Não gosto de chain-letters. Abomino o “Se não mandares isto imediatamente a um zilião de pessoas serás de hoje em diante e para sempre azarada, triste, doente e pobre!” No entanto, a esta corrente não resisto. Assim o determina a natureza da blogosfera, a qual, pelo mistério que um blogname sempre confere, pela distância – geográfica, etária, profissional, ideológica – entre bloguistas, e por outras coisas mais de que me não recordo agora, mas que todos sabem e sentem bem, aguça o voyeur que há em cada um de nós.
“Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do “recrutamento”. Ademais, cada participante deve reproduzir este “regulamento” no seu blogue.”
1. Mania joanina da Pontualidade.
A Pontualidade joanina não é um qualquer chegar a horas. A Pontualidade joanina caracteriza-se pela chegada ao evento sempre dez minutos antes da hora.
Claro que isso gera em mim sempre um stress, uma angústia e uma inquietação incomensuráveis, mas felizmente interiores, não-verbais. “Será que este não é o sítio?” “Será que me enganei no dia?” “Será que mudaram de sítio, ou de dia, e se esqueceram de me avisar?” Depois, à hora marcada, quando uma ou duas pessoas – portugueses extraordinários que chegam bem à horinha – se junta a mim na espera da maioria, atrasada, ensonada e portanto com cafézinho por beber, “Joana, não quer vir também?” o desassossego dá lugar à exasperação novamente interior: “Que falta de consideração! Marca-se às 9.30 para começar às 10.00, por isso é que estamos assim, país de lentos, sonolentos e preguiçosos!... Argh! Note-se ainda que o mesmo acontece quando o evento é um encontro de índole pessoal. “Será que era este o sítio e a hora?” “Será que se esqueceu de mim?” Pior, como sou sempre pontualíssima, nunca deixando ninguém à espera: “Será que isto quer dizer alguma coisa que me está a escapar de momento?” “Ora vejamos…” Escusado será dizer que, quando chega realmente – na generalidade com poucos minutos de atraso da hora efectivamente marcada – já está o caldo entornado!
2. Mania joanina da Segurança.
Pauta-se pela aversão à mudança. Em todos os campos. (Só sosseguei, quando li que o Kant, do mesmo signo que eu, padecia do mesmo: dobrava a esquina todos os dias à mesma hora – as pessoas acertavam o relógio por ele!) Corte de cabelo, cores da roupa, estilo, disposição dos móveis, dos livros, dos lugares na mesa, do material na secretária, da roupa nos armários, escolhas de menu, programas, passeios… imutáveis, ou melhor, dificilmente variáveis. Qualquer alteração da ordem (por mim) estabelecida provoca um apocalipse na minha cabeça e, consequentemente o Apocalipse nos ouvidos de quem vive comigo… Isto não quer dizer, todavia, que me recuse a ir a sítios diferentes e/ou experimentar coisas novas, quer dizer apenas que, das poucas em que o faço, estou inexplicavelmente com o coração nas mãos, pelo que a experiência da novidade fica sempre pela metade, na melhor das hipóteses!
3. Mania joanina do Consumo.
Livros, livros, livros, roupa-malas-sapatos e jóias. Exactamente por esta ordem. Acho que preciso de acompanhamento especializado – o dos amigos e familiares não serve – porque de cada vez que vou à Fnac e/ou à Bertrand não consigo sair nunca de mãos a abanar… In Houston, sem Fnac nem Bertrands, mais do mesmo com a agravante de que os preços praticados pelas inúmeras Borders, Barnes and Nobles e Half Price Books são muito mais atractivos! Roupas-malas-sapatos não me parece tão grave, consigo coibir-me de comprar algumas vezes, mas também dói quando se verifica o saldo dos cartões ao fim do mês, ou, alternativamente, quando alguém, com mais do dobro da nossa idade e estatuto e autoridade parentais, deita uma olhadela ao armário e tem quase uma apoplexia ao contar por alto a quantidade de acessórios de várias cores, tamanhos e feitios, que de lá transbordam. De referir ainda que idêntica sintomatologia apresentam outros alguéns, mais ou menos da minha idade, mas do sexo oposto. A das jóias teve início quando comecei a coleccionar camafeus, desde então extrapolei-a para uma data de outras obras-primas de joalharia (e artesanato urbano) - por que me perco, loucamente...
