quarta-feira, dezembro 06, 2006

Educação para a Ética

Esta semana tenho evitado duas coisas: o Messenger e escrever aqui. Duas coisas maravilhosas mas que me tiram tempo e energia. Optei, pois, por canalizar a escrita quase exclusivamente para os papers que tenho de entregar até sexta, it's that time of the semester... Claro que também me canso e preciso de umas quantas pausas kit-kat. Nessa altura venho para cá - o Messenger está fora de questão, auto-bloqueei-me, a não ser que desponte a World War III na minha casa, bem nas minhas casas (a dos pais e a dos siblings), e reajo aos vossos comments (fantásticos, que eu não mereço, blá, blá, blá, enfim...) e passo no cantinho de meia-duzia-mais-dois blogamigos e leio posts e reajo novamente. Muitas vezes, no preciso momento em que acabo de carregar no PUBLISH, digo para mim mesma: "Não devias ter feito isso, então o rapaz escreve bem, e depois, não há por que agora o aborrecer com paralelismos e intertextualidades (Di, you're awesome!), então não conheces a rapariga de lado nenhum e vais agora consolá-la (Amarga, you're in my heart!), então o senhor tem com certeza mais do dobro da tua idade e vais lhe dizer como é que gostas de o ler (Erecteu, your writing is great, admire you deeply!), então a senhora podia ser tua avó e vais pedir-lhe manias (Maria de Lourdes, still waiting!)... A blogosfera tem destas coisas, cria laços, une as pessoas. (E eu também sou um pouco totó, admito.)
Então, há pouco, lia a preocupacão da Amarga em constarem valiosas peças dos Descobrimentos portugueses numa exposição em Washington. A Amarga recordava as peças desaparecidas de uma iniciativa semelhante na Holanda e esperava que a American National Security fosse comme il faut: eficiente. Veio-me de imediato à memoria o sorriso cínico que selou o incidente num encontro diplomatico ocorrido nos anos oitenta entre Ramalho Eanes e a actual rainha de Inglaterra. O sorriso, que imagino elaborado, de quem sabe que está a morder a dignidade de um país pequenino, desprovido e depauperado, quando serve o jantar num dos muitos serviços de porcelana portuguesa, da Casa das Indias, saqueados pelos militares ao serviço de sua Majestade aquando do Ultimato... Acabei por fazer no blog da Amarga o que venho fazendo de alguns tempos a esta parte muito. Muitíssimo. Acabei por, uma vez mais, defender os Americanos. (Imediatamente: Que eu saiba, extravios de peças, só no velho continente... - cleptomania europeia?)
Deixarei de me conter e portanto aqui vai my "pro-american" contribution: Os meus amigos não querem que eu "perca tempo", their words, a falar com os meus colegas americanos. (Mas sonham conhecer NY...) Segundo eles uns boçais de quinta, no Texas então de botas, chapéu de cowboy e colete - com estrelinha de sheriff (alguns... por acaso...) , their words, com a mania que mandam, their words. (Não são boçais, e não é mania: mandam MESMO!)
Um dos german Chrises, o da cultura enciclopédica, dizia-me há dias que só na presidência do Bill Clinton é que a Europa foi menos anti-EUA. Verdade verdadinha. Nunca tinha pensado nisso, mas confere. Este actual entao é abominavel, a maquina de Estado dele também, as ideias (se as tem) e os princípios (esses tem, já explico) também. A Oprah Winfrey, o Dr. Phil, o Conan O'Brien, a Britney Spears, a Paris Hilton, a Pamela Anderson... TAMBÉM. O 'Borat' esta aí para o comprovar.
Mas este país é enorme!!! Só de pensar que no centro de Houston, quarta cidade dos EUA, vivem cinco milhões de pessoas - metade da população portuguesa!... Aqui também o 'Borat' foi um êxito de bilheteira - considero a capacidade de alguém se rir de si próprio profundamente admirável -, aqui também as pessoas se manifestam contra a guerra no Iraque. Aqui ainda as pessoas não se conformam com a eleição presidencial, primeira, surpreendente, injusta, impensável, forjada - saberá alguém na Europa que aqui ninguém é eleito por sufrágio directo? Sabera alguém que detêm sempre a palavra final os representantes das duas câmaras, com os bolsos mais ou menos forrados a verdinhas, contratos e promessas?... Dependendo da honestidade do candidato, obviamente. E manifestam-se contra o Presidente. Só assim se percebe que um professor explique o modo irrealis com o exemplo da eleição presidencial, só assim se entende o primeiro slide do nosso colloquium da semana passada, acerca da evolução das línguas: esquema da evolução da espécie à Darwin - amibas, seres aquáticos, blá, blá, blá, símio, G.W. Bush!
Não é por viver cá que os defendo. Defendo por começar a perceber como funcionam. Gostam de se intrometer no país dos outros, é verdade, mas só porque na cabeça deles isso é um bem, um passo em frente em termos de Direitos Humanos, um favor que prestam à Humanidade... (São estes os princípios a que aludia acima, o actual pode não ter ideias, mas texano como é, princípios tem de certeza e são nobres, pena é que deles se sirva para realizar vinganças pessoais e honrar os compromissos havidos com aqueles que lhe custearam a eleição...)
