis bolas de berlim sem creme...
Baci mille, bella!
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