4. Mania joanina da Maternidade.
A Maternidade joanina é especial porque universal. Abarca tudo, desde os três siblings, por acaso todos mais novos, manas e mano do meu coração; passando inexplicavelmente pelos pais, do meu coração também mas com mais do dobro da minha idade…; pelos alunos das escolinhas e da Faculdade – aqui explica-se melhor, mais claramente no que diz respeito aos primeiros, menos relativamente aos segundos, mas se pensarmos que andei a formar professores que engrossam cada ano as filas dos Centro de Emprego, talvez se perceba melhor; pelos amigos, não se explica, mas confere – e eles não se queixam, bem pelo contrário; e terminando nas pessoas que não conheço, mas de quem gosto, ou pelas quais nutro especial simpatia – franja privilegiada: empregados de mesa – especialmente se situados numa faixa etária inferior à da escolaridade mínima obrigatória (podiam ser meus alunos, pois claro!), se forem estrangeiros (brasileiros, de Leste…– sei bem o que é viver em terra alheia e ser olhado de canto!), se demonstrarem, quase sem querer, conhecimentos que vão para além da actividade (universitários em regime de part-time, licenciados resignados e/ou com alto sentido de pragmatismo…) E então, como resolvo todos os problemas da minha éntourage, family and friends bem entendido – sou muito boa nisso!, acho que tenho por missão resolver os problemas world wide, e tento, muito, muitas vezes, com aquilo que posso – quase sempre palavras – somente, não dá para mais! – às vezes não consigo, claro, mas a maior parte do tempo recebo, pelo menos, um sorriso de volta, o que já não é nada mau!...
5. Mania joanina da Fuga.
Se não fizesse menção a esta mania, chamar-me-ia a minha irmã mais nova logo à atenção… e teria razão, basta contar os posts neste blog alusivos ao Vítor Baía. Meu ídolo da adolescência, blá, blá, blá…
Todos conhecemos pessoas com problemas. Todos somos essas pessoas, porque pura e simplesmente todos temos problemas. Todos arranjamos um escape para fugir aos problemas. Lê-se, ouve-se música, dá-se um passeio, vai-se comer fora ou se come uma caixa de bombons ou uma embalagem de gelado inteirinha, ou não se come pura e simplesmente. Urge o tele-transporte para um mundo, outro, em que nos sintamos realmente bem. Por isso, cumulativamente ou não, erigimos todos, creio eu, bem, eu pelo menos, para nós mesmos, um “santuário do faz-de-conta” em que tudo é perfeito, nós inclusivé, para aquelas horas em que o dia-a-dia se torna pesado, sensabor e monótono. Para aqueles momentos em que sermos nós não chega, em que o destino ou o acaso nos pregam uma partida, em que a desilusão ou o desamparo batem à porta. O sono para o Stéphane (The Science of Sleep), o Hotel Existence para o Tom (Brooklyn Follies), a Malásia para o meu amigo Di, o Vítor Baía dos meus nove, ou dez, ou onze anos para myself… (Como todas as fugas, de Bach pelo menos, a repetição ad eternum do mesmo compasso não pode ser nunca encarada como falta de recursos ou de imaginação, mas evidência, a cada vez, de maior entendimento, de um sopro regenerador!)
Amarga, invejo a graciosidade com que descreveste as tuas manias. Além de nua, sinto-me completamente freak!
“Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do “recrutamento”. Ademais, cada participante deve reproduzir este “regulamento” no seu blogue.”
1. Mania joanina da Pontualidade.
A Pontualidade joanina não é um qualquer chegar a horas. A Pontualidade joanina caracteriza-se pela chegada ao evento sempre dez minutos antes da hora.