Mostra-me o quotidiano que os Americanos em geral têm um código ético instituído muito rigoroso (pode ser difícil de perceber quando se sabe das atrocidades que militares praticaram ou praticam em países que em rigor invadiram) mas considero-as excepções, há muita gente e a grande maioria tem princípios e é muito coerente com eles.
O exemplo prático que dei à Amarga é o do Honor Code. Na Universidade, nesta e na grande maioria das outras, os exames do fim do semestre são "take-home exams". Isto quer dizer que não se enchem os anfiteatros com centenas de alunos e um ou dois professores que, ou marcam X e Y e não o largam por um momento nas duas horas do exame, ou pura e simplesmente assobiam para o lado... (Alguem reconhece o filme?) Isto quer dizer que o aluno vai para casa, faz o download do exame no site da cadeira correspondente e compromete-se a realizar o dito em duas horas - SEM recorrer a qualquer tipo de consulta.
No exame há uma notinha a lembrá-lo disso mesmo e do Código de Honra da Universidade - toda a universidade tem um - que assinou ao vir para cá, do Julgamento Académico e das penas em que pode incorrer caso o professor note que houve consulta: reprovação da cadeira, expulsão definitiva da Universidade, e do Ensino Superior por um ano.
Educação para a Ética, não é excelente? (Impossível em Portugal, mas excelente!!!)
Não tenho conhecimento de nenhum americano infractor, mas sei de muitos europeus e até aqui há uns anos-luz de um "artista" português... Shame on him! Shame on me. Shame on us. O que se faz fora do nosso país, não põe a nossa reputação em causa, apenas, põe em causa todo um povo!
Mesmo sem subsídios para as Artes, somos um país de artistas, não? De artistas com pouca auto-estima. Tão pouca, que nos deixamos roubar!
Isto faz-me sempre lembrar um professor que tive na Faculdade, que passava o tempo todo do exame a assoar-se voltado para o quadro. Aliciante, não?! Eramos 60 alunos. Dois: eu e a minha melhor amiga, não copiavam! Ou consultavam "auxiliares". E o crime compensa: a melhor nota tinha sempre um anormalóide que tinha o desplante de levar e "consultar" uma capa de arquivo!!! Isso também me recorda dos pais das minhas colegas, empresários por conta própria, que faziam uns "trinta e uns" para as meninas terem direito a bolsa de estudo, ou melhor, às bolsas de estudo mais elevadas. Ante o "assoar voltado para o quadro" constante do pessoal dos Serviços Académicos, que só cura a constipação mediante denúncia, anónima ou não. Isso leva-me ainda a pensar que se os senhores fazem isso com os Serviços de Acção Social do Ensino Superior, igual postura terão, pobrezitos, para com a Direccão Geral de Impostos. Que volta e meia se constipa. Que volta e meia se cura. (...) Isso leva-me a pensar no agradecimento, demasiado efusivo, do senhor que vê a minha irmã correr na direcção dele apenas para lhe dar o croissant, por que ele pagou efectivamente, mas que só desencravou da máquina quando ela comprou o dela. Isto leva-me a pensar que educar para a ética é urgente e necessário, no nosso país e na Europa, mas porventura impossível, dada a tradição e o tão filosófico e enraizado livre arbítrio alemão, em tradução portuguesa livre: o tá-quieto, deixa-andar, os quais favorecem imediatamente o luso "desenrasque". Os Americanos não são poços de virtude. Muitos serão, muito não. São é TODOS sujeitos a muito controlo. Aqui, controla-se o número de cliques, os websites visitados, o tempo gasto na net, o tempo gasto ao computador, as fotocópias feitas, as impressões, a média de livros requisitados por semana... Condutor que excede o limite de velocidade - que câmaras e carros de polícia real e totalmente ocultos detectam - paga multa, fica seis meses sem carta, se for a primeira vez, e é obrigado a frequentar um curso de condução defensiva, se reincidir, ou seja, à segunda, fica sem carta. Mesmo. Podia continuar, mas não vou. Acho que é o suficiente para se perceber que as peças que estão em Washington devem ser restituídas ao rightful owner após a exposição.
Não quero com isto dizer que são melhores que nós. Quero dizer que nos fazia muito bem um maior controlo, umas quantas chamadas a prestar contas e uns quantos princípios à americana, tal como fazia bem aos Americanos um bocadinho do complexo existencial português que diz sim senhor a tudo e pede, antes de mais, verbalmente ou em linguagem corporal, sempre claramente, imensas desculpas... por existir e ser "assim". (A lusa mania do "desenrasque" não recomendo a ninguém).
Quanto ao meu Professor, que por acaso se reformou quando acabei o curso, que por acaso também, ou talvez não, substitui na leccionação da cadeira X na Faculdade, ficou com a reputação de trinta anos de "exames de consulta", em regime de exclusividade.
"Pois é, meus amigos, estão a ver do Dr. Y: homem, padre, careca, roupa pouco lavada e variada, 1,55 ms de altura?" "Ok, e estão a ver-me a mim? Alguma semelhança? ... Bem me parecia."

2 comentários:

Joana disse...

Fabuloso? Fabulosa és tu por teres tido a paciência de o ler (e comentar - THANK YOU!).

Jinhos.

P.S. Adicionar-te-ei, claro!

Joana disse...

Sleep Well,

:P

Quanto a isso de NY, em Janeiro falaremos... :)

Jinhos.