Claro que isso gera em mim sempre um stress, uma angústia e uma inquietação incomensuráveis, mas felizmente interiores, não-verbais. “Será que este não é o sítio?” “Será que me enganei no dia?” “Será que mudaram de sítio, ou de dia, e se esqueceram de me avisar?” Depois, à hora marcada, quando uma ou duas pessoas – portugueses extraordinários que chegam bem à horinha – se junta a mim na espera da maioria, atrasada, ensonada e portanto com cafézinho por beber, “Joana, não quer vir também?” o desassossego dá lugar à exasperação novamente interior: “Que falta de consideração! Marca-se às 9.30 para começar às 10.00, por isso é que estamos assim, país de lentos, sonolentos e preguiçosos!... Argh! Note-se ainda que o mesmo acontece quando o evento é um encontro de índole pessoal. “Será que era este o sítio e a hora?” “Será que se esqueceu de mim?” Pior, como sou sempre pontualíssima, nunca deixando ninguém à espera: “Será que isto quer dizer alguma coisa que me está a escapar de momento?” “Ora vejamos…” Escusado será dizer que, quando chega realmente – na generalidade com poucos minutos de atraso da hora efectivamente marcada – já está o caldo entornado!
2. Mania joanina da Segurança.
Pauta-se pela aversão à mudança. Em todos os campos. (Só sosseguei, quando li que o Kant, do mesmo signo que eu, padecia do mesmo: dobrava a esquina todos os dias à mesma hora – as pessoas acertavam o relógio por ele!) Corte de cabelo, cores da roupa, estilo, disposição dos móveis, dos livros, dos lugares na mesa, do material na secretária, da roupa nos armários, escolhas de menu, programas, passeios… imutáveis, ou melhor, dificilmente variáveis. Qualquer alteração da ordem (por mim) estabelecida provoca um apocalipse na minha cabeça e, consequentemente o Apocalipse nos ouvidos de quem vive comigo… Isto não quer dizer, todavia, que me recuse a ir a sítios diferentes e/ou experimentar coisas novas, quer dizer apenas que, das poucas em que o faço, estou inexplicavelmente com o coração nas mãos, pelo que a experiência da novidade fica sempre pela metade, na melhor das hipóteses!
3. Mania joanina do Consumo.
Livros, livros, livros, roupa-malas-sapatos e jóias. Exactamente por esta ordem. Acho que preciso de acompanhamento especializado – o dos amigos e familiares não serve – porque de cada vez que vou à Fnac e/ou à Bertrand não consigo sair nunca de mãos a abanar… In Houston, sem Fnac nem Bertrands, mais do mesmo com a agravante de que os preços praticados pelas inúmeras Borders, Barnes and Nobles e Half Price Books são muito mais atractivos! Roupas-malas-sapatos não me parece tão grave, consigo coibir-me de comprar algumas vezes, mas também dói quando se verifica o saldo dos cartões ao fim do mês, ou, alternativamente, quando alguém, com mais do dobro da nossa idade e estatuto e autoridade parentais, deita uma olhadela ao armário e tem quase uma apoplexia ao contar por alto a quantidade de acessórios de várias cores, tamanhos e feitios, que de lá transbordam. De referir ainda que idêntica sintomatologia apresentam outros alguéns, mais ou menos da minha idade, mas do sexo oposto. A das jóias teve início quando comecei a coleccionar camafeus, desde então extrapolei-a para uma data de outras obras-primas de joalharia (e artesanato urbano) - por que me perco, loucamente...
4. Mania joanina da Maternidade.
A Maternidade joanina é especial porque universal. Abarca tudo, desde os três siblings, por acaso todos mais novos, manas e mano do meu coração; passando inexplicavelmente pelos pais, do meu coração também mas com mais do dobro da minha idade…; pelos alunos das escolinhas e da Faculdade – aqui explica-se melhor, mais claramente no que diz respeito aos primeiros, menos relativamente aos segundos, mas se pensarmos que andei a formar professores que engrossam cada ano as filas dos Centro de Emprego, talvez se perceba melhor; pelos amigos, não se explica, mas confere – e eles não se queixam, bem pelo contrário; e terminando nas pessoas que não conheço, mas de quem gosto, ou pelas quais nutro especial simpatia – franja privilegiada: empregados de mesa – especialmente se situados numa faixa etária inferior à da escolaridade mínima obrigatória (podiam ser meus alunos, pois claro!), se forem estrangeiros (brasileiros, de Leste…– sei bem o que é viver em terra alheia e ser olhado de canto!), se demonstrarem, quase sem querer, conhecimentos que vão para além da actividade (universitários em regime de part-time, licenciados resignados e/ou com alto sentido de pragmatismo…) E então, como resolvo todos os problemas da minha éntourage, family and friends bem entendido – sou muito boa nisso!, acho que tenho por missão resolver os problemas world wide, e tento, muito, muitas vezes, com aquilo que posso – quase sempre palavras – somente, não dá para mais! – às vezes não consigo, claro, mas a maior parte do tempo recebo, pelo menos, um sorriso de volta, o que já não é nada mau!...
5. Mania joanina da Fuga.
Se não fizesse menção a esta mania, chamar-me-ia a minha irmã mais nova logo à atenção… e teria razão, basta contar os posts neste blog alusivos ao Vítor Baía. Meu ídolo da adolescência, blá, blá, blá…
Todos conhecemos pessoas com problemas. Todos somos essas pessoas, porque pura e simplesmente todos temos problemas. Todos arranjamos um escape para fugir aos problemas. Lê-se, ouve-se música, dá-se um passeio, vai-se comer fora ou se come uma caixa de bombons ou uma embalagem de gelado inteirinha, ou não se come pura e simplesmente. Urge o tele-transporte para um mundo, outro, em que nos sintamos realmente bem. Por isso, cumulativamente ou não, erigimos todos, creio eu, bem, eu pelo menos, para nós mesmos, um “santuário do faz-de-conta” em que tudo é perfeito, nós inclusivé, para aquelas horas em que o dia-a-dia se torna pesado, sensabor e monótono. Para aqueles momentos em que sermos nós não chega, em que o destino ou o acaso nos pregam uma partida, em que a desilusão ou o desamparo batem à porta. O sono para o Stéphane (The Science of Sleep), o Hotel Existence para o Tom (Brooklyn Follies), a Malásia para o meu amigo Di, o Vítor Baía dos meus nove, ou dez, ou onze anos para myself… (Como todas as fugas, de Bach pelo menos, a repetição ad eternum do mesmo compasso não pode ser nunca encarada como falta de recursos ou de imaginação, mas evidência, a cada vez, de maior entendimento, de um sopro regenerador!)
Amarga, invejo a graciosidade com que descreveste as tuas manias. Além de nua, sinto-me completamente freak!
Remeto o desafio para os seguintes:
1. Anabela – http://oquefoiqueeudisse.blogspot.com/
2. Maria de Lourdes – http://sineste.blogspot.com/
3. Rui – http://pestanamadeira.blogspot.com/
4. Cemremos – http://cemremos.blogspot.com/
Edu - http://www.prelario.blogspot.com/
5. Cientista - http://testaravida.com/
7 comentários:
ninguém diria que não gostas...
escusado dizer q não li o testamento :-)
Li-o todo... gostei das tuas manias!
M.,
Não gosto, mas...
P.,
Lemo-nos ao mesmo tempo!!!
(E gostei mais das tuas!) :P
Jinhos a ambos.
Cemremos,
Tinha essa impressão, e tentei verificar hoje, mas não consegui todo o dia!
Jinhos.
Venho com este comentário dizer que não foste nada rude, que gostei do desafio e que gostei da "não subtileza" mascarada de sentido de oportunidade. Achei brilhante ;)
Sofro da mesma pontualidade, mesmo quando tento chegar atrasada, que é coisa que ainda não percebi! E sim, livros, livros, livros!
Obrigado pela visita, pelas palavras encorajadoras eem especial pelo reparo á falta de contenção. Reli reformulei mentalmente e estou de acordo, teria ficado muito melhor. O erro só ensina, quando se dá por ele ;)
As manias: Cinco manias virtuosas nas quais me revejo com muita precisão.
1. o telelé resolveu em parte.
2. anarquicamente organizado
3. consumista compulsivo, inventor de pretextos
4. os amigos são para UTILIZAR e não deitar fora
5. 1/2 termo não e um refúgio só nosso dá-nos tempo á reconstrução.
Um beijinho
Cientista,
:P
E.,
Não foi erro, falta de contenção talvez - o que ate entendo, de qualquer forma GOSTEI (e não queria de todo fazer um reparo, mas como era da opinião exactamente oposta à do primeiro comment... não resisti. :)
Jinhos a ambos.
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